O "Expresso" de ontem, dia 23, publicou um texto que, em tudo, é um exemplo de jornalismo falso.
É-o, em primeiro lugar, porque este texto, que tem como assinatura Catarina Maldonado Vasconcelos, é uma cópia, truncada, de outro texto já publicado noutro meio de comunicação, em 15 de Junho de 2023.
O outro jornal (digital) é o "Transcontinental Times", uma publicação com base em Madrid e direccionada para um público espanhol e indiano. Das citações às situações citadas, é tudo igual. A isto costuma chamar-se "plágio".
O "print screen" do "Transcontinental Times" está aqui e o texto pode ser lido, na íntegra, aqui:
https://www.transcontinentaltimes.com/zaluzhny-ukraine-counter-offensive/
Em segundo lugar, o texto do "Expresso" é um exemplo de falso jornalismo porque, fazendo uma referência a "histórias" sobre a actual situação de Zaluzhny, não esclarece o que está em causa (e a que aqui me referi): o general ucraniano teria sido ferido gravemente num ataque russo, tendo sofrido lesões no cérebro. E poderia estar a ser tratado numa clínica especializada estrangeira, talvez na Alemanha.
O mau jornalismo teve sempre a tentação para, ignorando a realidade, fazer de conta que ela não existe. Mas, neste caso, ela existe. E a realidade é a dúvida, mais do que legítima, sobre o que poderá ter acontecido a Zaluzhny.
Aliás, e a propósito, vale a pena citar aqui outro jornal, o "Asia Times", de Hong Kong, onde é publicado um vídeo oficialmente divulgado pelo governo de Kiev onde aparece Zaluzhny... ou alguém por ele, porque há diferenças, e que pode ser visto aqui. Isto, sim, é jornalismo.
*
Actualização (27.06.23)
O director do "Expresso" esclareceu o assunto do seguinte modo:
A maior parte do texto da jornalista Catarina Maldonado Vasconcelos consiste em declarações de especialistas com quem ela falou diretamente e que não surgem no jornal que menciona. Aliás, na redação do Expresso, desconhecíamos a existência desse título mesmo tendo nós editado durante anos o Courrier Internacional.
Há coisas no texto da Catarina que de facto aparecem nos dois textos. E coisas que não são originais dela. Mas essas estão atribuídas, julgo que corretamente, à BBC. Texto esse que é de fácil acesso e que, relevantemente, foi publicado um dia antes do texto do Transcontinental Times. Se calhar esse titulo inspirou-se no que foi publicado na BBC.
Outras coisas que aparecem no texto do Expresso e que não são originais nossos são, contudo, lugares-comuns e dados do domínio público. Por exemplo, que Moscovo contava tomar Kiev em três dias, ou a citação puxada para título no online, de que Zaluzhny "não acende a luz, apaga a escuridão", surgiu no TikTok, popularizou-se na Ucrânia e já foi reproduzida em variadíssimos meios e sites, antes da peça em causa.
Salvo melhor opinião, não encontramos motivos que justifiquem qualquer acusação de plágio, nem sequer de citação não atribuída. Alertámos contudo a jornalista que deve ser mais explícita em atribuir a conversas com o Expresso e as citações que faz das fontes com quem falou diretamente para evitar este tipo de confusões e valorizar o seu trabalho.
Não havendo possibilidade prática de fazer réplica, nem me apetecendo estar a perder tempo com essa impossibilidade, acrescento ao texto enviado pelo director do "Expresso" (cujo gesto digno assinalo, discordando do conteúdo e das conclusões que me transmite) o convite a quem me lê para comparar os dois textos.
Sem comentários:
Enviar um comentário