"Olha, é um cocker!"
O alerta, cheio de boas intenções, chegou-me de pessoa ligada a uma associação de resgate de cães e de gatos, de Caldas da Rainha, a quem eu tinha dito que queria ter mais um cocker. No nosso agregado familiar de duas pessoas já havia dois cães, ou melhor, duas cadelas, uma cocker spaniel inglesa (a mais velha) e uma pastora da Anatólia. Chegara o momento, consensualmente, de alargar a família canina e a opção fora mais um cocker, a nossa raça favorita.
Há um ano, aliás, eu já tinha dado o primeiro passo, contactando uma associação de resgate de cockers e manifestando o meu interesse. Em resposta, a associação enviou-me um questionário completíssimo para eu preencher como adoptante. Depois de passar uma tarde inteira a preenchê-lo, e o mais exaustivamente que era possível, enviei-o à dita associação e... digamos que ainda não tive resposta. Portanto, o interesse mantinha-se.
E, há dois meses e meio, chegou-me este aviso. A fotografia que aparecia no Facebook, que apanhava a "cara" submissa do cãozinho, fazia pensar realmente num cocker. O cão fora recolhido por uma associação de resgate de cães de Rio Maior depois de ser encontrado na rua.
E era mesmo um cocker? Parecia ser, mas não era. No regresso de uma viagem de fim-de-semana a Melides, passámos por Rio Maior e fomos ver o jovem candidato. Simpático, sem dúvida, mas, na melhor das hipóteses, híbrido de cocker. Não foi a caricatura daquilo que se compra on line e do que efectivamente se recebe, mas quase se aplicava.
Havia lugar a dúvidas, então? Se podia haver, o jovem decidiu por si próprio e, de certa forma, foi ele que adoptou os dois humanos que o foram ver, chegando-se a nós como quem pede: "Levem-me". Já tinha acontecido uma coisa parecida, há seis anos, com a Elsa.
E a decisão foi essa: adoptá-lo. O cãozinho perdeu o nome transitório de Bonsai e, uma semana depois da visita, juntou-se à família. Com o nome, talvez banal, de Max. Mas apropriado, na sua energia de cachorro e nas fúrias destruidoras conjunturais, como abreviatura de Karl Marx... ou de Max Rockatansky.
Com, talvez, menos de um ano, uma pelagem cor de mel e branca, um pulso torcido (sem solução) e um quisto sebáceo no nariz (à espera de operação), uma gastroenterite que já passou e algumas debilidades digestivas, o novo membro da família revelou-se um épagneul breton (uma raça prima dos cockers), cheio de energia, brincalhão, desafiador e muito inteligente.
E qual será a sua história, até ser recolhido pela associação de Rio Maior, a Patinhas de Rua?
Só é possível especular.
Há em Rio Maior um criador de cães desta raça. O jovem Max é de raça pura e sem cauda (terá sido cortada, ou nasceu assim?). O pulso ligeiramente torcido, e que pode ter sido um defeito de nascença, inviabilizou-o como objecto comercial. É possível que tenha sido entregue a alguém (de mais idade?) que lhe dava comida feita em casa e que talvez o mantivesse preso ou com movimentos limitados. Foi encontrado na rua, aparentemente abandonado ou perdido. Ou, pura e simplesmente, descartado? Valeu-lhe a Patinhas de Rua, como tem valido a tantos outros.
Agora o Max tem casa, camas e comida adequada, tal como as suas duas "manas": uma, a Elsa (pastora da Anatólia nada feminista que parece sentir-se intimidada pelo jovem macho que é quase três vezes mais pequeno do que ela), e a outra, a cocker de nome Joaninha (que o tolera sem grandes problemas). O Max ambientou-se e acomodou-se. Tem brinquedos e gosta de dormitar no sofá com a sua "mãe" adoptiva.
E é feliz, muito claramente. E nós podemos, também, sentir-nos felizes porque o tirámos, tal como à Elsa, de uma vida incerta e sem grande futuro. Triste sorte que ele não merecia ter, como, aliás, nenhum outro cão.
Max e Elsa: um desafio permanente, o do jovem à enorme pastora da Anatólia |
Max e Joaninha: já se aproxima a hora de comerem, à tarde |
A caça às lagartixas: muito esforço, muita expectativa, resultados quase zero |
1 comentário:
Obrigada por teres um coração grande.
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