José Sócrates disputou as primeiras eleições, que ganhou, como secretário-geral do PS, em 2005. Tinha sido ministro do Ambiente no governo anterior. Ganhou as eleições seguintes, na mesma situação, em 2009. Este mandato não chegou ao fim quando o Estado, governado pelo PS, chegou a uma situação de pré-bancarrota.
Sócrates levou consigo para o Governo, e como secretário-geral do PS, suspeitas (que o sistema judicial nunca confirmar nem infirmar) sobre assinaturas “de favor” numa câmara municipal, vantagens obtidas com a Central de Compostagem da Cova da Beira, uma licenciatura de validade discutível por uma universidade privada que o seu governo obrigou a fechar e suspeitas de favorecimento patrimonial, enquanto ministro do Ambiente.
O PS, que se saiba, nunca levantou dúvidas sobre estas matérias. E quando, por causa do “caso Freeport”, Sócrates fez um grande alarido sobre a “campanha negra” de que estaria a ser vítima, o PS apoiou-o.
A Operação Marquês, que o levou à prisão preventiva, envolve-o em suspeitas que constam de um verdadeiro catálogo que, em tal soma, nunca recaíram sobre um político português. Em termos práticos, e segundo o que a Imprensa noticiou relativamente ao que lhe fui imputado no último interrogatório de que foi alvo, como arguido, falamos de corrupção e branqueamento de capitais. Empresas, empresários, um universo financeiro (o Grupo Espírito Santo), banqueiros, construtores e vendedores de carros, industriais do turismo e do ramo farmacêutico… são uma multidão os suspeitos que o Ministério Público e a Procuradoria-Geral da República associam a novas situações de favorecimento patrimonial.
Tudo isto aconteceu quando Sócrates era primeiro-ministro. Quando estava rodeado de ministros e secretários de Estado que também intervinham nas áreas que agora lhe são associadas. E eles sabiam, ou não?
Falta algum tempo para que seja conhecida a acusação, em concreto, contra o primeiro primeiro-ministro arguido por suspeitas de crimes tão graves. Falta ainda mais tempo para a produção de prova em julgamento e para o acórdão da primeira instância e depois para as decisões finais da Relação e do Supremo, passos que obviamente a defesa do arguido Sócrates dará. Pode dizer-se que, até lá, o homem tem direito a ser considerado inocente mas não se pode ignorar que, até agora extrajudicialmente e depois formalmente, tudo o que se vai sabendo é grave. A começar, mesmo que fosse só isso, pelo facto de um ex-primeiro-ministro viver das transferências avultadas de numerário de um seu amigo.
Perante isto tudo, o PS e os seus dirigentes têm estado em silêncio. Muitos foram visitar o arguido mais importante da Operação Marquês à sua prisão. Outros fazem de conta que não aconteceu nada. Outros, ainda, acham-se obrigados a defender o que seria uma espécie de “honra do convento”.
Mas a pergunta não pode deixar de ser feita: o Partido Socialista sabia?
E a resposta só tem duas opções: se sabia, nada impediu e continua em silêncio, é cúmplice de tudo aquilo que o seu ex-secretário-geral e ex-primeiro-ministro fez ao arrepio da lei; se não sabia, foi corno.
É a este PS, e aos discípulos do arguido Sócrates, que o País está entregue, graças a um golpe de Estado parlamentar conduzido pelo actual primeiro-ministro e pupilo do arguido Sócrates.
E se o PS foi cúmplice, é perigoso que o Estado lhe esteja novamente entregue; se foi corno, não está evidentemente qualificado para governar um país.
Mais tarde ou mais cedo, terá de saber-se, em definitivo, se foi uma coisa ou a outra. E se os ministros e secretários de Estado de Sócrates também o foram: cúmplices ou cornos?
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