domingo, 6 de novembro de 2022

380 932€ - baixo valor tem a honra dos médicos








380 932 euros.

Este quadro indica o valor recebido pelo médico Filipe Froes de 22 empresas farmacêuticas e do sector clínico, ao longo de 9 anos. [A informação está publicada, com indicação das respectivas fontes, pelo jornal online independente "Página Um" em três textos fundamentais: "Guimarães & Froes, Lda., delegados de propaganda médica da 6ª vaga dos lucros das farmacêuticas", "Do nojo e da desvergonha: os fretes da Visão Saúde e o mercantilismo de Filipe Froes" e "Remdesivirgate: um negócio de 20 milhões de euros e de lobbies associados à Ordem dos Médicos".]

Poderá o leitor mais complacente dizer que 380 932 euros não é muito. Mas bastaria 1 euro, que fosse, para cobrir de vergonha alguém que fosse honesto. Porque, note-se, algumas das empresas citadas fabricaram vacinas ditas para a covid, que o médico Froes recomendou, e medicamentos ditos para a covid, que o médico Froes recomendou.

É este médico que, na semana passada, apareceu no "Diário de Notícias", a proferir uma afirmação espantosa: que íamos ter uma "pandemia tripla".


"Diário da Notícias", 4.11.22


Note-se que as pandemias não são quando um homem quer. 

A Organização Mundial de Saúde (OMS), independentemente dos seus desvarios relativos ao vírus da pandemia, o SARS-CoV-2, é que as define. 

Não cabe a um médico ou a uma diretora de jornal dizer o que é "pandemia", nem mesmo definir "pandemias triplas". Com o SARS-CoV-2/covid já endémico (a fase posterior à fase de pandemia), a OMS não decretou a gripe (a "influenza") como pandemia nem, tão, o vírus sincicial respiratório. (Que, note-se, parece ter ressurgido graças às perdas de imunidade causadas pelo uso de máscaras faciais pelas crianças.)

Esta afirmação, glosada depois, é de uma absoluta inexactidão científica. 

Não se viu que a ciência fosse particularmente respeitada pelos influenciadores sanitaristas disfarçados de "epidemiologistas", mas convenhamos que não é preciso manifestar um tão grande desprezo pela ciência desta maneira tão despudorada.

Só se a ideia é meter medo, é relançar o pânico. E encontrar um estribo para reforçar a propaganda das vacinas salvadoras. Note-se que entre as empresas que deram dinheiro a Froes estão a Pfizer, a AstraZeneca, a Bayer e a Janssen, que fabricaram vacinas covid. E remédios, recomendados pelo médico Froes.

A promoção de um médico que recomenda produtos farmacêuticos produzidos por quem lhe dá dinheiro já é mais do que suspeita e o facto de haver um processo instaurado contra o médico Froes pela Inspecção-Geral das Actividades em Saúde mostra como a situação é pouco transparente.

Com esta atitude, e tendo em conta outros casos que se vão conhecendo (a começar pelo bastonário da Ordem dos Médicos, como revela o "Página Um"), os médicos, em geral, ficam mal vistos.

.E um jornal, como o "Diário de Notícias", ainda fica pior. Antes do 25 de Abril, quando era o jornal preferido do Governo, depois do 25 de Abril, onde o PCP foi determinante, mais tarde e até fechar a edição em papel (para a reabrir agora, com novo proprietário), o "Diário de Notícias" nunca deixou de ter a fama de, em geral, servir o poder vigente. Mas com seriedade. Mas agora... serve uma farmacêutica? E uma das farmacêuticas que dão dinheiro a Froes?!

A edição do que parece ser uma colectânea dos textículos publicados por Froes e pela sua companheira é patrocinada pela farmacêutica Bial. O "Diário de Notícias" já teve uma editora de livros, que agora já não tem, e a coisa é a primeira edição de um livro que este jornal faz. 



Quem é que ganha, nesta ocasião tão espectacularmente promovida? 

Froes e a Bial. E um candidato à Presidência da República.

Famoso por ter ido organizar o que estava desorganizado (o sistema de vacinação covid, nessa altura visto como a panaceia para a pandemia que ia matar milhares de milhões de pessoas...), o militar Gouveia e Melo, que chegou a proclamar a imunidade de grupo só por obra e graça das vacinas, tem deixado criar a ideia de que vai ser candidato à Presidência da República, nas eleições de 2026, e tudo indica que já tem pessoas e meios a apoiarem-no directamente para alcançar esse objectivo. Hoje, nesta sessão comercial, vai mostrar qual é o tipo de rectidão que tem.

Uma farmacêutica, um médico que recebe dinheiro das farmacêuticas, um jornal que já faz publicidade disfarçada sem problemas de consciência, um candidato à Presidência da República que faz de conta que não é... é esta caldeirada que alimenta a iniciativa tipo publireportagem de um jornal que já foi respeitável e que, neste caso, se transformou numa rameira sem honra.. 


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