domingo, 23 de janeiro de 2022

Adoptar ou comprar

Vi, há bem uns sete meses, o anúncio de uma associação de recolha de cães, situada no norte do País, onde aparecia um macho dado como jovem, da raça cocker, para adopção. Declarei o meu interesse e enviaram-me um formulário exaustivo, de várias páginas, que estive a preencher, aplicadamente, durante cerca de duas horas de sábado, e que depois enviei.

Não tive uma única resposta à minha "candidatura" e, mais tarde, o cão voltou a aparecer para adopção, mas desta vez restringida à zona de Lisboa (que fica à astronómica distância de 100 quilómetros do sítio onde vivo).

Nesse formulário, onde destacava a necessidade de um macho ainda muito jovem, explicava a situação: tenho uma cadela cocker com 11 anos (e gosto imenso desta raça) e uma cadela pastora-da-Anatólia com cerca de 6 a 7 anos (a imprecisão da idade deve-se ao facto de ter sido adoptada por nós). Intolerante com outras cadelas mas a dar-se bem, em geral, com machos, e ainda de espírito jovem, esta cadela beneficiaria da companhia de um cão mais novo e o cão poderia beneficiar de algum instinto maternal que ainda poderá ter, estimulado, até, pelas suas características de cão pastor e de guarda. E a preferência por um cocker estava bem explicada: gostamos muito desta raça.

A falta de resposta, que achei bizarra, não me dissuadiu de encontrar um cão ainda muito jovem e que fosse cocker. Até poderá não ser, e eu ficar convencido por outro cão que precise de um "forever home", tal como acolhi, sem saber o que dali sairia, uma cadela que andava à deriva por esta zona e que se revelou ser uma pastora-da-Anatólia, com a majestade do seu porte e dos seus 43,7 quilos de peso, brincalhona e adorável. E quem consegue gerir o quotidiano de uma cocker e de uma pastora-da-Anatólia... bem, é quase como um mestrado em comportamento canino.

Desejando uma raça específica, tendo cumprido o meu "dever" social de acolher um cão perdido, posso encarar como legítima (se quiser, e puder, pagar) a compra de um cocker? Posso, sem a menor dúvida, e tendo o cuidado de distinguir entre criadores profissionais e os outros. 

Não me parece, e este caso pode servir de exemplo, que a adopção ou a compra (de um cão) sejam incompatíveis. São opções diferentes.



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