Dizem-me que há empresas a quem a Câmara Municipal não pode pedir responsabilidades por trabalhos mal feitos por haver nessas mesmas empresas gente que sabe muito...
sexta-feira, 28 de fevereiro de 2020
terça-feira, 25 de fevereiro de 2020
Ler jornais já não é saber mais (76): o mundo lá fora, André Ventura e Camilo Lourenço
O polemista Miguel Sousa Tavares criticou, no "Expresso" do passado sábado, o putativo chefe do Livre, Rui Tavares, por este defender uma espécie de proibição de referências ao deputado André Ventura, do Chega!, na imprensa. Sousa Tavares invocou a democracia e muito correctamente.
Não sendo, e orgulhando-se disso, frequentador das redes sociais, já não pôde usar outro argumento que até muito mais pragmático: não só é antidemocrático silenciar os adversários que respeitam as regras da democracia como não vale, sequer, o esforço.
Há poucos dias, por desenfado, fui ao YouTube, que utilizo com algumas regularidade para ouvir música, e procurei o que havia de André Ventura. E havia muita coisa: declarações na Assembleia da República, entrevistas e intervenções em iniciativas do Chega!. Tudo em vídeos de duração relativamente curta, mas com as informações essenciais. Mais, decerto, do que em jornais e na televisão.
É evidente que a presença nas primeiras páginas e nas edições "on line" da imprensa dão sempre jeito (e há quem compre, de uma maneira ou de outras, essa presença), mas a informação já não tem de passar por aí.
A informação é hoje mais rápida, mais directa e mais imediata e, no universo "on line", já não precisa de intermediários.
Para quê comprar ou apenas folhear um jornal ou uma revista, esperar ou pesquisar um programa de notícias numa televisão, quando se pode ter essa mesma informação em estado "puro", e verdadeiro ou não, directamente nas redes sociais?
A informação é hoje mais rápida, mais directa e mais imediata e, no universo "on line", já não precisa de intermediários.
Para quê comprar ou apenas folhear um jornal ou uma revista, esperar ou pesquisar um programa de notícias numa televisão, quando se pode ter essa mesma informação em estado "puro", e verdadeiro ou não, directamente nas redes sociais?
A falência do jornalismo também tem a ver com isto. Apesar de o jornalismo ainda poder, de outro modo, utilizar as redes sociais para recuperar terreno. Vejamos como.
Camilo Lourenço é jornalista de economia e já passou por vários órgãos de imprensa. E, diariamente, mantém "on line", à disposição de toda a gente, um programa de comentário diário ("A Cor do Dinheiro") e um programa semanal de debate ("Think Tank").
Estes dois programas podem ser vistos através do Facebook e gratuitamente.
O que mais tem crescido em audiências é "A Cor do Dinheiro", que já consegue ter (às 8 horas da manhã) mais de 3000 pessoas a ver (ou só a ouvir) em directo. Camilo Lourenço junta política e economia, notícias e comentários e promove o seu programa, que faz praticamente sozinho, com a frase "Aquilo que você ouve aqui não ouve em mais sítio nenhum".
O que mais tem crescido em audiências é "A Cor do Dinheiro", que já consegue ter (às 8 horas da manhã) mais de 3000 pessoas a ver (ou só a ouvir) em directo. Camilo Lourenço junta política e economia, notícias e comentários e promove o seu programa, que faz praticamente sozinho, com a frase "Aquilo que você ouve aqui não ouve em mais sítio nenhum".
O estilo é, por vezes, discutível e a gestão dos temas parece caótica, mas o certo é que o programa consegue ter algum interesse, tal como o outro programa de debate. E não tem, repete-se, a intermediação de um jornal, revista, rádio ou televisão.
Estes são exemplos do que é o mundo da nova comunicação social e que a antiga comunicação social, fechada sobre si mesma, não conhece, não quer conhecer ou não percebe. A opção de ignorar o mundo que lá fora existe é uma opção sem futuro.
Irrelevância
Nem é necessário abrir o jornal. A capa, com o título que a fotografia transforma em manchete, diz tudo: "Caldense vai às escolas falar sobre violência doméstica".
Na fotografia, sem legenda, estão três jovens do sexo feminino. Não têm nome, não se sabe quem são, onde é o cenário, o que fazem além de "falarem" da "violência doméstica". Uma delas, supõe-se, é a "caldense". Ou seja, a natural (ou residente, como já vi) do concelho de Caldas da Rainha. O nome? A substância da sua "fala"? Que interessa? O que interessa é que seja "caldense". As outras duas nem interessam, pois, depreende-se, nem serão "caldenses".
O semanário "Gazeta das Caldas" deu um trambolhão. Era um jornal inteligente, coisa que nem sempre é compatível. Hoje já não é. Cedeu a este populismo (sim, uso adequadamente o palavrão) mais básico de que tudo o que é "caldense" é bom, seja lá o que for, ou quem for. É uma nivelação por baixo. O "caldense" mais idiota, mais escroque ou vigarista é tão bom como um "caldense" que ganhe um prémio Nobel. O que interessa é a condição de "caldense".
Se Lisboa é de um provincianismo atroz, relativamente ao resto do país, as pequenas cidades do interior que são capitais de concelho e onde ainda há vestígios de vida inteligente tendem a ser piores, muito piores.
Divergências editoriais, penúria, quebra de vendas e de audiências, cansaço? Tudo isto ou só uma parte? Por estes ou outros motivos, a "Gazeta das Caldas" está a tornar-se rapidamente irrelevante. Abria este jornal com curiosidade, folheio-a agora com fastio. Quando daqui a cinco meses tiver de renovar a assinatura… renovo-a? Ou não? Não sei.
Porque eu não quero notícias sobre "caldenses" sem nome. Quero notícias, e outras matérias, sobre pessoas com nome e actos e acções e mérito, sobre acontecimentos e também opiniões. Como a "Gazeta das Caldas" já teve. Esta irrelevância de agora não me serve.
"Le club de Macau"
Depois de "Ulianov e o Diabo", com o título de "Mort sur le Tage", sairá em 30 de Abril em França o meu "O Clube de Macau", com o título "Le club de Macau", pelas mãos das Éditions Chandeigne (pormenores aqui).
É a única obra de ficção inspirada pelo caso de pedofilia conhecido por "processo Casa Pia".
quinta-feira, 20 de fevereiro de 2020
A eutanásia que nunca haverá
Uma amálgama de deputados vai aprovar hoje uma versão da eutanásia que, com a burocracia predominante e afirmada nos seus projectos de lei, nunca será a eutanásia como a entendem os seus defensores mais convictos.
Um referendo (que seria mais correcto e mais politicamente honesto) sobre o tema inviabilizaria a eutanásia por muitos anos.
Ou seja: verdadeiramente, não há (nem vai haver) eutanásia para ninguém.
A não ser, talvez, e a prazo, a eutanásia política... para os partidos e para os deputados que hoje vão, à viva força, impor uma inutilidade legal.
quarta-feira, 19 de fevereiro de 2020
Seis anos!... Não têm vergonha?!
Em 3 de Fevereiro de 2014 publiquei aqui o seguinte (com fotografia):
Na Rua da Escola, na Serra do Bouro, uma parte da berma da estrada deu de si. A empresa Cimalha - Construções da Batalha SA teve a rua cortada durante alguns dias e andou a "trabalhar" no local.
O resultado foi o que a fotografia de baixo documenta: a rua ficou esventrada sem a precária camada de alcatrão que tinha, e a berma não foi reparada.
Esta empresa foi escolhida por concurso público pela Câmara Municipal de Caldas da Rainha para duas empreitadas onde, com IVA incluído, ganhará mais de um milhão de euros.
Um ano depois voltava ao assunto aqui e escrevia (com fotografia bem explícita):
A Cimalha - Construções da Batalha SA é uma das empresas de obras de que a Câmara Municipal de Caldas da Rainha parece ser muito amiga.
Só que o resultado das obras que faz, e por aquilo eu pude ver e que aqui documentei ao pormenor, deixa muito a desejar.
Na Rua da Escola, na Serra do Bouro, foi a Cimalha que remendou a berma que deixara escavacada depois de andar a obrar no local. Isto há um ano.
Hoje pode ver-se o resultado da magnífica obra da dita Cimalha: a rua abriu fendas. É, verdadeiramente, uma obra muito dinâmica...
E agora?
Agora, seis (6!) anos depois, a Câmara Municipal de Caldas da Rainha (cuja sede fica a cerca de 10 quilómetros) descobriu as falhas e resolveu "enfeitá-las".
Não há uma ponta de vergonha lá para os lados da Câmara Municipal de Caldas da Rainha? Ou da junta da União de Freguesias de Santo Onofre e Serra do Bouro?
terça-feira, 18 de fevereiro de 2020
Carta Local de Comunidades Estrangeiras: uma carta que é um rascunho com um estudo feito de suposições
"Gazeta das Caldas", 24.01.2020 |
Quando vi a notícia sobre os estrangeiros na União de Freguesias de Santo Onofre e Serra do Bouro (a que aqui me referi), fiquei com alguma curiosidade sobre os pormenores do trabalho de base. E, pouco tempo depois, lá aparecia ele no site da "União".
Li as suas 65 páginas e o interesse transformou-se em dúvidas. Metodológicas e de conteúdo. E bastante factuais.
Ao contrário do que costuma acontecer em trabalhos científicos, o autor (apresentado apenas como "investigador Ricardo Gomes") é secundarizado. O destaque vai para o presidente da junta de freguesia que resulta desta união de freguesias. É uma nuance sugestiva. Sendo débil o trabalho, está adequado a quem pode ser tido como autor.
Haverá por aqui, segundo o resumo oficial, "731 estrangeiros de 40 nacionalidades", distribuídos (e este pormenor é fundamental) por uma freguesia rural que tem características de interior rural e que tem como fronteira ocidental o Oceano Atlântico (Serra do Bouro) e uma freguesia da capital do concelho (Santo Onofre) que é tipicamente urbana.
Entre as duas, note-se, fica uma terceira freguesia (Nadadouro), em perfeita contiguidade geográfica com as outras duas. Mas esta é ignorada.
Entre as duas, note-se, fica uma terceira freguesia (Nadadouro), em perfeita contiguidade geográfica com as outras duas. Mas esta é ignorada.
Repare-se como a freguesia do Nadadouro fica "entalada" entre Santo Onofre e Serra do Bouro: será que os estrangeiros que vivem no Nadadouro são diferentes dos que vivem nas outras freguesias? |
O apuramento dos estrangeiros é a falha maior do estudo, que acaba por expor claramente as suas fragilidades.
A base dos potenciais inquiridos foi achada a partir dos contactos feitos com os serviços da união de freguesias e na "interacção" assim mantida. Houve uma tentativa de conseguir que respondessem a um inquérito, mas da forma mais passiva: podiam levar o papel dos serviços. O resultado foi óbvio: ninguém quis responder.
A base dos potenciais inquiridos foi achada a partir dos contactos feitos com os serviços da união de freguesias e na "interacção" assim mantida. Houve uma tentativa de conseguir que respondessem a um inquérito, mas da forma mais passiva: podiam levar o papel dos serviços. O resultado foi óbvio: ninguém quis responder.
O retrato só teria, assim, ficado completo se quem fez o estudo tivesse ido ao terreno. Porta a porta, a partir dos dados existentes. Isso permitiria, por exemplo, perceber porque é que uma nacionalidades se fixaram na zona rural e litoral e fora da cidade e porque é que outras se fixaram na cidade. Não foi o que aconteceu.
A falta de contacto directo está, como é evidente, na origem das deduções a mais que são feitas a partir dos elementos recolhidos. Não são conclusões, mas são suposições. Com base na premissa tal, então… Há a possibilidade de… As circunstâncias sugerem que… A abordagem é empírica…
Digamos que em vez da ciência há adivinhação e que isso faz com que a "carta" não passe de um rascunho.
Digamos que em vez da ciência há adivinhação e que isso faz com que a "carta" não passe de um rascunho.
O texto, que se desdobra em potenciais explicações para alguns movimentos migratórios e onde se faz doutrina sobre "país", "nação" e "Estado", tem, por outro lado, falta de uma coisa muito básica: fontes. Nada disto é compreensível e fere a própria coerência do estudo. Que serve, assim, para quê?
*
Quis esclarecer estas dúvidas e dirigi um pequeno questionário à União de Freguesias de Santo Onofre e Serra do Bouro e à empresa Partnia, que terá sido a coordenadora da coisa. Fazia oito perguntas, pedindo resposta até ontem, segunda-feira.
A União de Freguesias respondeu apenas que iria passar as perguntas a Ricardo Gomes e que me enviaria as respostas assim que as tivesse. A Partnia não respondeu.
Ficam, por isso, apenas as perguntas. Se chegarem respostas, serão acrescentadas aqui.
1 - A "Carta Local de Comunidades Estrangeiras" foi feita a partir de "interacções" da população estrangeira com os serviços da União de Freguesias, tendo falhado a tentativa de fazer um inquérito personalizado. Porque é que não foi feito um trabalho de campo, de contacto directo com a população estudada, nas suas próprias habitações?
2 - Porque é que não é registada a diferença entre a fixação de população estrangeira na freguesia urbana (Santo Onofre) e na freguesia rural (Serra do Bouro, nomeadamente no "eixo" Cabeço da Vela - Cidade)?
3 - Entre as freguesias de Serra do Bouro e de Santo Onofre existe uma terceira freguesia, que está em perfeita continuidade geográfica com estas duas: o Nadadouro. Porque é que não foi estudada, ou mencionada, esta extensão territorial que só por motivos políticos e outros está "isolada" das duas freguesias em questão.
4 - Verifica-se alguma imprecisão nas conclusões que são apresentadas ("sugere", "possibilidades", "forma empírica", "premissas") e que acabam por ser conclusões provisórias. Este estudo vai ser aprofundado?
5 - O facto de as perguntas inventariadas na página 55 ("Conclusões") ficarem sem resposta não torna mais débil o estudo?
6 - O autor do estudo é apenas mencionado uma vez e sem que dele se conheçam mais pormenores. Quem é Ricardo Gomes e qual é o seu currículo?
7 - Qual é a fonte da base teórica para as considerações sobre a diferença entre "país" e "nação" que são desenvolvidas na página 39 (nota de rodapé n.º 30).
8 - Quanto pagou a União de Freguesias por este estudo?
sábado, 15 de fevereiro de 2020
Ler jornais já não é saber mais (75): pretuguês jornalístico
Leio e nem acredito no que li.
Mas é isto mesmo:
"Para o próximo dia 18 de fevereiro o julgamento retoma."
sexta-feira, 14 de fevereiro de 2020
sexta-feira, 7 de fevereiro de 2020
O "IVA da luz" como momento simbólico da política nacional
Até poderia ter acontecido (veja-se o caso
da restauração, onde não aconteceu) que a descida do "IVA da luz"
baixasse o preço da electricidade.
O certo é que se criou uma expectativa que
depois foi iludida, num turbilhão de desespero, de oportunismo político e de
medo do sufrágio eleitoral. O PS teve medo de ir de novo a eleições, o PSD teve
medo das próprias sombras. O CDS teve medo de tudo e de mais alguma coisa. O
PCP já vive no medo de perder ainda mais votos, sabendo que vai sempre
perdê-los. O BE teve medo de não ser igual ao PCP. O PAN teve medo de perder o
apoio do PS. A "não inscrita" teve medo de perder o lugar. Não são
coisas que os eleitores compreendam, nesta altura.
A imagem dos "políticos" saiu
muito emporcalhada disto tudo. Com exceção dos deputados da Iniciativa Liberal
e do Chega!
Esta e outras situações explicam a
abstenção nas urnas e a ascensão do "populismo".
Não se queixem. Ou alegrem-se. Porque a
desgraça de uns é a vitória dos outros.
terça-feira, 4 de fevereiro de 2020
O social-comunismo da treta e a "queima" dos livros
A política de distribuição gratuita de manuais escolares inaugurada pelo governo PS/PCP/BE, e agora reafirmada (da pior maneira) no processo de aprovação do Orçamento de Estado para 2020, é uma das medidas mais estúpidas desta gente.
Em primeiro lugar, ela devia abranger os alunos das famílias pobres (ou "carenciadas"), que até são objecto de apoios diretos do Estado, e não ser generalizada às famílias que podem pagá-los, e muito mais.
Em segundo lugar, este processo foi sempre perturbada pela tentativa de garantir que os manuais usados (e devolvidos às escolas) estavam em condições de serem utilizados. E muitos não estavam. Não parece ter havido a tentativa, por parte das editoras, de criar dois tipos de livros: os que podiam ser riscados (e mais maltratados) e os outros.
A situação mudou, e para pior. A partir de agora, estraguem, risquem, danifiquem à vontade: por proposta do PCP no Parlamento, já não é preciso devolver os manuais.
Em tempos, escrevia-se muito sobre a necessidade de os manuais (comprados) serem de utilização renovada pelas famílias, para que não tivessem de gastar tanto dinheiro a comprar novos, em cada ano lectivo. Agora, como é o Estado a pagar (ou seja, nós todos), podem estragar à vontade.
Quem não se preocupa em tratar bem os livros (se é que sabe o que são livros) fica desresponsabilizado.
As crianças e os jovens (e, para a maioria, os manuais escolares devem ser os únicos livros com quem estarão em contacto durante a sua vida) já não precisam de ser "ensinados" a estimar os livros.
E as editoras de livros escolares ganham mais, porque assim já vendem mais manuais.
Mas no fim, ao menos, o PCP vai perder mais votos porque os alegres destinatários desta política facilitista e esbanjadora sabem que é o PS que, no Governo, tem as chaves do cofre e não o seu grupo de sabujos do capital que Jerónimo de Sousa capitaneia. E vão votar em quem?... No PS, claro.
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