sexta-feira, 5 de abril de 2019

Ler jornais já não é saber mais (50): jornalismo de vidro fosco



Há, acredito, alguma contestação interna no PCP devido ao apoio dado pela linha reformista predominante neste partido ao governo do PS e do BE. Já era, aliás, visível há mais tempo e eu escrevi-o aqui, ainda em 2016, evocando as desditosas experiências do eurocomunismo.
Não me surpreende que, mesmo só agora, a imprensa tenha descoberto essa dissidência, como foi o caso do texto "O partido com Facebook de vidro", assinado pela jornalista Rosa Pedroso Lima no "Expresso" do passado sábado.
O que me surpreende é o modo como as críticas citadas, todas elas oriundas de posts do Facebook, ficaram anónimas. Pode acontecer que, na origem, o sejam e que os perfis dos seus autores ocultem as respectivas identidades. Mas o Facebook exige nomes para os seus perfis. Pode acontecer que os autores das críticas sejam militantes, ou simpatizantes, completamente desconhecidos e sem qualquer ligação entre si, anónimos como qualquer cidadão anónimo e, por isso, que interesse terá em falar do Joaquim, do Miguel ou do Umbelino?! 
Mas, seja como for, identificadas na origem ou não, as citações não deveriam ter sido publicadas como foram, órfãs de pai e mãe. 
É que esse anonimato não só enfraquece a notícia (coisas inventadas!, hão de ter rosnado os ferozes apoiantes do eurocomunista Jerónimo de Sousa) como não dão, por fosca que seja, uma imagem mais concreta da insatisfação.
Poderá argumentar-se que a ausência das identidades dos autores apenas visou proteger a sua integridade física, ou laboral. 
Mas, se por acaso o problema é esse, há uma notícia que terá ficado por dar: de forma inédita, os novos "críticos" do PCP podem sofrer na pele e em grande escala o castigo pela sua dissidência, como ainda não acontecera desde 1974, nem mesmo no período da "perestroika".
Será isto, Rosa Pedroso Lima?

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