É possível que Pedro Passos Coelho não volte a ser primeiro-ministro. E acrescento já: infelizmente.
As sondagens (mas só de duas empresas) dão o PSD como constantemente em queda. Parte significativa do eleitorado (onde tem peso fundamental a função pública, já beneficiada com acréscimos salariais constantes pelo actual Governo) parece preferir o PS. Uma ala significativa do PSD, que parece não ter beneficiado com Passos Coelho, sente-se mais ambientada no “bloco central” e gostaria de substituir-se ao PCP e ao BE como muleta deste PS).
Passos Coelho foi o rosto da austeridade a que o PS, em 2011, nos condenou. Ganhou bem as eleições desse ano mas talvez tivesse pensado que as coisas pudessem ser mais fáceis. Talvez esperasse que o PS assumisse as responsabilidades que teve na bancarrota. Mas não foi o caso.
Manteve-se, no entanto, firme e determinado, não cedeu a um homem como Ricardo Salgado e é legítimo pensar que também deve ter dito “não” a outros. Não cedeu à pressão “irrevogável” de Paulo Portas. Não fugiu de férias para o estrangeiro quando as coisas corriam mal. Fazia férias no meio de toda a gente, no Algarve, e não deixou de morar (para horror da intelectualidade lisboeta e dos outros políticos da moda) num prédio de apartamentos nos subúrbios da capital.
E, quatro anos depois, ganhou as eleições. A austeridade não o impediu de triunfar em 2015. O pior foi depois. Perante a compra generalizada de apoios que o adversário derrotado soube fazer (do PCP e do BE à função pública, passando por parte da imprensa), o PSD e o seu presidente enfrentam tempos mais difíceis. O fogo de barragem da imprensa e de boa parte dos comentadores e uma gestão sem escrúpulos da comunicação política não deixaram espaço ao primeiro-ministro que ganhou as eleições de 2015. A calma, a distanciação e a determinação de Passos Coelho (que também estará fragilizado pelo seu drama familiar) não se coadunam com o frenesim mediático.
É possível que as eleições autárquicas sejam um desaire para o PSD. É possível que isso anime os adversários internos de Passos Coelho e os estimule. É possível que, sem uma crise política, só haja eleições legislativas em 2019. E que, até lá, ainda haja dinheiro suficiente no Estado para o PS continuar a comprar votos. É possível, finalmente, que tudo isto afaste Passos Coelho do Governo.
Pedro Passos Coelho afirmou-se como estadista. E o País ganhou com a sua liderança. Voltaria a ganhar se Pedro Passos Coelho voltasse a ser primeiro-ministro. É pena que um conjunto de circunstâncias infelizes pareça estar a conjugar-se para o impedir.
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