Precisam um do outro... mas nós não precisamos deles |
Não é possível imaginar que a ofensiva política, e pública, de José Sócrates esteja a ser feita contra a vontade ou sem conhecimento de António Costa.
O “negociador” incensado pela Imprensa não poderia deixar os seus créditos (e o seu futuro) por mãos alheias, até porque Costa precisa de Sócrates e Sócrates precisa de Costa.
Sócrates, já o reconheceu, quer ser Presidente da República. Enquanto não o puder ser, ou se pura e simplesmente não o conseguir ser, contentar-se-á com a chefia do PS, o que é natural. E, naturalmente, com o cargo de primeiro-ministro. Costa não o pode querer.
É por isso que o alheamento de Costa face à ofensiva de Sócrates é só aparente. Se não há uma aliança clara e organizada entre os dois, há pelo menos um pacto de não agressão que não nasceu de geração espontânea.
Sócrates, como se tem visto, tem o PS na mão, dominando parte da clique dirigente e muitos sectores intermédios.
A demora na acusação da “Operação Marquês” (não por falta de indícios mas pela abundância deles, a acreditar no essencial do que tem sido publicado) permitiu uma espécie de recomposição moral dos apoiantes de Sócrates: uns esperam que as investigações não os toquem (e hão de ter cometido o crime perfeito para que isso não aconteça) e os outros chegam a acreditar que nem acusação haverá. E Sócrates, um D. Sebastião para um PS que já não se enxerga, até ganhou eleições e formou governo sozinho. Ao contrário de Costa, que perdeu as eleições e teve de arranjar quem o ajudasse a chegar ao poder.
E é também por isso que Costa precisa de Sócrates. Entretido a mobilizar o partido e a formar os seus exércitos, à espera de um combate judicial que há de querer travar na praça pública (se não o puder vencer antes disso), Sócrates não é por agora uma ameaça. É um aliado: a Costa dá jeito que Sócrates seja Presidente da República enquanto ele for, ou voltar a ser, primeiro-ministro. Será sempre muito melhor do que Marcelo Rebelo de Sousa.
Sempre na esperança de poder ter eleições antecipadas para fortalecer o seu projecto de poder, Costa não quer ser agora mais do que primeiro-ministro, lugar que Sócrates pode ocupar se não arranjar melhor. Ambicioso, guardará Belém para mais tarde.
Quanto a Sócrates, precisa de Costa. Pelo menos por enquanto: o actual chefe do Governo está na melhor das posições para poder condicionar, de uma forma ou de outra, as instâncias judiciais que ameaçam Sócrates.
O conúbio tem este formato: um projecto de poder pessoal bicéfalo com “reservas de caça” por enquanto bem definidas e uma estratégia friamente delineada.
É este o PS deste tempo: um partido derrotado nas eleições legislativas que só depende de manobrismos para se manter no poder.
Neste rumo, se o País tiver sorte, o PS cairá ainda mais. Mas se continuarmos sujeitos a esta espécie de Peste Negra, será o País a cair.
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