Uma das coisas mais tristonhas da política portuguesa é a facilidade com que as pessoas se deixam arrastar para momentos de verdadeira histeria e a incapacidade que têm de, pelo menos, raciocinarem por si.
Da imprensa ao Facebook, passando pelas mais variadas tribunas, é informativo ver esses desvarios radicais que depois são esquecidos e trocados por outros, tantas vezes no meio de um silêncio comprometido e envergonhado.
Podia referir-me, por exemplo, às grandes manifestações que, há dois anos, iam deitar abaixo o actual governo (que não caiu) e expulsar a Troika (que por cá continuou).
Ou à ambição dos que, entrando nas eleições autárquicas como independentes e tendo recebido um mandato claro do eleitorado no seu concelho, se deixaram arrastar por ilusões de grandeza à escala nacional.
Mas mais recente é o caso do referendo grego: recordem-se os entusiasmos, as declarações inflamadas, os elogios desbragados aos "revolucionários" do Syriza, as manifestações de delírio. Era o fim da austeridade, era o "orgulho" dos gregos, era o princípio do fim dos "agiotas" europeus e mundiais.
Nem uma semana passou.
Aquilo que fizeram o "revolucionário" Syriza e o seu chefe manobrista, no meio de um agravamento da crise do país, silenciou quase todos os seus fãs portugueses. Adeus, proclamações vibrantes. Tsipras, o sonso, traiu-os a todos (se, por acaso, não tem outros propósitos menos claros em vista).
Como escreveu um dos activistas de cátedra do "syrizismo" português numa expressiva declaração de indignação e desembaraço de possuidor de cátedra perpétua: "Alexis Tsipras e o governo do Syriza ajoelharam perante os credores e escolheram morrer lentamente em vez de cair de imediato. Esperemos que os credores se mostrem agora magnânimos e cedam a liquidez de que a economia grega precisa como de pão para a boca para não colapsar."
Há uma expressão portuguesa para isto: dor de corno.
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