sábado, 10 de dezembro de 2022

Endogamia de minimercado

 



Calhou-me ontem, juntamente, com o único jornal que comprei, esta coisa em forma de jornal, que será o "suplemento cultural" (com as aspas justificáveis pelas referências de todos os suplementos culturais, que conheci, de jornais de quando havia jornalismo) do salvífico "Público".

Não me lembro da última vez em que tinha visto esta publicação, o que também significa que tenho vivido, e viverei, bem sem ela. Aliás, nem me lembrava dela. E nem havia motivo para que me lembrasse.

A coisa parece ser uma espécie de epístola para as elites das elites. As manifestações culturais (ou "culturais"?) que nela figuram sugerem cruzamentos endogâmicos de círculos elitistas de Lisboa, de criaturas que ali foram parar por teias sexuais de pessoas que vivem em círculo fechado e que se reproduzem entre si. A incursão por entre os seus variados artigos não é ilustrativa, não me interessou, não me deixou memória dos minutos que gastei com ela.

Com uma excepção: a matéria sobre a reabertura do cinema Batalha, no Porto. Parece que a iniciativa, da respectiva Câmara Municipal, é importante e, a propósito dela, a publicação recolhe declarações intimistas de pessoas que devem pertencer a alguma delegação nortenha do "Público". Fica tudo, mais uma vez, em círculo fechado e, lá está, não há uma única palavra sobre a cooperativa cultural que, num percurso de vinte anos, fez do Porto uma referência para o cinema: a cooperativa Cinema Novo, organizadora do Festival Internacional de Cinema do Porto/Fantasporto, e os seus dirigentes Beatriz Pacheco Pereira e Mário Dorminsky.

O "Público" foi uma das peças de uma campanha jornalística e política que visou a destruição de Beatriz Pacheco Pereira e de Mário Dorminsky. Ignorando-os, nesta matéria, mostra uma das faces piores da pior endogamia: o ódio, fascista, aos que não pertencem ao grupo. 

Ao elitismo exacerbado que predomina nesta publicação junta-se um dos pecados mais estúpidos da imprensa, de toda ela: se não fizermos notícia, o assunto não existe.

Mas o Fantasporto de Beatriz Pacheco Pereira e de Mário Dorminsky existem. E não precisam do dinheiro que sai das receitas de uma cadeia de supermercados para continuarem a existir e a sobreviverem. Os que fazem a coisa chamada "Ipsilon" é que precisam do dinheiro miúdo dessas receitas, para fazer sobreviver o seu minimercado.




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