96 dias depois do início do segundo período de prisão domiciliária a que as autoridades nacional-socialistas condenaram o País, saí hoje para ir jantar a um restaurante pela primeira vez.
Ir a um restaurante ("comer fora", como se diz) é um acto de triplo valor: gastronómico, social e civilizacional. Abre-nos novos horizontes. Liberta-nos da rotina diária. Descontrai.
Mostra que há mundo (e é triste a atitude dos que, ainda cheios de medo de uma pandemia que talvez já seja endemia, continuam fechados nos seus casulos).
Fui, como não poderia deixar de ir, ao restaurante O Recanto. Onde, aliás, tinha ido na véspera deste desgraçado confinamento, e de cujo "take away" me abasteci quando os restaurantes não podiam fazer outra coisa.
O Recanto tornou-se o restaurante de que mais gosto nesta terra. Pela simpatia de quem fez esta casa (José e Maria Fialho) e pela prodigiosa qualidade criativa da sua cozinha. Comi língua estufada e tive direito a um pires de favas (com javali, prato já esgotado à hora do jantar) e só posso dizer que a minha intenção de, em casa, cozinhar eu próprio favas para o jantar de amanhã ficou deprimentemente frustrada: como é que posso rivalizar com as favas que comi? Não posso.
O Recanto está, na gastronomia, como a Quinta da Fata está para os vinhos: há outras coisas boas por aí... mas nada tão bom como aquilo que fazem.
Nos próximos dias farei a ronda dos meus restaurantes preferidos de Caldas da Rainha (e arredores): a Casa Pires (que caldeirada!), o modesto Nascer do Sol, o sugestivo Martha's Place, O Melro, o Naco na Pedra (ah, as suas carnes e o seu fabuloso Tornedó Rossini!), O Poço do Zé, o Solar dos Amigos (com o seu extraordinário bacalhau assado na brasa!), a Taberna do Manelvina, a Taberna Marginal, o Vinha d'Alhos... pelo menos.
Não sei, claro, se todos terão regressado à vida. Mas espero que sim, que tenham sobrevivido, que consigam prosperar. Nenhum deles merece ser vítima das medidas estúpidas destes governos cobardes e desorientados.
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