domingo, 2 de junho de 2019

Ler jornais já não é saber mais (54): o PCP com paredes de chumbo e a nova imprensa


O quadro é este e grande parte do que agora se nota e tudo o que se vê já era evidente há três anos

- o PCP está dominado por uma clique abertamente reformista, apoiada e impulsionada pelo seu secretário-geral Jerónimo de Sousa, que soube rodear-se do que é normal designar-se por "yes-men", com posições relevantes que ainda detêm no Parlamento e em órgãos municipais; 
- o discurso oficial esconde este desvio oportunista de direita; 
- a incapacidade de alargar a sua influência além de uma franja do eleitorado, que conta sobretudo mais com sobreviventes do cataclismo político e psicológico que foi a queda do Muro de Berlim e o fim do "socialismo real" do que com novos eleitores, reduz a sua base de apoio;
- a aliança com o PS entregou a este partido os louros da "reposição de rendimentos" e a agitação sindical não serviu, antes pelo contrário, para ganhar votos;
- nas recentes eleições para o Parlamento Europeu, o PCP conseguiu a proeza de ficar reduzido ao apoio de 228 mil eleitores, perder regiões onde era quase hegemónico, historicamente, e de ficar atrás do agrupamento de extrema-esquerda (e que também foi criado contra o PCP) que é o BE.

Jornalisticamente, a situação de óbvio "downsizing" do PCP, e das causas concretas da sua queda, daria lugar a trabalhos de investigação, a análises e comentários, à busca de fontes dissidentes, à recordação das dissidências anteriores (como, por exemplo, fez o extinto "O Jornal", à época, quando ainda havia jornalismo a sério), às opiniões dos que foram saindo desde meados dos anos oitenta. E, claro, à evocação do "eurocomunismo" espanhol e francês, condenado por Álvaro Cunhal e pelo PCP, que levou à morte os partidos comunistas desses dois países.
O que, no entanto, se vê é bizarro. 
As notícias sobre o PCP depois das eleições europeias são escassas e podiam perfeitamente ter saído do "Avante!". 
O que lá dentro se passa, apesar de em alguns casos ser muito óbvio, não chega à nova imprensa que temos. Por um lado, os dirigentes e os seus seguidores não o querem; por outro lado, não se nota qualquer intenção jornalística de ir mais além. Por um lado, os críticos e os eventuais dissidentes parecem andar demasiado calados (já não acreditarão na regeneração do PCP de Cunhal?...); por outro lado, parece haver uma benevolência excessiva da imprensa para com este partido (como, aliás, para com o BE, por camaradagem, e para com o PS, por subserviência e dependência económica).
O PCP substituiu há muito as suas paredes de vidro por paredes de chumbo e a nova imprensa nacional dá-se bem com isso.


Sempre a cair… e a pique


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