Olhe à sua volta, leitor, onde há um agrupamento, menor ou maior de outras pessoas. No supermercado, no consultório, no café, no restaurante, nos transportes públicos, no ginásio, no cinema, na rua, à mesa do restaurante…
O que é que as outras pessoas estão a fazer? A olhar para o telemóvel, a percorrer a superfície do ecrã com um dedo. E pouco interessa a idade: fazem todas o mesmo. Desde que tenham um telemóvel "smart".
Estamos a falar das "redes sociais" e, em concreto, do Facebook. Nesta rede circulam rumores, comentários, notícias falsas, notícias verdadeiras actuais, notícias verdadeiras que já não são válidas. Há um fluxo de informação que preenche uma parte considerável da curiosidade que as pessoas, em geral, têm pelo mundo.
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Quando abro o computador e o "browser", aparece-me uma página inicial do que poderão ser consideradas notícias que é o "meu" "feed de notícias". Não tenho memória de alguma vez ter visto no "feed" alguma "notícia" que me interessasse. E a maior parte delas, a começar pelo futebol, nem me interessam.
Ao alcance de um clic estão hoje "jornais" e jornais "on line", sites de notícias copiadas e outros com versões próprias do que a imprensa já disse.
Ao alcance de um clic está hoje, praticamente, o mundo todo, pelo Google ou por qualquer outro motor de busca.
Isto, por muito mau que seja (e é!), é o que está hoje ao dispor de toda a gente em todo o lado. Depois há as televisões e alguma coisa (em geral, má) além do futebol.
E há os jornais. Um, em papel, ainda é gratuito e não é nacional. Os outros são, em teoria, nacionais e pagos. E quem é que os compra?
Pois, o problema está aí: ninguém.
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A televisão (pelo serviço de TDT ou pelos "pacotes", que incluem serviço telefónico e internet) entra-nos em casa, as notícias misturam-se com as "notícias" no Facebook e em muitos sites ditos jornalísticos e, nos órgãos de comunicação a sério, como o "Observador" ou o "Expresso Diário") a percentagem de utilizadores pagos deve ser diminuta.
Sem dinheiro de vendas, sem dinheiro proveniente da venda de publicidade, sem as receitas dos anúncios classificados (à excepção, talvez, do "Correio da Manhã"), com os profissionais veteranos afastados, despedidos ou reduzidos a posições de chefia burocratizadas, o que resta? O jornalismo estatístico da máquina de calcular que serve para manchetes e títulos de primeira página delirantes e de leitura difícil e mais lenta. No polo oposto, o jornalismo de investigação extinguiu-se.
E as revistas? As que se querem "informativas" (as "news magazines") também perdem compradores e nem as suas migrações pelos domínios dos guias turísticos as salvam. Aparentemente, as revistas "côr de rosa" são as únicas que sobrevivem.
Neste quadro, a hipótese de o Estado vir a apoiar financeiramente é um erro, uma estupidez e um desperdício.
Não é a atirar com dinheiro para resolver problemas laborais, pagar a fornecedores ou assegurar salários que faz renascer o jornalismo profissional e competente.
Compreende-se o desespero da associação do sector e do grupo que detém o "Expresso" (que, recorde-se, já teve de vender património), mas estamos num mercado livre e, se os jornais e os jornalistas não sabem reinventar-se, atirar-lhes com dinheiro só serve para adiar a extinção.
A única excepção deverá ser a dos jornais regionais, que têm alguma utilidade, apesar de serem muito débeis em tudo, até na qualidade. Vendidos por assinatura, na maior parte dos casos, deviam poder beneficiar do regime de "porte pago".
Ir além disto é deitar dinheiro à rua.