segunda-feira, 15 de outubro de 2018

Toulouse Polars du Sud: uma lança... em França



Na sessão de abertura da décima edição do festival internacional de literaturas policiais, Toulouse Polars do Sud (TPS), que se realizou no passado fim de semana nesta cidade francesa, um pequeno desfile de discursos institucionais terminou invariavelmente em… Espanha. 
Os oradores referiam-se à participação de autores de Itália, Grécia, Espanha e... mais nada. Portugal, e Toulouse até tem uma grande comunidade portuguesa, não existe.
Não surpreende. Por muito que se exibam certos nomes de fama, a literatura portuguesa continua a ser mal conhecida mesmo num país como França e, no caso vertente da literatura policial (o "polar"), ainda menos.
Este festival, que reúne todos os anos muitas dezenas de autores franceses e estrangeiros (com obras publicadas em França), nomeadamente dos países do sul da Europa, teve em dez anos a presença de apenas dois autores portugueses: o portuense Miguel Miranda (que também escreve para o público infanto-juvenil) há dois anos e eu, este ano, com a particularidade de o meu "Mort sur le Tage" ter chegado à "finalíssima" do grande prémio do TPS, o prémio Violeta Negra.
E foi por isso que na mesa-redonda em que participei, com o tema "A paisagem do 'polar' ibérico", eu tive de explicar que não havia um "polar" ibérico mas sim espanhol, obviamente dominante, e nenhum português. Por vários motivos, dos quais alguma responsabilidade cabe às editoras e outros são sistémicos.


Com os meus colegas escritores de Espanha, Agustin Martinez, Carlos Salem, Carlos Zanon e Alexis Ravelo.

É também por isso que a publicação de "Mort sur le Tage" em França (em primeira edição pela Chandeigne e, em segunda, pela Livre de Poche), a que se seguirá "O Clube de Macau", tem importância para as letras portuguesas. 
Neste domínio, o pequeno país do fundo da Europa ainda existe, mesmo que drasticamente reduzido a um autor que optou por não escrever outras coisas ou, de forma mais abrangente, a autores que às vezes se dedicam ao género.
Toulouse, na sua multiculturalidade tão vasta, foi, de certo modo, o local emblemático ideal para o reafirmar. E o TPS o cenário também emblemático. 
O festival Toulouse Polars du Sud é um festival informal, simpático,  amável, bem organizado e com apoio de empresas e entidades oficiais locais. E com muito público, que acorre a Basso-Cambo (uma espécie de subúrbio onde se chega por uma linha de metro com pequenos comboios de velocidade impressionante e sem condutores) para comprar "policiais" diversificados, que interpela os autores, que lhes pede autógrafos descontraidamente e que vai às sessões e às diversas mesas-redondas, bem organizadas e esclarecedoras.
Talvez o TPS precise ainda de alargar tecnicamente alguns horizontes (os prémios, de modo a poder abranger sensibilidades e situações diferenciadas, ou a ligação da literatura com o cinema e com a televisão contemporânea, por exemplo) mas está sem dúvida no bom caminho. E da melhor maneira. Para este autor, foi, "no pun intended", uma verdadeira lança… não em África, mas em França.
O que também faz com que à editora Chandeigne, à editora Livres de Poche e aos muitos leitores, livreiros e "bloggers", se junte agora o TPS aos agradecimentos devidos pelo autor.



O autor, com os seus livros da primeira edição francesa, 
na zona das "dédicaces", ou seja, dos autógrafos. E foram muitos...


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