"Ó senhor presidente, dê aí um subsidiozinho..." |
Que a "Gazeta das Caldas" (ou só o seu director?) nutre um fascínio cúmplice pelo presidente da Câmara Municipal de Caldas da Rainha já se sabe. Mas, mesmo sabendo-se, seria difícil pensar que a coisa fosse tão longe.
A manchete de hoje deste jornal regional (que se reivindica de certos pergaminhos) é um incomensurável frete ao PSD local e uma vergonha para o jornalismo.
A "Gazeta das Caldas" tem a obrigação de perceber tudo aquilo que qualquer pessoa com um mínimo de sentido político e de compreensão das realidades facilmente vê.
A Câmara Municipal de Caldas da Rainha leva a sua influência avassaladora a um número indeterminável de habitantes da região (ou seja, eleitores) e fá-lo através do mais simples dos elementos: o dinheiro.
É o pessoal que trabalha nas estruturas municipais, são as associações mais diversas do concelho, são as empresas daqui e dos arredores (e que aqui contratam) chamadas para as mais variadas obras públicas. De uma forma ou de outra, é a Câmara a financiar grande parte deste universo. E na Câmara manda o presidente. Portanto, convém manter tudo como está.
E não é só o dinheiro que pode influenciar ou determinar o sentido de voto dos eleitores.
O presidente da Câmara Municipal de Caldas da Rainha beneficiou de uma campanha propagandística que começou, praticamente, com a sua chegada ao poder, ainda em 2013. Festas, obras, espectáculos, iniciativas diversas... O candidato do PSD local que tanto embevece este jornal esteve em todas. (E foi assim, também, que o PS conseguiu melhores resultados nas eleições locais. Será de pensar que a "Gazeta" está de acordo com estes procedimentos?)
O candidato esteve também em numerosas fotografias da própria "Gazeta". E várias vezes na mesma edição do seu rival, o "Jornal das Caldas" que, pelo menos, mantém algum distanciamento institucional com a Câmara.
Um jornalismo sério (que pode ser praticado mesmo quando o director de um jornal não é jornalista) exporia estes simples factos. Que explicam que a vitória (venerada também, com direito a "Dr. Tinta Ferreira" e tudo, na coluna de opinião da última página) até foi, afinal, diminuta. Controlando, como controla, a vida do concelho, até admira que a percentagem não fosse aos 100 por cento.
Este frete ao poder (significativamente ao lado de um texto do director a lamentar-se por a vida "não estar fácil" para a imprensa regional...) consegue ser até mais do que um frete.
O estilo ordinário da opinião final recomenda que disto se diga que, mais do que um frete, o modo como a "Gazeta das Caldas" se pôs de joelhos perante o poder do PSD local é mais próprio de um... alfinete de peito. Que engula até ao fim e que lhe faça bom proveito.
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O jornalismo apoia-se em factos (ou deve fazê-lo, se não ressalva que se trata de especulação ou opinião).
Não há, neste lamentável caso, um único elemento que sustente a manchete.
Não é pela "Gazeta das Caldas" que ficamos a saber, por exemplo, qual é a percentagem obtida pelo PSD a nível nacional e qual a percentagem obtida pelo PSD caldense. Nem em câmaras municipais, nem em assembleias municipais, nem em assembleias de freguesia. Nada. Zero absoluto.
E, tecnicamente (e deontologicamente), só pela comparação entre percentagens é que se poderia chegar a uma comparação entre o PSD de Caldas da Rainha e o PSD nacional. Na sua ausência, e mesmo só considerando o aspecto factual, a manchete da "Gazeta" não é notícia. É só opinião. Mas sem sustento no veículo que usa.
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