sábado, 28 de outubro de 2017

Droga, loucura e morte


Julgo que já terá havido algumas referências ao uso de drogas no III Reich mas, se houve, nada terá sido como exaustivo como "Delírio Total".
O seu autor, o jornalista alemão Norman Ohler, partiu de uma ideia que daria uma boa história ficcional para uma investigação aprofundada que o levou a arquivos estatais, sobretudo na Alemanha.
O que desse seu trabalho resultou foi um retrato rigoroso de uma faceta menos conhecida dessa época alemã: o modo como as drogas artificiais foram sendo "descobertas" pela sociedade para depois serem aperfeiçoadas e trabalhadas em laboratório, já sob controlo militar, para uso pelas forças armadas na Segunda Guerra Mundial e, muito em especial, pelo próprio Hitler.
O uso generalizado dos estimulantes químicos no início da ofensiva militar encabeçada pelos blindados, a descrição das experiências nos campos de concentração, a sua aplicação pela marinha já no final da guerra e a horrenda degradação de Hitler, às mãos do seu médico pessoal (que ampliou a loucura de Hitler pelo uso das mais extravagantes substâncias) são páginas inesquecíveis deste livro e a sua descrição da degradação mental e física do Führer não se recomenda aos mais impressionáveis.
Revelando e explicando o uso de drogas na Alemanha nazi, Norman Ohler acrescenta à tenebrosa loucura dos nazis um elemento adicional que nada desculpa: um estado de absoluto delírio em que um ditador e a sua corte mergulharem, em todos os domínios possíveis, na maior abjecção que imaginar se possa.
"Delírio Toral" é uma tradução minha, do alemão, para a Vogais (editora 20|20).


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