O actual chefe do Governo e secretário-geral
do PS precisa, tal como o seu partido, de eleições legislativas até ao final
deste ano ou no começo do próximo, dois anos depois das eleições legislativas
de Outubro de 2015 e dois anos antes das eleições de 2019.
E eis porquê:
1
O PS foi derrotado nas eleições de
Outubro de 2015. Mas está no Governo porque o seu secretário-geral que perdeu
as eleições fez um arranjo com os dois partidos da extrema-esquerda parlamentar
para lhe sustentarem um governo.
O Governo em funções, e que decorre desse
arranjo, tem legitimidade constitucional mas não tem legitimidade democrática.
O seu poder não decorre dos votos expressos.
O actual chefe do Governo, depois de
dois anos de coligação parlamentar e de um Governo que diz não ter problemas,
precisa de legitimar o seu poder nas urnas.
Já mostrou tudo aquilo que pode fazer –
tem agora de consultar o eleitorado sobre se deve ser esse o rumo.
2
O PS tem beneficiado do silêncio
cúmplice do BE e do PCP, que perante tudo se calam e a tudo dizem que sim. Há
uma zona de sombra: estes partidos fazem-no convictamente, consideram que é
isto que quer o seu eleitorado ou estão a “pagar” alguma coisa do negócio
político que fizeram?
Indo a eleições, o PS tornará
completamente clara a relação que mantém com a extrema-esquerda parlamentar (e
esta clarificará a sua posição perante o seu próprio eleitorado).
3
Este Governo está, em algumas coisas que
até parecem ser essenciais, dependente dos seus aliados da extrema-esquerda.
Novas eleições legislativas também esclareceria a situação: o eleitorado quer
que o PS governe em minoria no Parlamento ou acha que deve ter a maioria
absoluta? Só eleições podem responder a esta pergunta.
4
Foi o PSD do então primeiro-ministro
Pedro Passos Coelho que ganhou as eleições de Outubro de 2015.
Desde então, as sondagens (de uma ou
duas empresas) que vão sendo publicadas indicam que o PSD está bastante atrás
do PS em termos eleitorais.
No entanto, o chefe do Governo continua
a atirar-se ao PSD como se receasse que este partido pudesse recuperar o lugar
de vencedor de Outubro de 2015.
A realização de eleições antecipadas
também seria clarificadora neste aspecto: uma derrota do PSD seria, obviamente,
uma derrota de Pedro Passos Coelho, que poderia, nesse caso, sair do palco
político.
É certo que o PS precisa de um bode expiatório para tudo o que lhe
corre mal e que esse bode expiatório é o anterior Governo, mas já está na
altura de o PS se libertar desse complexo e assumir, com a legitimidade das
urnas, tudo aquilo que tem sido e é seu desde Outubro de 2015.
5
O PS aparece demasiado dependente do
Presidente da República que, às vezes, até parece ser o primeiro-ministro do
primeiro-ministro. Também é certo que, por outro lado, é muitas vezes o PR que parece
demasiado dependente deste Governo e do PS, como se alguma coisa houvesse que o
estivesse a fazer refém do PS.
Também neste domínio a legitimidade
democrática das urnas resolveria o problema e evitaria, caso o PS ganhasse
(como o indicam as sondagens, de uma ou duas empresas, que têm sido
publicadas), que um dia o PR, por hipótese, lhe atirasse à cara que ele, o PR,
ganhou as eleições nas urnas e que o PS só ganhou o Governo nas secretarias
parlamentares.
6
As eleições autárquicas de 1 de Outubro traduzir-se-ão
numa vitória do PS ou numa vitória do PSD e, respectivamente, numa derrota do
PSD ou numa derrota do PS. Ao indicar desde já, e antes de 1 de Outubro, a sua
vontade de ir para eleições antecipadas, o secretário-geral do PS e chefe do
Governo daria o passo lógico em qualquer um dos cenários: se perder as eleições
autárquicas, pode desforrar-se nas urnas nacionais; se ganhar, pode reforçar o
seu poder.
7
Derrotado nas urnas em 2015, o PS não
pode ter medo de se sujeitar a novo escrutínio.
O seu secretário-geral e chefe
do Governo tem de mostrar, com toda a clareza, que não é um homem com medo.
Se não se lançar a eleições para
legitimar o seu poder, toda a gente pode concluir que ele é, realmente, um
homem medroso.