Tive, em tempos, a possibilidade de conviver profissionalmente com um especialista de comunicação e marketing que era também professor num curso superior de Marketing. E, tendo visto de perto uma parte da formação e da actividade deste sector, até fiquei com boa impressão do que estava a ser feito nesta área.
Nos últimos tempos, porém, comecei a ter sérias dúvidas, mas não apenas como consumidor. Sou indiferente à publicidade que aparece na televisão generalista (que não frequento), não me deixo influenciar por campanhas e ainda vou suportando a publicidade que aparece nos sites da comunicação social (que os torna quase infrequentáveis). Já me custa mais aguentar os anúncios idiotas do YouTube, onde conseguem ser piores e mais miseráveis os anúncios das empresas que têm dinheiro para contratarem marketeers a sério.
É como destinatário directo que encontro exemplos de amadorismo, de falta de profissionalismo, de irracionalidade e de muitos outros disparates que só podem prejudicar as empresas de onde saem os e-mails reveladores que recebo.
Durante dez anos, e até 2021, fui sócio-gerente de uma micro-empresa criada com objectivos que cumpriu, e que encerrou a sua actividade de forma muito natural (beneficiando do apoio extraordinário de um contabilista certificado competentíssimo). O encerramento seguiu todos os trâmites legais e a empresa já não existe.
Porém, como o meu endereço de e-mail lhe ficou associado, continuo a receber correspondência dirigida a essa empresa. De outras empresas que me querem vender as coisas mais extraordinárias e mais incompatíveis com a actividade da minha micro-empresa, que me aliciam para negócios decerto muito bons com fundos europeus e do Estado português, que me querem vender quantidades enormes de produtos que nem me interessam.
São, pelo que percebo, e-mails atirados à toa, sem qualquer tipo de trabalho de casa, tanto no que se refere aos produtos que me querem vender como na completa desadequação do destinatário. Porque estão a querer vender coisas a uma empresa que nem sequer percebem que está fechada e nem sequer se preocupam em tentar perceber, pelos códigos de actividade, que a empresa destinatária não poderia querer, por exemplo, paletes.
Por exemplo:
Não há muito tempo, uma empresa com sede no Alentejo quis vender-me cabazes de Natal com produtos alentejanos para eu depois oferecer a "colaboradores" e clientes e, no e-mail que me enviou, garantiu-me que a minha micro-empresa tinha, neste preciso momento, uma grande visibilidade e um grande êxito no concelho onde teve a sua sede. A coisa era completamente absurda porque a minha micro-empresa nunca teve nenhum cliente no concelho da sua sede, onde, no entanto, gastou dinheiro em bens e serviços e onde pagou todos os impostos devidos.
Um dos remetentes de uma coisa dessas reagiu ao meu e-mail padrão, com que respondo a essas propostas, que a informação sobre a minha empresa é a que existe on line e acho que me remeteu para um qualquer site dos que acumulam informações díspares sobre empresas.
Julgo que não é impossível encontrar um site estatal onde estejam as informações básicas sobre as empresas, cuja criação e extinção é controlada pelo próprio Estado. Mas foi em minutos que descobri um site de uma empresa que reúne dados sobre empresas (Racius). Nesse site, há duas informações contraditórias: a minha empresa é dada como estando a funcionar há 14 anos (quando, recordo, fechou em 2021) mas está registado que houve dissolução e liquidação.
Suponho que qualquer actividade promoção de uma marca ou dos serviços e produtos de uma empresa requer um trabalho prévio de pesquisa e de recolha de informação. De qualquer modo, como é evidente, a pesquisa dá trabalho e enviar e-mais em massa é muito mais fácil. É o que fazem estes marketeers. Que haverá de errado na sua formação, ou na sua actividade profissional? Ou mesmo no seu raciocínio?