O jornalismo até pode ser panfletário e reflectir, desde que com toda a transparência, uma determinada posição ideológica, ou política, individual ou do meio de comunicação em que o jornalismo é praticado.
Só que, nestes dois casos que aqui cito, não há transparência. Num deles, no "Público", há uma postura clara de parcialidade e, no segundo exemplo, no "Expresso", junta-se à festa e à falta de imparcialidade uma clara postura de ódio. E o ódio cega.
Vejamos. No caso do "Público", onde é claro o favoritismo pelo governo de Kiev, aceita-se a exibição de prisioneiros de guerra apesar de a Convenção de Genebra o proibir no seu artigo 13.º E, neste caso, à exibição dos combatentes de origem chinesa que são aqui dados como "mercenários", junta-se a perspectiva de via única para o conflito: a Rússia tem "mercenários", mas o governo de Kiev, com os seus grupos de combatentes de outras nacionalidades, não tem nada que se pareça. E o "Público" não quer saber "o que leva os mercenários ao serviço do governo de Kiev a arriscar a vida pela Ucrânia"...
A mesma perspectiva é adoptada pelo "Expresso", que também favorece o governo de Kiev e que publica exactamente a mesma fotografia:
Há, nisto, uma curiosidade suplementar: o "Expresso" identifica a origem da fotografia e o "Público" (contra o que é habitual) não. E a fotografia é, naturalmente, de origem ucraniana: da agência Global Services Ukraine.
E é no "Expresso" que encontramos mais um exercício de ódio. Tal como não gosta do presidente americano, Donald Trump, que mimoseou com dezenas de textos desmesuradamente críticos, o "Expresso" não gosta do primeiro-ministro húngaro, Viktor Orbán. E num texto longo, de três páginas, que é uma espécie de crónica de viagem por Budapest, a única imagem que tem deste seu objecto de ódio é ... uma imagem distorcida do rosto do primeiro-ministro húngaro.
A questão é, apenas, jornalística: quando se alude a uma personalidade pública, e neste dimensão, há que mostrar-lhe o rosto, mesmo que a par com qualquer caricatura. É, apenas, uma questão de identificação.
Neste caso, prevalece o ódio e desaparece a informação. Esta secção do "Expresso" arvora como lema "Liberdade para pensar". Nada é mais falso, porque aqui a liberdade é inexistente.