“The Last Ship” é uma série de ficção científica americana que passou no canal americano TNT entre 2014 e 2018, num total de 56 episódios divididos por cinco temporadas. Não sei se passou em algum canal da televisão portuguesa, mas está disponível no Prime (Amazon).
A série tem como herói o comandante Tom Chandler, da Marinha dos EUA, capitão do navio de guerra “Nathan Jane”, navio que, por força do acaso, se torna o último reduto onde se encontra a vacina capaz de curar a humanidade de uma pandemia mortífera. Tom Chandler (convictamente interpretado pelo pouco conhecido Eric Dane) é o militar que, contra todos os ventos e marés e de armas em punho, vai salvar o mundo.
Vi “The Last Ship” em 2023, já três anos depois da mais sobrevalorizada pandemia de toda a história da humanidade, e achei a série interessante. E, em certa medida, quase profética, sem nunca deixar de a ver por aquilo que é: uma história de ficção científica.
Acredito, no entanto, que terá havido na Marinha um homem que a viu de maneira diferente, sentindo-se inspirado pelo comandante Tom Chandler. Mas só até certo ponto, porque o modesto, valoroso e heróico Chandler não quis enfeitar-se com os galões da salvação do mundo, acabando por voltar costas à carreira política a que podia lançar-se. E esse homem quer enfeitar-se com os galões da salvação do mundo e fazer carreira política.
Gouveia e Melo, esse militar da Marinha que deve ter ficado fascinado pela personagem de Tom Chandler, não se mostrou modesto como o seu potencial ídolo. E acredito que, durante ou depois do processo da polémica vacinação contra a doença da pandemia do vírus SARS-CoV-2, a covid-19, pode ter pensado que também era, à escala nacional, um salvador do mundo e que, se Tom Chandler tinha um navio, ele poderia ter um trono... em Belém.
Não se sabe quais foram as circunstâncias que levaram o almirante português Gouveia e Melo, que nesta altura ainda é chefe do Estado-Maior da Armada, à posição que lhe permitiu assumir o papel de “star” do processo de vacinação em massa de 2020, depois de os políticos e os “especialistas” mais duvidosos garantirem à população nacional aterrorizada que uma vacina tipo “fast food” iria exterminar o sobrevalorizado vírus SARS-CoV-2 e a sua sobrevalorizada doença covid-19.
Quem é que se lembrou de Gouveia e Melo para comandar a logística das vacinas? Houve alguém que soprou o seu nome a quem iria decidir? Ou terá sido o próprio, sempre inspirado pelo comandante Tom Chandler, a fazer-se ao lugar? Ou?...
A distribuição da vacinas, criadas à pressa e com consequências que só mais recentemente começam a suscitar ainda mais preocupações de natureza clínica, respondeu na perfeição ao medo que os políticos, os tais “especialistas” e a imprensa oficial conseguiram instilar numa população a quem nunca foram disponibilizadas outras perspectivas.
Além disso, a distribuição das vacinas veio com o bónus de ser comandada por militares, com Gouveia e Melo trajado a preceito para aquilo que ele próprio designou por “guerra”, o que caiu bem na população por outro motivo: os militares sempre conseguiram impressionar a débil população portuguesa, sendo vistos como “salvadores” sobretudo quando essa mesma população anda assustada e confusa.
Foi o que aconteceu em 28 de Maio de 1926, em 25 de Abril de 1974 e em 25 de Novembro de 1975. E foi também o que aconteceu com Gouveia e Melo. Com a particularidade de, ao contrário dos seus camaradas que sempre deram o primado à política feita pelos políticos contra a política feita pelos militares, Gouveia e Melo ter um discurso claramente belicista e militarista. A agilização do processo logístico das vacinas era uma “guerra” e, já como chefe do Estado-Maior da Armada, só lhe faltou dar ordem de marcha aos seus navios para irem para o Donbass combaterem contra os russos (porque o Mar Negro nunca seria suficiente para as suas ambições).
Terá sido apenas Tom Chandler a inspirar-lhe o desejo de ser Presidente da República e comandante dos três ramos das Forças Armadas? Terá sido uma epifania ou uma revelação espiritual? Terá sido uma decisão individual e muito pessoal? Terá sido um desígnio de família? Terá havido quem, na política como na imprensa e noutras esferas de poder, lhe massajasse suficientemente o ego para ele se achasse o melhor de todos?
A origem da coisa é nebulosa. Mas a ambição, legítima, claro, existe: Gouveia e Melo quer ser Presidente da República. Melhor: até tem pressa em ser Presidente da República.
A pressa, no entanto, é má conselheira, independentemente dos apoios que já possa ter garantido. Alguns presidentes de câmaras municipais já o idolatram, já conseguiu (a fazer fé no “Tal & Qual”) entrar nessa bolha influente que é a maçonaria, há jornais a apoiarem-no (o “Sol/Nascer do Sol” e o “Diário de Notícias”) e o “kingmaker” Luís Paixão Martins já o elogiou.
Aliás, pelo que se tem visto, é plausível que Gouveia e Melo já tenha alguma agência de comunicação a trabalhar para si (embora não a LPM que Luís Paixão Martins fundou), tal como é plausível que já beneficie do apoio dos sectores mais belicistas da NATO e dos “neocons” americanos. De onde, como é também plausível, há de sair outro tipo de apoio, mais palpável. Haverá, por aí, mais dinheiro para campanhas políticas do que no Portugal pelintra. Até porque, convenhamos, os adeptos da guerra hão de querer um presidente militar (e de discurso belicista) em Portugal, país que tem uma posição geoestratégica sugestiva na NATO e fora dela.
A campanha que visa levar Gouveia e Melo a Belém já começou. Mas sobreviverá ao próprio Gouveia e Melo, e à sua ansiedade pré-eleitoral?
Devendo deixar o cargo e passar à reserva apenas em Fevereiro ou em Março de 2025, o ainda chefe da Marinha já pediu a antecipação da saída, declarando que assim não ficaria privado dos seus direitos cívicos. Ou seja, há de querer começar a intervir ainda mais e, se se fala nela talvez, anunciar já a sua candidatura. Embora as eleições presidenciais só se realizem em Janeiro de… 2026.
Aliás, a evidência de que Gouveia e Melo é uma pessoa apressada está bem à vista no mais recente número da revista da Marinha (de que ele ainda é o chefe), onde apareceu a equiparar-se… a um rei, já! Em concreto ao rei português que ficou conhecido por “Príncipe Perfeito”. Numa publicação que está sob a sua supervisão e que é paga com dinheiros públicos.
A pressa, em política como noutras coisas, pode dar mau resultado. Já alguém, entre os seus apoiantes e quem trabalha para a sua candidatura, lhe terá dito isso?
A ambição de Gouveia e Melo, que o próprio não esconde, até pode vir a ser-lhe mais prejudicial do que benéfica. E vir a dar cabo da sua própria candidatura, num processo simplesmente autofágico.
Calcula-se que Gouveia e Melo saiba disparar torpedos mas de guerras de atrição sabe pouco...
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