segunda-feira, 5 de março de 2018

A triste história do Flipe



Quando era mais novo, o Flipe gostava de vir brincar (incansavelmente) com a Elsa. Agora limita-se a esperar, ansiosamente, pelo momento em que saio de manhã e à tarde, com a Elsa e a Joaninha, para nos acompanhar.
É simpático, deixa-se cumprimentar, deve pesar uns dez quilos, é ágil, tem um ladrar divertido e mantém o hábito de atirar as patas da frente às pernas alheias, o que se torna um aborrecimento por estar sempre sujo de terra.
O Flipe (os seus proprietários - se é que o são, juridicamente - chamam-lhe outra coisa, mas ele responde por este nome) é tipo menino da rua. Durante grande parte do dia, e durante a noite, é deixado ao abandono. Em casa nem entra.
Tentaram impedi-lo de sair da propriedade (para dar os seus passeios, coisa que os proprietários não fazem) mas ele arranjou sempre maneira de arranjar uma saída. Fizeram uma espécie de campo de concentração mas ele arranjou sempre um buraco para se esgueirar. Ainda andou com uma coleira e um número de telefone, mas agora já não os tem. É como se pensassem: que desapareça e de vez, que chatice!...
O comportamento do Flipe é linear. O dos seus proprietários não é. Nem percebo porque é que têm cão. Pode ser que, em vez de um cabrito ou de qualquer outro presente de médico, lhes tenham oferecido o cãozinho. 
Por duas vezes, o proprietário passou de carro por nós (eu, elas... e o Flipe) sem ligar ao próprio cão, com a velocidade tonta, mas nele habitual, de quem quer mostrar-se sempre ocupado, e arriscando-se mesmo a atropelá-lo; noutras duas vezes, em que passou com a mulher dele no carro, parou e ela chamou o Flipe, que lá foi contrariado para dentro do veículo. 
Uma coisa é certa: esta gente não merece o Flipe e o Flipe merecia melhor. E o que esta gente merece, em alternativa e como castigo, nem o devo aqui escrever...


*

O Flipe, entregue à sorte durante o dia e durante a noite, tem o hábito de lamber a urina deixada pelos outros cães nas plantas e no chão. Sabê-lo-ão, os seus "donos"?





Ninguém passeia o Flipe e ele, sempre atento, aparece de manhã e à tarde para partir connosco.
Acompanha-nos em parte do caminho, depois desaparece, à procura de gatos ou do namorado (sim, namorado...), que dá pelo nome de Faustino. Às vezes regressa connosco, outras vezes não.


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