terça-feira, 31 de janeiro de 2017

An idiot with a dog (versão inglesa de "Idiota com cão")

Na zona rural onde vivo, tenho visto mais estrangeiros do que portugueses a passear os seus cães.
Fazem-no regularmente, educadamente, com a trela pronta se optam por os levar soltos. E evitam confrontos cão-cão, o que me faz ser mais exigente com a minha Elsa, pastora da Anatólia de 35 quilos, que acha que o terreno é todo seu, para também evitar mal-entendidos. Desviam-se, desvio-me eu, há um jogo diplomático civilizado.
Mas de repente, como às vezes acontece, entrou em cena um novo passeante estrangeiro, aparentemente inglês. E com ele, estupidamente à solta, anda um cão muito pequeno, uma espécie de micro-cão, uma criatura feia e irritante que, andando solto (com o homem dois metros atrás), resolveu embirrar com as minhas Joaninha e Elsa. E elas com ele.
Esta tarde, e quando eu já estava a sair com elas, apareceu-me o micro-cão, a subir a rampa que elas queriam descer... para irem passear, que era essa a ideia, e para o apanharem.
O micro-cão avançava, numa investida provocatória agravada pelo facto de elas estarem ainda em casa, praticamente, e o "gentleman" lá vinha atrás.
Deste lado, em plano inclinado, a Joaninha e a Elsa protestavam e puxavam. Os puxões da primeira, com os seus 15 quilos, são contidos com um dedo mas os da segunda requerem o corpo todo. E com a força da gravidade a ajudar, a situação tornava-se mais complexa.
Felizmente que o micro-cão parou por iniciativa própria. Mas, note-se, sem que o idiota o tivesse chamado uma única vez. E teve de ser essa mesma criatura de duas pernas a ir buscar a de quatro, antes que houvesse uma situação mais grave.
Fiquei a pensar que o micro-cão esteve quase a ser devorado, se por acaso avançasse mais. Talvez o merecesse...

Trump & Costa, SA




Um ganhou as eleições, o outro não.

É possível que Donald Trump seja um bom pai de família. E que saiba comer à mesa. Que não mastigue de boca aberta, que não coce o cabelo com o garfo, que não arrote nos intervalos entre os pratos.
Mas é certo que a personagem, na sua aparência, não é atraente. O casaco, ou sobretudo, tipo fraque, a gravata que lhe vai às partes, o tom alaranjado da pele, o penteado que já foi parecido com um ninho de pássaro e que agora se apresenta mais alisado…  E há o modo como fala, ligeiramente inclinado para a frente, como se fosse cuspir palavras mais acesas contra os seus interlocutores. Nota-se, no entanto, que anda divertido. O que não lhe diminui a arrogância e a sobranceria, típicas de quem não terá tido de depender muito dos outros no seu percurso de poder.
Trump foi eleito, respeitados os mecanismos do sistema político presidencialista dos EUA, presidente de um dos países maiores e mais fortes do planeta. O que anunciou e o que já parece ter decidido, em termos políticos, agitou mais opiniões do que o “macartismo” e as políticas conservadoras de Bush pai e filho no seu conjunto. E a estas, convém ter presente, a democracia americana sobreviveu, tendo o sistema dado um sinal claro de vitalidade quando obrigou Richard Nixon a demitir-se.
Trump chegou ao poder, e legitimamente, na mesma época em que o fez o português António Costa. É uma época de opiniões extremas, de instabilidade ideológica, de desequilíbrios mundiais que põem criaturas que se têm em grande conta a anunciar, semana sim, semana não, que vem aí a III Guerra Mundial.
António Costa, por seu turno, também há de ser, certamente, um bom pai de família. Saberá decerto comer à mesa, embora o modo como mastiga e expulsa as palavras da boca possa fazer temer o pior se, por exemplo, quiser falar e mastigar ao mesmo tempo. 
Como Trump também não se pode dizer que seja atraente na sua aparência. A carapinha cortada curta evita acidentes mas depois o ventre dilatado não atenua as más impressões. Dá ideia de que os fatos que usa datam de quando ainda não tinha começado a engordar. As imagens do actual primeiro-ministro português aos saltos, de braços levantados, durante a sua campanha eleitoral, até conseguem ser hilariantes mas a sua fotografia na praia num revista “cor-de-rosa” está longe de provocar sentimentos idênticos.
Ao contrário de Trump, porém, Costa não foi eleito. Nem, mais precisamente, estava à frente do partido que ganhou as eleições legislativas de Outubro de 2015. 
Costa era, como é, o chefe do partido derrotado nas eleições. E chegou ao poder através de uma declaração informal de desrespeito pelos mecanismos do sistema político parlamentar português, estribado numa aliança (escondida no período eleitoral) com outros dois partidos derrotados. 
Depois da instabilidade do PREC (onde o PCP e a extrema-esquerda nunca conseguiram ter tanto poder como se diz que tiveram), é a primeira vez que o País se vê governado por uma aliança que reúne os socialistas, sociais-democratas e radicais de esquerda do PS e uma plêiade de trotsquistas, estalinistas, maoístas, marxistas-leninistas, comunistas revisionistas e neocomunistas. Não se sabe se o País lhes sobreviverá, e como.
Costa, como Trump, parece andar divertido. Mas as suas graçolas têm um certo travo a desespero de quem sabe que está no poder com uma legitimidade diminuída. E é também isso que inspira a arrogância e a sobranceria que exibe, e que aliás lhe são características.
Politicamente, Costa e os seus aliados não puseram em prática um programa de governo mas um programa anti-governo: desfazer o que estava feito e o que devia ser continuado a fazer, ou adaptado mas não negado. Nisso já se separa de Trump: Costa sabe o que não quer, Trump sabe o que quer.
Nenhum deles, verdadeiramente, se recomenda. E só se pode estranhar que as boas almas lusitanas que se arrepelam e berram contra o presidente eleito dos EUA se calem, envergonhadas ou parolas, perante o primeiro-ministro de Portugal que não ganhou as eleições.



segunda-feira, 30 de janeiro de 2017

Kruchtchev era "retundo" e "vocês" escreve-se "voçês" (1)



O “Expresso” anunciou, com pompa e circunstância, o lançamento de uma biografia de Estaline, distribuída com o jornal. A biografia é da autoria de um historiador inglês, Simon Sebag Montefiore, e foi editada em Portugal pela Aletheia, encontrando-se a edição actualmente esgotada, segundo o site Wook.
Este lançamento teve um duplo prefácio de Francisco Louçã e Paulo Portas (que não devem ter lido a edição portuguesa), direcção editorial (do projecto) de Henrique Monteiro e da Aletheia, gestão de projecto de Susana Freixo, edição e revisão de Gonçalo Losada Rodrigues e tradução de Mário Dias Correia.
Comecei a ler o primeiro volume e não gostei de duas ou três soluções da tradução.
Depois tive de me munir de uma caneta vermelha para acompanhar a leitura e começar destacar coisas como: “atravessando a raiga” (taiga?), “reitor indiscutido”, “retundo jovem”, “arquivos recentemente desclassificados”, “a massa de trabalho é tão enorme”, “moderno gestor macho”, “construção vandalística”, “exercia o seu patronado”, “jogamos bowling e boliche”… até parar na página 178 quando se me deparou uma nota de rodapé que termina em “voçês são todos ateus”.
Umas vezes parece que a tradução foi feita pelo “tradutor” do Google, outras vezes (a maior parte delas) que alguém envolvido na tarefa não sabe escrever em português ou que sofre de iliteracia. Seja como for, o certo é que esta edição, a avaliar pelas 178 páginas iniciais, é uma vergonha.

O livro na edição "Expresso"


"Bowling" e boliche (versão brasileira) são uma e a mesma coisa


Quando os arquivos ficam "declassified", significa que foram abertos à consulta pública.


"Raiga" por "taiga"

Onde "rotundo" passou a "retundo"

"Tão enorme"?!

"Construção vandalística"?!

"Voçês"?!

sexta-feira, 27 de janeiro de 2017

Dois pesos, duas medidas


O primeiro-ministro português é arrogante, sobranceiro, a roçar a boçalidade, chega a ser insultuoso. O presidente americano é arrogante, sobranceiro, a roçar a boçalidade, chega a ser insultuoso.
O primeiro, derrotado nas eleições legislativas, tomou o poder através de um acordo com partidos também derrotados nas eleições. O segundo ganhou as eleições.
Gostaria de ver os mesmos (e as mesmas) que dizem "cobras e lagartos" do presidente dos EUA a olharem com "olhos de ver" para o primeiro-ministro português...

Quanto tempo demora a pavimentar uma rua?


E ela lá está, quase no centro da cidade de Caldas da Rainha, a Rua da Rosa: esventrada, à espera de um pavimento novo, à espera há quanto tempo? Pelo menos uns três meses. Até arriscaria mais.
É uma característica de Caldas da Rainha: os atrasos nas obras públicas.


À espera.


Os moradores, felizmente, já perceberam que ficarem calados não resolve nada e já esboçaram um protesto.


Fartos de esperar.


Estamos, nem há a menor dúvida, no reino do desmazelo camarário. Mais de um mês depois do Natal, a famosa "árvore de Natal" de Caldas da Rainha lá continua, agora apagada.
Ficará assim até ao Natal deste ano?


À espera... do Natal deste ano?

segunda-feira, 23 de janeiro de 2017

"The Young Pope": a nova TV

Se dúvidas houvesse sobre o memorável ressurgimento da televisão como peça central do entretenimento audiovisual bastaria a mini-série "The Young Pope" (canal TV Séries, em Portugal) para o ilustrar.
Criada e realizada pelo italiano Paolo Sorrentino, é uma produção da americana HBO, com o actor inglês Jude Law no papel de um papa saído dos EUA que assume o nome pontifical de Pio XIII.
Enganadora de início, mas com um genérico inicial que diz tudo (e que pode ser visto através da imagem em baixo), "The Young Pope" desenrola-se num Vaticano assolado pelos novos tempos de dúvida religiosa e política e consegue alcançar vários prodígios: um tom irónico e irreverente (mas não iconoclasta), uma concepção visual que por vezes faz lembrar os filmes de Peter Greenaway, interpretações muito seguras e a capacidade de divulgação da HBO e, em termos de tendências, um encontro feliz entre o cinema "de autor" europeu com a televisão comercial dos EUA.
"The Young Pope" pode não obter os favores do público (embora a crítica atenta à televisão tenha percebido a sua importância) mas tem o significado essencial de mostrar que o dinamismo da produção televisiva no país, onde ela é mais possante, aceita um tipo de entretenimento audiovisual que dificilmente encontra lugar nos circuitos cinematográficos industriais. 
Quanto à HBO, está de parabéns. É, felizmente, o ar do tempo novo televisivo. Como evoluiu desde o tempo em que deixou cair a inovadora "Roma"!



sexta-feira, 20 de janeiro de 2017

Uma notícia que é para ser lida ao contrário


Da 1.ª página do "Jornal das Caldas" (18.01.17)


O candidato do PS, este ano, à presidência da Câmara Municipal de Caldas da Rainha diz que quer "pôr fim à inércia nas Caldas".
Deve antes ler-se que quer "continuar a inércia".
Porque esta candidatura é, na realidade, inútil.
Serve apenas para o PS não ter falta de comparência nas eleições autárquicas do Outono e não para tentar vencer o PSD local, que não vai ter alternativa real.
Com isto, o PS não rompe a inércia dos processos eleitorais no concelho de Caldas da Rainha. Nem o quer fazer. Fazer política a sério dá muito trabalho e é preferível ir gerindo os interesses instalados. 

quarta-feira, 18 de janeiro de 2017

Sentido de Estado ou sentido de estar?

Um canal de televisão mostra o Presidente da República a percorrer as barreiras da PSP que contêm manifestantes, a perguntar “Onde está o abaixo-assinado? Onde está o abaixo-assinado?” 
Depois de vários “’Tá bom?” e beijos (às manifestantes), o Presidente da República encontra o manifestante que tem o abaixo-assinado e que lho entrega, dizendo-lhe que o que está em causa são “as carreiras”, que desde 2010 não há aumentos, que deve interceder por eles junto do Governo.
“Eles” são os trabalhadores da Imprensa Nacional – Casa da Moeda (IM-CM) que, como toda a função pública, viu o governo do PS a cortar-lhes salários e a bloquear as “carreiras” um ano antes da bancarrota.
Um outro canal de televisão, pouco depois, mostra mais: o ministro das Finanças (que tutela a IN-CM) a escapulir-se apressadamente aos manifestantes e, depois, o Presidente da República a receber o abaixo-assinado e a dizer, aos jornalistas, que ia falar com o presidente (ou director) da IN-CM e que depois ia ler o abaixo-assinado e que depois falaria com o Governo. 
Houve, em tempos, uma coisa chamada “sentido de Estado”. E isso implicava que, por exemplo, o Presidente da República não intervinha nas matérias da competência do Governo e vice-versa, pelo menos publicamente. Ou que os membros do Governo não recebiam delegações de manifestantes quando estivessem a manifestar-se. E, ainda, que nenhum titular de um órgão de soberania deixava mal um seu colega.
Neste caso, vimos o Presidente da República a ir ao encontro do manifestantes depois de o ministro das Finanças nem lhes ter passado cartão, a oferecer-se para fazer de emissário e, finalmente, a sugerir (mais uma vez) que ia passar por cima de um ministro para falar com o chefe do serviço tutelado. 
Isto não é sentido de Estado. É, quando muito, sentido de estar. 



Mário Dorminsky e Beatriz Pacheco Pereira: uma excelente notícia que a imprensa ignorou


Em 2013 os meus amigos Mário Dorminsky e Beatriz Pacheco Pereira, dois dos mais importantes criadores culturais do País (e talvez mesmo, também, por causa disso) foram crucificados por jornalistas e falsos amigos e vitimados por uma ofensiva de calúnias.
No meio de confusões que a Justiça devia, como sempre, ser mais célere a esclarecer, foram ainda acusados de "difamação" a um jornalista, condenados em primeira instância... e depois, afinal, absolvidos na Relação.
A imprensa, que antes não os poupou, ignorou a absolvição.
Mário Dorminsky e Beatriz Pacheco Pereira resolveram quebrar o cerco de silêncio e publicaram hoje no Facebook uma primeira informação sobre o acórdão que os absolveu.
Reproduzo aqui, com muita satisfação, o texto integral e publico a mesma fotografia que ambos publicaram no mesmo meio.


Beatriz Pacheco Pereira e Mário Dorminsky

ABSOLVIDOS E AINDA À ESPERA
  1. A revista Visão e outros jornais apressaram-se em divulgar uma sentença de primeira instância que nos havia condenado por difamação ...de um jornalista. No entanto, três meses após proferido, não há a mais pequena nota nos Média acerca do acórdão final do Tribunal da Relação do Porto.
  2. Assim, dizemos nós: FOMOS ABSOLVIDOS.
  3. DE FACTO, até hoje, terminaram em arquivamento ou absolvição todos os processos gerados pelas reportagens caluniosas da Visão publicadas em Setembro de 2013 em plena campanha eleitoral autárquica. E assim continuará a ser.
  4. Também estranhamente, não foi noticiada a entrada de três processos movidos por nós, de natureza civil e criminal, que continuam pendentes, contra o jornalista, a Visão e outros.
  5. Não satisfeitos pelos prejuízos causados no bom nome, honra e consideração, pondo em causa a nossa honestidade e comportamento ao longo dos anos, e uma organização de mérito com trabalho reconhecido nacional e internacionalmente, pretendem manter-nos com o estigma de condenados, enganando o leitor e o público em geral.
  6. A quem não é poderoso restam meios como este para repor a Verdade que a comunicação social aparentemente não quer divulgar.



segunda-feira, 16 de janeiro de 2017

8 meses

Faltam 8 meses para as eleições autárquicas em Caldas da Rainha.
Parece que só há estes três candidatos: Tinta Ferreira (PSD, presidente da Câmara Municipal desde 2013), Luís Patacho (PS) e Rui Gonçalves (CDS).
A candidatura do PSD é uma inutilidade. A do CDS pode ser útil para forçar o debate de alguns problemas reais do concelho. Infelizmente nenhuma delas vencerá. Os ausentes muito menos. Verdadeiramente, ninguém quis, sequer, tentar vencer o PSD.



Luís Patacho, Rui Gonçalves e Tinta Ferreira: o resultado é óbvio


domingo, 15 de janeiro de 2017

Uma outra forma de abandono


Os cães não são objetos. Não são animais indiferentes aos seres humanos. Tenderão a gostar da companhia humana, sobretudo quando é dela que recebem os cuidados essenciais a poderem viver, mesmo quando esses cuidados incluem as dietas de supermercado nas suas piores versões.
Os cães têm calor e frio, precisam de exercício, beneficiam do exercício feito com os seus donos em termos de saúde e de disciplina.
Os exemplos que aqui ficam documentam o que de menos bom podem fazer os seres humanos aos seus cães, deixando-os soltos ou amarrados até em espaços exíguos ou completamente entregues à sua sorte em quintais maiores, indiferentes ao seu bem-estar, em atitudes que não têm explicação e onde se encontra um equilíbrio interessante: os mais boçais têm os cães estupidamente presos, com correntes ou em "celas"; os mais cultos não chegam a este regime de maldade mas não deixam o cão entrar em casa nem tão pouco o passeiam.
É uma outra forma de abandono.
E ela, como acontece com a pedofilia e a violência doméstica, não é exclusiva de pessoas sem posições sociais de relevo, sem escolaridade, sem profissão ou emprego. Parece um contra-senso mas é verdade: a nódoa que é esta forma de abandono cai, e não poucas vezes, no tecido de gente que poderíamos supor que seria mais informada, mais sensível ou mais atenta aos problemas do mundo.











sexta-feira, 13 de janeiro de 2017

Karin Slaughter a fazer de Harlan Coben em formato agarra-que-foge

Karin Slaughter (e já aqui escrevi sobre esta autora norte-americana, de que traduzi três livros para português) é uma escritura prolixa... mas talvez em excesso. Isto traduz-se numa produção imparável de obras, com a série protagonizada por Will Trent a par com histórias autónomas, e pode fazer baixar alguns critérios de qualidade. Ou seja, pode não haver tempo para aperfeiçoar a história, para dar mais força às personagens, para cortar a "palha" que tende a intrometer-se na narrativa...
E é isso mesmo que acontece com "Pretty Girls", uma das suas obras autónomas (de 2015), que agora li e de que não gostei.
Com 544 páginas na edição de capa mole (Arrow), "Pretty Girls" é uma história de três irmãs (Claire, Lydia e Julia) em que uma delas foi raptada e desapareceu para sempre ainda em adolescente e em que o autor (ou co-autor) do crime se revela como sendo uma espécie de pretendente das três e marido de uma delas.
A grande revelação (o marido que se julgava morto e não está e a suas maldades) entra antes de metade do livro e o resto (cerca de 300 páginas) é uma espécie de jogo de agarra-que-foge que envolve o marido e as suas irmãs sobreviventes.
A história e o seu desenvolvimento fazem lembrar Harlan Coben, que gosta de narrativas movimentadas e cheias de surpresa, mas Karin Slaughter nem consegue criar o ambiente favorável a que o leitor não pare para pensar.
Contas feitas, o verdadeiro crime que precisaria de ser deslindado é o motivo que levou Karin Slaughter a escrever e deixar publicar uma coisa tão extensa e tão mal feita.



quarta-feira, 11 de janeiro de 2017

Tempos de loucura

1. Os juros da dívida portuguesa, a 10 anos, passaram os 4 por cento. O anterior ministro das Finanças do PS (Teixeira dos Santos, um príncipe do Renascimento quando comparado com o seu actual sucessor) disse em 2010 que quando os juros chegarssem aos 7 por cento seria necessário estender a mão à caridade internacional. O terceiro empréstimo internacional chegou em 2011 quando os juros já iam a 10 por cento. O actual chefe do Governo disse que não estava preocupado. O seu antecessor José Sòcrates terá dito mais ou menos o mesmo ainda em 2011.

2. Francisco Louçã, trotzquista emérito, professor doutorado de Economia, fundador do BE e uma mistura de bonzo com bispo do actual regime, disse que a sua jovem deputada Mariana Mortágua havia de ser ministra das Finanças. Não secretária de Estado de uma “causa” qualquer mas ministra das Finanças. Louçã saberá o que diz e o que quer. Bem vistas as coisas, a aventureira Mariana até pode ser uma boa herdeira de Mário Centeno. Já estivemos mais longe.

3. Depois da CGD andar na polémica pública há um ano, numa situação em nada saudável para uma instituição financeira, é a vez de o Novo Banco ter o seu futuro debatido na imprensa. Fragilizado, discutem os vários chefes dos clãs políticos das “esquerdas” se há de ser nacionalizado, vendido, retalhado, extinto, escondido. Admira que ainda haja depositantes no “banco bom” que sobreviveu ao lamentável colapso do grupo GES. Seja como for, a conta vai sobrar para todos.

4. Na capital do País, o presidente da Câmara Municipal não eleito aumentou a oferta do número de casas para os seus munícipes. Consta que um seu antecessor noutro ponto do País, Valentim Loureiro, fez o mesmo com torradeiras e micro-ondas há muitos anos. E ganhou as eleições. Em Lisboa, como o dito presidente é das “esquerdas”, já está tudo bem.

5. O Ministério da Educação do atual governo revolucionário vai contratar “tarefeiros” para as escolas a pouco mais de 3 euros à hora. Ninguém protesta.

6. Mário Soares não foi um anjo, não é um candidato à canonização, não é um deus. Foi uma personalidade importante depois do 25 de Abril. Foi Presidente da República e primeiro-ministro. Foi fundador e chefe máximo do maior partido português. Só isso. Mas a imprensa, sem excepções, endeusou-o. Desde há dois dias que não se fala em mais nada, que não há outras notícias. E, como acontece com todos os “pais dos povos”, só há elogios. As áreas menos claras da sua actividade política e partidária ficam na sombra, na lógica mesquinha portuguesa do “morreu, é uma pessoa excepcional”. Lá longe, na terra dos seus antepassados, o actual chefe do Governo nem se digna interromper a visita de Estado para prestar homenagem ao homem que, de uma forma ou de outra, o ajudou a cumprir uma das suas grandes ambições.

Vivem-se dias de loucura. O País não está são.



segunda-feira, 9 de janeiro de 2017

Universidade grande, imprensa pequenina

A Universidade de Lisboa, como agora é designada, unificou as antigas Universidade "Clássica" de Lisboa e Universidade Técnica de Lisboa.
Tem (números de 2014) mais de 48 mil estudantes, 2080 funcionários administrativos e técnicos e 3422 professores, num conjunto de 18 escolas superiores, e um orçamento anual de 316 milhões de euros.
É, pela sua dimensão e pela sua localização em Lisboa, uma das mais importantes universidades nacionais. Foi numa das suas faculdades (a de Letras) que me licenciei.
Gigantesca, até na sua extensão territorial por força da fusão das anteriores universidades, a Universidade de Lisboa tem, no entanto, uma revista... liliputiana.
É uma espécie de "newsletter" empresarial, com 32 modestas páginas, em papel de bom acabamento, com algumas fotografias a cores e num tom requintadamente sépia. O conteúdo deste número 1 é fraco, com entrevistas e textos que não contrastam com o tom melancólico da edição, sem ponta de interesse. Já vi, noutros tempos, publicações de universidades estatais do interior, universidades privadas e institutos politécnicos bem mais interessantes.
Em editorial pomposo, o reitor da instituição garante, com assinalável convicção, que a publicação "é um dos meios por excelência para a promoção da coesão e do espírito de corpo da Universidade". Se é, estaria melhor fragmentada.
Admira que tanta "massa crítica" e da outra (a dos 316 milhões de euros) não tenha conseguido fazer melhor.


A Universidade de Lisboa em versão "newsletter".

Idiotas muito perigosos (2)






Esta é uma fotografia de uma das estradas que atravessam a Serra do Bouro (Caldas da Rainha), tirada no passado dia 7.
Foi um dos locais por onde passou, não se sabe quando, um veículo da Câmara Municipal de Caldas da Rainha a despejar herbicida. As ervas da berma, como acontece sempre nestes casos, ficaram amareladas e morrerão.
Antes desta acção ou durante, ou mesmo depois, não se sabe, foram afixadas cópias desta folha de papel de tamanho A4, não assinada nem datada, a avisar para o lançamento do herbicida (como aqui mencionei, no passado dia 22 de Dezembro).





O local da fotografia é um de muitos onde passam pessoas com cães. E gatos e cães que andem à solta ou "perdidos", embora estes sejam incontroláveis. E aqui perto não houve papel a avisar. Nem nas imediações.
O que significa que animais e pessoas puderam ter estado em exposição directa ao herbicida, sem o poderem evitar, sem saberem sequer se o podiam evitar.
Repito, e reforço o que escrevi: o que curaria a estupidez dos tipos que decidem uma acção destas, sem avisar devidamente a população, seria uma baforada do dito herbicida na tromba.

quinta-feira, 5 de janeiro de 2017

Porque não gosto dos CTT (115): só uma semana de atraso... já não é mau

Depois de uma semana sem correio, chegou-me hoje correspondência, na sua maioria da semana passada (embora uma com a data de 16 de Dezembro!).
No sistema de degradação em que a coisa se encontra, uma semana de atraso já deve começar a ser o padrão vigente, o tal da "qualidade"...

"Jornal das Caldas": assinante nunca mais

Em 14 de Dezembro publiquei aqui uma "carta aberta" dirigida às direcções da "Gazeta das Caldas" e do "Jornal das Caldas", manifestando o meu protesto pelo atraso na entrega das respectivas edições devido ao mau serviço dos CTT (a carta, enviada também por e-mail, pode ser lida aqui).
A "Gazeta das Caldas" (onde têm aparecido com alguma regularidade protestos contra os CTT) respondeu-me a dar conta da recepção da minha "carta aberta". Mas o "Jornal das Caldas" não me respondeu.
Hoje devia ter recebido a edição de ontem do "Jornal das Caldas". Os assinantes já nem recebem o jornal no próprio dia de saída por causa da introdução de cor na edição impressa.
Só que... não chegou.
O "Jornal das Caldas" não parece preocupado com os atrasos com que os CTT brindam os seus assinantes.
Por isso, e dando aliás seguimento ao que já afirmei, decidi não renovar a assinatura deste jornal. E logo se vê se o comprarei. Talvez um só, na região, me chegue.

quarta-feira, 4 de janeiro de 2017

Ainda vamos ter saudades de Américo Thomaz?



O "venerando Chefe do Estado" - Marcelo Rebelo de Sousa deve tê-lo conhecido...







O Presidente da República foi inaugurar uma instituição social e entregaram-lhe a chave com que abriria a porta inaugural.
O Presidente enfiou a chave na fechadura e tentou rodá-la mas nada – a porta não se movia.
Perante o embaraço da situação, e ao aperceber-se de qual o era o problema, um dos elementos da sua comitiva sussurrou-lhe: “É com os dentes para cima.”
E o Presidente voltou a enfiar a chave na fechadura, virando a cara para cima, abrindo a boca e expondo bem os seus dentes.
Noutra ocasião, numa visita pelo interior, improvisou perante as personalidades locais, e começou: “Esta é a primeira vez que aqui venho desde que cá vim pela última vez.”
Terá sido por algumas destas e por muitas outras que constou sempre que a oposição ao regime largou uma vez no Rossio um porco vestido de almirante.
Os dois primeiros episódios foram, com razão ou sem ela, atribuídos ao último Presidente da República do Estado Novo, Américo Tomás/Thomaz (almirante, 1894 – 1998, oficialmente o apelido parece ser “Tomás” mas a imprensa, à época dava-o como “Thomaz”), que esteve em funções entre 1958 e 25 de Abril de 1974.
Desconhece-se o verdadeiro grau da sua influência política, depois de ter aparecido sempre num modesto segundo lugar relativamente ao primeiro-ministro (presidente do Conselho) Oliveira Salazar e de não ter conseguido evitar, nem limitar-lhe a actividade, a ascensão do último primeiro-ministro do Estado Novo, Marcelo Caetano.
Transformado, para sempre, no que parecia ser uma figura apagada, Américo Thomaz começou, a partir de certa altura, a tornar-se mais notado pelas infelicidades discursivas que se iam manifestando nas suas incursões pelo interior (a “província”, como se dizia). Não chegava ao absurdo dos discursos completamente tontos de um governador civil de Lisboa, Afonso Marchueta, mas não deixava de incorrer no gozo popular pelo que ia dizendo, sem cessar, por esse país fora. 
Américo Thomaz era, naturalmente, um homem do regime (o Estado Novo) e, no conjunto de figuras destacadas da “linha dura” e até por ser Presidente da República, não era das mais brandas. Ó ódio político que despertava entre as oposição ao Estado Novo tendia, naturalmente a exacerbar os disparates que lhe eram atribuídos e por isso as suas lastimáveis intervenções, que mesmo alguma imprensa parecia por vezes relutante em transmitir, tornavam-no ridículo. 
É possível, claro, que o seu afã de aparecer em todo o lado e em tudo não lhe tivesse facilitado uma reflexão sobre as várias vantagens que um silêncio bem gerido pode ter nem sobre a aplicação prática do “ou entra mosca ou sai asneira”.
De qualquer modo, as suas intervenções acabavam por tornar-se, por isso mesmo, hilariantes.
Ainda não é o caso do actual Presidente da República mas pode muito bem acontecer que nos deixe com saudades do “venerando” Thomaz que, pelo menos, nos fazia rir.


(Publicado no Tomate.)

domingo, 1 de janeiro de 2017

Porque não gosto dos CTT (114): se os próprios o confirmam...

Os próprios carteiros, segundo o "Jornal das Caldas" de 28 de Dezembro, reconhecem que há atrasos na distribuição e entrega de correspondência em Caldas da Rainha!



Porque não gosto dos CTT (113): para eles, os clientes são uma chatice


Um cliente tirou a sua senha numa das estações dos CTT de Caldas da Rainha, a poucos minutos da hora do encerramento (18 horas), e depois atreveu-se a pôr o pé de fora para acompanhar outra pessoa e se despedir dela.
Fecharam-lhe a porta na cara e, mesmo tendo ele a senha de atendimento, ficou na rua e ainda o ridicularizaram.
A carta de um observador indignado, nos dois jornais do concelho, conta os pormenores:


"Gazeta das Caldas", 30.12.16

"Jornal das Caldas", 28.12.16