Foi já há trinta anos que nasceu um fenómeno político curioso: a apetência voraz dos concelhos do interior de terem, pelo menos, uma universidade. Não lhes chegava o instituto politécnico que pudesse existir na sede do concelho ou mesmo qualquer "pólo" de uma universidade privada de Lisboa ou do Porto. Queriam, à viva força, uma universidade estatal.
Não perceberam, e houve dirigentes do ensino superior politécnico que também não ajudaram (e o ziguezagueante poder central muito menos), que as suas populações e os seus jovens ganhariam muito mais com um instituto politécnico de grande qualidade do que com uma pequena universidade sem importância, como disse o fundador do Instituto Politécnico da Guarda, João Bento Raimundo que, apesar de ser perseguido por isso, fez do "seu" instituto o melhor do País. Com o qual, mais tarde, só concorreu o de Viseu.
A situação não se alterou, tantos anos depois. Não há população estudantil que o justifique, não há deslocações impossíveis, não há tecido económico que o sustente: as cidades e os concelhos onde existe um instituto politécnico de relevo não precisam de o transformar em universidade.
Leiria, e é o caso, não precisa de ter o respectivo instituto politécnico transformado em universidade; precisa é de ter um excelente instituto politécnico.
Só que, como sempre tem acontecido, são os políticos locais que pensam que a reivindicação de uma universidade dá votos. E, se dá, é apenas pela demagogia de oferecer à população uma universidade ao pé da porta para os seus filhos estudarem. Mesmo que depois os seus diplomas não sejam garantia de preferência em matéria de emprego. Nem que o emprego esteja garantido no concelho.
A ilusão, infelizmente, não se desfez e é significativo que no habitual programa de debate "Jornal das Caldas"/Mais Oeste Rádio que os políticos de Caldas da Rainha voltem à carga: também querem o Instituto Politécnico de Leiria transformado em universidade.
Apesar do muito que terão dito sobre o assunto (e o resumo pode ser lido aqui) não se lhes nota um grão de lógica. Nem de razoabilidade.
O que se nota é que chegaram atrasados ao fenómeno e que devem pensar que isto (à falta de trabalho político de qualidade) lhes dá votos.
Ou que então se limitam, numa lamentável fila de onde ninguém se exclui, a seguir o provérbio, aplicado à tristonha política caldense: "onde mija um português, mijam logo dois ou três".
Manuel Nunes (PS), João Frade (PSD), Joana Agostinho (MVC), Joana Filipe (BE), José Carlos Faria (PCP) e Rui Gonçalves (CDS): sai uma universidade para a mesa do canto |
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