domingo, 4 de maio de 2025

O reino das trevas



Por volta das onze e meia de segunda-feira, quando as luzes se apagaram, estava no ginásio que frequento. 

Tendo terminado um treino de bicicleta, passei a um Pilates mais personalizado (penalizado que estou pela opção dos dirigentes da coisa de fornecerem uma versão rotineira de Pilates tipo "ginástica sénior" durante toda a semana). O apagão não me surpreendeu logo (já estou habituado, desde que vim para esta região, aos apagões da EDP/e-Redes), mas comecei a ficar inquieto ao perceber a sua dimensão: não era só esta região, era o país todo, era também Espanha...

A internet, no telemóvel, começou a ficar com interrupções, ao contrário das ligações telefónicas. Terminado o treino e verificada a impossibilidade de tomar banho, mesmo de água fria, e sem outras informações, decidi pôr de lado o que queria fazer e regressar a casa.  

Pelo caminho, e depois já em casa (onde me resignei a um banho frio), consegui perceber pela rádio, nos carros, o que estava a acontecer. Mas, como toda a gente, não consegui perceber o motivo do gigantesco apagão.

Por entre as quebras, cada vez mais acentuadas, do serviço de internet, consegui aceder episodicamente a alguns sites da imprensa oficial. O Facebook ia funcionando, mas pouco mais dizia. Pelo rádio de um dos carros, que ficou no lado de dentro do portão, fui apanhando fragmentos de informação. E em todas estas fontes fui encontrando explicações... que não explicavam nada: um incêndio em instalações eléctricas espanholas, um "fenómeno extremo" meteorológico, ciberterrorismo (russo, claro), uma experiência concebida para mudar o comportamento social dos cidadãos. E criaturas, com postos e galões diversos, a acumularem maus presságios e perspectivas catastrofistas. 

Sob a ameaça de passarmos a noite à escuras e já condenado à luz das velas, fui fazer o jantar no forno a lenha, apesar de ter fogão a gás, e jantámos no exterior, beneficiando até da temperatura mais amena do dia.

Por volta das 20h30 avistei uma luz fixa no conjunto urbano de Caldas da Rainha (que é visível de casa). Não quis acreditar que fosse uma luz eléctrica. Mas depois, pela janela da cozinha, a luz regressou. A normalidade foi depois restabelecida. 

Este apagão não foi o mais longo de quantos aqui sofri, desde que me mudei para esta zona rural do Oeste. Mas foi o mais inquietante. A sua dimensão exigia um esclarecimento muito rápido sobre o que acontecia. Cinco dias depois, ainda não temos esse esclarecimento. E essa ausência de uma explicação talvez seja pior do que o próprio apagão. Estamos, realmente, no reino das trevas...


*

Como tudo na vida, este apagão teve o seu outro lado: uma ironia. Os entusiásticos defensores dos carros eléctricos ficaram imobilizados ou sob a ameaça de o ficarem. É aquilo a que chamam "mobilidade"!



sábado, 3 de maio de 2025

É tudo tão simples

 



Esta onda multicolorida de "alertas" meteorológicos, na apresentação engalanada do departamento meteorológico do Estado, é um convite directo à iliteracia mais básica. 

É o Estado, acolitado pela imprensa oficial, a dizer-nos: não tentem compreender a meteorologia, não tentem ler as informações meteorológicas, não tentem interpretar o tempo a olharem para o céu ou a pensarem nas vossas experiências; limitem-se a ver qual é a cor dos "alertas" (como os semáforos rodoviários, obviamente necessários para momentos de atenção de segundos) e portem-se bem, de acordo com as nossas instruções.

É tudo tão simples.




terça-feira, 29 de abril de 2025

Norte-coreanos

Comentei aqui, por várias vezes, o que dizia o governo de Kiev (e na imprensa oficial que, de uma forma ou de outra, tem controlado) sobre a presença de militares norte-coreanos a combaterem em Kursk. Os artifícios informativos de Kiev suscitaram-me muitas dúvidas, a ausência de provas só as reforçavam e a própria imprensa não os encontrava.

Uma declaração recente da liderança política e militar russa reconheceu, finalmente, a participação de norte-coreanos em combate, no quadro do tratado entre a Rússia e Coreia do Norte e sempre em território russo (em Kursk, invadido pelos ucranianos).

Os norte-coreanos existiam, portanto, mas os exageros informativos de Kiev não davam crédito ao que afirmavam os dirogentes ucranianos. Fica o registo da agência de notícias russa Sputnik, assinalando o esclarecimento.






domingo, 27 de abril de 2025

sexta-feira, 25 de abril de 2025

Porcos (1)

É ridícula a polémica em torno do "porco no espeto" (com aspas e tudo), que mostra como o jornalixo do ar condicionado e a PSP parecem desconhecer o que, por várias razões e nenhuma delas política, já é uma tradição alimentar em festas colectivas, sobretudo em ambiente não urbano.

Se a ideia dos promotores da manifestação, com o churrasco de porco inteiro, foi provocar os que não comem carne de porco e os vegetarianos, vê-se como os citadinos caíram na armadilha.

Quem é que, nisto, é mentalmente suíno?












terça-feira, 22 de abril de 2025

O ódio cega

O jornalismo até pode ser panfletário e reflectir, desde que com toda a transparência, uma determinada posição ideológica, ou política, individual ou do meio de comunicação em que o jornalismo é praticado. 

Só que, nestes dois casos que aqui cito, não há transparência. Num deles, no "Público", há uma postura clara de parcialidade e, no segundo exemplo, no "Expresso", junta-se à festa e à falta de imparcialidade uma clara postura de ódio. E o ódio cega.

Vejamos. No caso do "Público", onde é claro o favoritismo pelo governo de Kiev, aceita-se a exibição de prisioneiros de guerra apesar de a Convenção de Genebra o proibir no seu artigo 13.º E, neste caso, à exibição dos combatentes de origem chinesa que são aqui dados como "mercenários", junta-se a perspectiva de via única para o conflito: a Rússia tem "mercenários", mas o governo de Kiev, com os seus grupos de combatentes de outras nacionalidades, não tem nada que se pareça. E o "Público" não quer saber "o que leva os mercenários ao serviço do governo de Kiev a arriscar a vida pela Ucrânia"...




A mesma perspectiva é adoptada pelo "Expresso", que também favorece o governo de Kiev e que publica exactamente a mesma fotografia: 



Há, nisto, uma curiosidade suplementar: o "Expresso" identifica a origem da fotografia e o "Público" (contra o que é habitual) não. E a fotografia é, naturalmente, de origem ucraniana: da agência Global Services Ukraine.

E é no "Expresso" que encontramos mais um exercício de ódio. Tal como não gosta do presidente americano, Donald Trump, que mimoseou com dezenas de textos desmesuradamente críticos, o "Expresso" não gosta do primeiro-ministro húngaro, Viktor Orbán. E num texto longo, de três páginas, que é uma espécie de crónica de viagem por Budapest, a única imagem que tem deste seu objecto de ódio é ... uma imagem distorcida do rosto do primeiro-ministro húngaro.

A questão é, apenas, jornalística: quando se alude a uma personalidade pública, e neste dimensão, há que mostrar-lhe o rosto, mesmo que a par com qualquer caricatura. É, apenas, uma questão de identificação. 

Neste caso, prevalece o ódio e desaparece a informação. Esta secção do "Expresso" arvora como lema "Liberdade para pensar". Nada é mais falso, porque aqui a liberdade é inexistente.








sábado, 19 de abril de 2025

Os cadáveres


Como em qualquer conflito que se alimenta de "percepções" (construídas pela guerra psicológica e pelo marketing político), o número das baixas, sobretudo o das baixas mortais, é um mistério da crise ucraniana. O governo de Kiev atira, por vezes, números obviamente falsos. O governo russo mantém o silêncio. Há alguns estudos informais ocidentais, mas eles também não fornecem números rigorosos. Aliás, dificilmente os poderiam fornecer sem terem fontes dignas de crédito. 

Há, no entanto, um indicador que, não passando disso, é sugestivo: os números das trocas de cadáveres entre as duas partes. ´

Tem havido um padrão constante (muitos mais cadáveres ucranianos do que russos) que sugere uma conclusão elementar: tem muito maior o número de baixas entre os militares ucranianos do que entre os militares russos. Ou seja, e é de reparar que nem a Rússia nem o governo de Kiev se acusam de manipulação nesta matéria, qualquer uma das partes conseguiria mostrar-se mais bem sucedida em combate se acumulasse um maior número de soldados inimigos mortos. Quem menos mortos apresenta é quem estará a ser mais bem sucedido no campo de batalha, porque as suas forças sofrem menos baixas e conseguem infligir mais baixas ao inimigo.

É curioso que (por não querer, não poder ou não conseguir raciocinar), a imprensa oficial não tem prestado atenção aos números dos cadáveres ucranianos e russos devolvidos aos respectivos países.

É interessante verificar, no entanto, que o jornal ucraniano "Strana.Today", mais livre do que a imprensa oficial, até aborda este assunto:








A imprensa oficial não consegue ter a mesma liberdade, de raciocínio e de expressão, que tem o "Strana. Today". Porquê?

Como já aqui escrevi, este jornal on line está acessível por meio deste link, com tradução automática do Google. 






quinta-feira, 17 de abril de 2025

Há eleições daqui a um mês e eu não vou votar


... Porque, pela primeira vez, mesmo contando a época em que ainda não podia votar por não ter idade para isso (ainda antes de 1974), estou absolutamente desinteressado do assunto. 

Não gostei deste governo do PSD e do CDS. Achei-o demasiado fraco, demasiado parecido com um governo típico do PS (com a sua distribuição direccionada de benefícios remuneratórios), com os mesmos tiques de todos os governos do PS. 

Em especial, não gostei do modo como terminou, com o chefe do Governo a recusar explicações sobre assuntos privados que se tornaram, obviamente, assuntos públicos, a tomar o Governo como refém e a atirar-se para eleições, na esperança de poder reforçar a sua posição. Nem tão pouco gostei do esparvoado alinhamento com as posições mais belicistas da camarilha dirigente da União Europeia, coisa que me enojou suficientemente para nem ir votar nas eleições europeias.

O meu voto poderia ir para o PSD (ou para o PSD com o CDS). Mas não vai, porque isso seria aceitar a estratégia do chefe do Governo. Mais remotamente, o meu voto até poderia ir para a Iniciativa Liberal, não fosse a tendência pouco liberal que transforma este partido no BE do PSD. Mas da IL já desisti há muito. Nenhuma outra agremiação poderá ter o meu voto.

Ao mesmo tempo, o processo eleitoral volta a ser contaminado por um modelo absolutamente cretino de debates televisivos. Ter dois políticos obrigados a "debater" política durante meia hora, com o destaque depois dado a uma brigada de "comentadores" que aparecem como mais importantes do que esses políticos é estúpido. Ninguém fica a saber nada e os "comentadores" podem dizer as alarvidades que quiserem. Para mim, é um modelo repelente. 

Portanto, alheado e desinteressado, não irei votar no dia 18. 

E talvez o resultado das eleições possa ajudar a clarificar a situação político-partidária a vários níveis...




quinta-feira, 10 de abril de 2025

De olhos em bico: a loucura racista de Zelensky

Depois dos soldados norte-coreanos, os chineses: quando uma narrativa falha, ou perde força, rapidamente se arranja outra. Não é nada de novo em matéria de comunicação política, em que o governo de Kiev é mestre (ou em que tem bons especialistas a soldo em vários países). 




A coisa começou assim, com a imprensa a amplificar de imediato a proclamação do presidente comediante. Estes chineses de Kiev, que até andam a combater com cartões bancários, são logo dados como enviados da China. Mesmo quando se coinhece a posição militarmente neutra do governo chinês, a quem Zelensky chegou a pedir apoio, com alguma insistência, que foi recusado. 

A verdade, é claro, fica sempre em terreno nebuloso: a existirem, até podem ser de etnias asiáticas da própria Rússia (para Zelensky, se têm olhos em bico são só chineses ou norte-coreanos...) ou podem ser estrangeiros contratados por algum "private military contractor" russo (também as há na Rússia). O que, a ser o caso, justifica uma nota adicional: os combatentes estrangeiros contratados pelo governo de Kiev são anjos, os que a Rússia possa contratar são demónios.

À cautela, no entanto, ainda é agitado o espantalho dos norte-coreanos. Neste texto (da CNN tuga, tal como o título anterior) a a afirmação do título assenta num texto que, como habitualmente, tem por base o verbo "poder". É uma lógica fácil - tudo pode ser, como pode não ser - que serve para fazer títulos, para enganar pessoas que não querem (ou não sabem racicionar) e para pôr a trabalhar as pessoas que são pagas para o efeito. 




Especulação no texto, afirmação no título: vejam as diferenças aqui






domingo, 6 de abril de 2025

Patadas na língua, patadas no jornalismo (6)



Toda a gente dá erros na escrita. Por maior que seja o conhecimento da língua, em todas as suas vertentes, há sempre um deslize inesperado e acaba-se a escrever, ou a dizer, o que é um erro evidente (que pode, até, passar por analfabetismo, iliteracia ou... burrice). Nestes casos, a explicação é alguma destas ou falhará, apenas, a revisão? É que "sansões" (o herói bíblico Sansão), "rogar" em vez (presume-se) de "relegar", "um gigante quadro" (quadro gigante? gigante quadrado?!...), "acelarar" em vez de "acelerar"... bem, tudo isto é estranho.


De olhos fechados, para não ver a asneira




De Morais Pereira parece, às vezes, um alter ego do presidente-comediante



Um quadrado gigante? Um gigante quadrado? Um gigantesco quadro?...

 

E porque não "asselarar"?







O candidato que promete o Verão.






Talvez o putativo candidato nos vá prometer um paradisíaco Verão eterno se for eleito...









Que aconteceu ao mais simples "fazer perguntas"?







Porque é que esta gente gosta tanto do verbo "colocar"?





A escrita jornalística devia ser clara e facilitar uma compreensão muito rápida da "mensagem". Nestes casos, quase é necessário ler a coisa duas vezes (ou mais...) para perceber o seu significado.


"colocar em desuso as viseiras"?!



Fechar... o quê?





Há ("é oficial", como gostam de escrever...) um problema bem concreto no que se refere à harmonia entre o verbo e o(s) substantivo(s), quando a escrita inclui a forma plural. Sem no entanto a incluir, claro. Porquê?











Confusões.



A forma correcta é "objectivos de que Putin"




A forma correcta é "convencer gerações de que 'o amor'"




A forma correcta é "provável que aconteça"




Segue... para onde?!






Marques Mendes, ainda.


A forma correcta é "à" e não "á"






E, por fim, uma excelente sugestão: desligar a "Visão"!