domingo, 30 de abril de 2017

"Fogem" porquê?


Vivo numa casa com terreno e vedação envolvente e um portão grande, que não pode deixar de ser aberto para a passagem de carros e de pessoas. Do lado de cá tenho dois cães. Sempre que um carro entra ou sai, eles recolhem a casa (vivem ambos em casa, com acesso pleno a parte do terreno em volta da casa).
Há dias, por um acaso, o portão começou a abrir-se... quando eu me preparava sair com elas (são duas cadelas) mas ainda não tinham as trelas postas. Nenhuma delas saiu. Fechei o portão, pus as trelas e saí com elas.
Para ambas, a casa (o terreno e a casa) são o lar delas. É dentro de casa que comem e dormem, é dentro de casa que se abrigam da chuva e do frio. Lá fora apanham sol, perseguem gatos invasores, perseguem lagartixas, ladram a pessoas, cães e tractores que passam. Saem em passeio (em média, meia hora) duas vezes por dia. À maior tiro controladamente a trela em zonas sem carros, à mais pequena (uma cocker) não é possível.
Não concebo que, salvo um qualquer estímulo muito extraordinário, elas "fujam".
É por isso que me faz a maior confusão os apelos lamentosos (ou às vezes nem isso) de quem se arrepela à procura do cão que "fugiu". E fugiu de onde? De um ambiente pouco feliz, de um confinamento doméstico idiota, das correntes criminosas que obrigam à inactividade e atrofiam cães que não o merecem, de um tratamento que lhe faz a própria casa (mesmo que só pelo lado de fora) e o seu território serem pouco atraentes?
Talvez haja, entre os muitos cães que "fogem", aqueles que apenas procuram um local melhor e um tratamento digno. "Fugir" pode ser um bem, se isso lhes permitir encontrar quem deles goste e escapar a quem, de uma forma ou de outra, por dolo ou tolice, os maltrata.

Notas de prova



Espírito do Coa — Tinto 2015 DOC Douro
Tinta Roriz, Touriga Franca e Touriga Nacional
Rui Roboredo Madeira, São João da Pesqueira
13% vol.
Bom.
Ainda jovem, a precisar de amadurecer.


EDP - A Crónica das Trevas (71)

Às 5h30 chove. Não muito, não justifica ainda os títulos do "chuva no fim-de-semana" do neojornalismo. Mas é o suficiente para, por volta das 5h50, faltar a luz. É um mini-apagão, é certo, mas é um apagão, para todos os efeitos.
Como de costume, nunca se saberá porquê...

sábado, 29 de abril de 2017

Ilustre ignorância

Quem continua a pensar que a televisão é uma coisa menor e que o cinema é que é tudo devia ser obrigado a ver, e por várias vezes seguidas, as mini-séries "Taboo" e "Big Little Lies".
Não lhes fazia mal, claro, e abria-lhes as pestanitas, que devem andar bastante coladas com a porcaria que lhes escorre dos cérebros.

segunda-feira, 24 de abril de 2017

Foram respeitadas as normas?



Pode uma casa, em tudo diferente das outras, ser assim autorizada em Caldas da Rainha?





aqui escrevi sobre este aborto. Mas a construção continua...




Notas de prova




Quinta da Fata — Branco 2015 DOC Dão
Encruzado
Quinta da Fata, Vilar Seco (Nelas)
13% vol.
Excelente.
O melhor de todos os vinhos brancos de que guardo memória.
Não convém servir demasiado frio.

Notas de prova






Valle de Passos — Tinto 2014 - DOC Trás-os-Montes
Touriga Franca, Tinta Amarela, Touriga Nacional.
Quinta Valle de Passos, Valpaços
13,5% vol.
(Bebido no restaurante Naco na Pedra.)
Muito bom.

Notas de prova


Foral D. Henrique Premium — Tinto 2014 — DOC Dão
Touriga Nacional, Aragonês e Jaen
Adega Cooperativa de Mangualde, Mangualde
13% vol.
Muito bom.

sexta-feira, 21 de abril de 2017

5 meses


Daqui a cinco meses há eleições autárquicas.
Em Caldas da Rainha o PSD tem tido sempre maioria absoluta, é hegemónico e tem todo o poder que o controlo da Câmara Municipal lhe assegura há muitos anos.
Os partidos da oposição podiam ter-se organizado para lhe fazerem frente e derrotarem a sua candidatura. Não o quiseram fazer. Quiseram fazer prova de vida, falar para as suas clientelas partidárias, fazerem de conta que são relevantes. Não são.
O PS, o PCP e o quase inexistente BE podiam ter replicado a aliança parlamentar para combater o PSD. Não o fizeram. O que também mostra que essa aliança não é movida por nenhum tipo de princípio mas apenas por um bem claro, e nojento, oportunismo.
Do conjunto desta oposição de faz-de-conta, a candidatura do CDS é a única que, sem hipótese de ganhar, merece alguma credibilidade. O resto não. São aventureiros sem interesse.
Do retrato estão nesta altura ausentes o grupo de independentes que constituiu há quatro anos o MVC e o BE. O primeiro tornou-se irrelevante, o segundo (que já nem tem presença na Assembleia Municipal) é mais do que dispensável.
Se tivesse um pouco de argúcia e de sensibilidade política, o candidato obviamente vencedor do PSD podia já enviar uma mensagem formal aos seus "adversários": a agradecer-lhes a vitória. Pelo menos por uma questão de cortesia.


Tinta Ferreira (PSD)

Rui Gonçalves (CDS)


Rui Patacho (PS)

José Carlos Faria (PCP)

quarta-feira, 19 de abril de 2017

Notas de prova




Vinhas da Rainha Branco 2015 Vinho Regional Península de Setúbal 
Fernão Pires e Moscatel Graúdo
Venâncio da Costa Lima, Quinta do Anjo Exclusivo Intermarché
12,5% vol.
Bom!

Notas de prova




Portal de S. Braz Private Collection —Branco, sem indicação de ano de colheita — Vinho Regional Alentejano 
Arinto, Antão Vaz e Roupeiro
Cooperativa Agrícola de Granja, Mourão
13% vol.
Desinteressante.

O que é que o Presidente da República foi lá fazer? (2)


Recapitulemos: quando, anteontem, caiu uma avioneta nas imediações do aeródromo de Tires (Cascais), o Presidente da República foi a correr para lá. Não fez declarações públicas e, pouco tempo depois, desapareceu. Referimo-nos a este estranho caso aqui.
Ontem, um dia depois, o Presidente da República explicou-se: Estava próximo e as notícias que tinha eram, felizmente, porque depois não se confirmou, muito piores", porque teriam sido atingidas casas.
Mais valia estar calado. Porque a explicação é reveladora de grande insensatez.
O Presidente da República não pode fazer de mirone aventureiro e querer ir para o local de um acidente... fazer o que pensa que devia fazer.
Se a situação fosse tão grave como sugeriu que poderia ter sido, seria impensável estar a obrigar as forças no terreno a deixarem de procurar acudir às pessoas e evitar danos maiores para se concentrarem na proteção (obrigatória do Chefe do Estado). Se não era... vai passar a acorrer a todos os acidentes (um choque em cadeia numa autoestrada, um incêndio florestal...)?
O Presidente da República pode ter dezenas de motivos de ordem pessoal para acorrer à queda fatal de uma avioneta.
Mas, institucionalmente, tem de esperar no seu posto que lhe cheguem as informações mais fiáveis e adequar a sua intervenção à dimensão ao acontecido.
E não foi isto que aconteceu.



Ler jornais já não é saber mais (13): a estatística idiota do "cada vez há mais" (1)






























































O jornalismo sério desapareceu, as vendas caem a pique, a imaginação emigrou, o profissionalismo levou reforma antecipada, o rigor foi de férias e o resultado é esta triste falta de imaginação, a que já poucos devem ligar e onde se privilegiam a quantidade potencialmente escandalosa e as estatísticas idiotas de carregar pela boca em vez da qualidade do trabalho .
Esta espécie de virose estatística é o melhor exemplo do declínio da imprensa tal como o neojornalismo da pratica.
E até é possível, para cúmulo, que as criaturas que conseguem fabricar estes títulos tão inventivos pensem que alguém vá gastar um cêntimo que seja com a febre do "cada vez mais". Não vão.


segunda-feira, 17 de abril de 2017

O que é que o Presidente da República foi lá fazer? (1)



O Presidente da República com o presidente da Câmara Municipal de Cascais.
© Henrique Casinhas/Observador, hoje

Hoje caiu uma avioneta na zona de Tires (Cascais). O Presidente da República foi lá de imediato.
O "Observador" escreve, com grandes cautelas:
"O Presidente da República, Marcelo Rebelo de Sousa, dirigiu-se para o local porque soube da gravidade da situação. No entanto, fonte da Presidência garantiu desde logo que não havia nenhum político ou figura pública envolvido. No final, Marcelo Rebelo de Sousa não prestou declarações à comunicação social."
Portanto: porque é que ele lá foi? Porquê?

Ler jornais já não é saber mais (12): a arte perdida dos títulos

"Uma Páscoa menos calorica", "armário e closets", "EUA consideram lançamento falhado do míssil provocação" (ou seja, o míssil chamava-se "Provocação"?) - estas bojardas apareceram-me numa coisa que a MSN, via Microsoft, deve achar muito muito interessante porque a impõe logo numa quadro intitulado "O Meu Feed MSN".
Isto aconteceu ontem e até poderia ficar em lugar cimeiro no pódio do neojornalismo português se, como acontece quase todos os dias, o "Diário de Notícias" não lhe quisesse fazer concorrência ao "Feed" com títulos tão retorcidamente idiotas como "Turquia vai a votos dizer sim ou não a ainda mais Erdogan" e "Coreia do Norte tentou lançar mais um míssil, só que falhou".
Já não se consegue arranjar melhor, não é?
A iliteracia do neojornalismo está no auge.

domingo, 16 de abril de 2017

Como se matam as freguesias do interior


Para esta gente, só a cidade é que vale

Leia-se, e nem é necessário fazê-lo com grande atenção, o que diz o ainda presidente da União de Freguesias de Santo Onofre e Serra do Bouro, de Caldas da Rainha, uma estrutura que nasceu da fusão forçada das duas freguesias, uma na capital do concelho e outra na orla rural e costeira... por cima de outra freguesia.
O dito presidente refere-se exclusivamente aos "progressos" feitos em Santo Onofre (a parte urbana) e nunca à Serra do Bouro, onde não houve "progressos".
A fusão de freguesia em Caldas da Rainha, estúpida, trapalhona e atabalhoada, só foi boa para os presidentes das juntas urbanas que abicharam com isso mais território.
As populações das zonas rurais não ganharam absolutamente nada com isso e as suas freguesias foram, na prática, liquidadas. A seguir, e para não darem muita maçada, hão de ir as populações...

Notas de prova





Bafarela Tinto 2014 Reserva — DOC Douro
Touriga Nacional, Touriga Franca, Tinta Amarela
Brites de Aguiar, São João da Pesqueira

14% vol.
(Bebido no restaurante O Cortiço.)
Muito bom.

sábado, 15 de abril de 2017

Notas de prova



Bacelo Novo — Tinto 2015 DOC Douro
Touriga Nacional, Touriga Franca, Tinta Roriz

Lua Cheia em Vinhas Velhas, Martim Murça Enoteca

13,5% vol.
Bom.

sexta-feira, 14 de abril de 2017

Iberdrola: KO

Já contei aqui parte da história do meu conflito com a empresa Iberdrola, até ao momento em que, no verão passado, entrou em cena a empresa de cobranças Gestifatura, que quis cobrar de uma assentada, e sem qualquer tipo de justificativo, o valor global de facturas que não identificavam.
Depois de sete meses em que, por mais de uma vez, foi indicado à Gestifatura que deviam identificar as facturas, foi a própria Iberdrola que atacou... com três cartas, relativas às tais três facturas. Isto entre 13 a 11 meses depois de prestado o respectivo serviço eléctrico.
Estas facturas, convém esclarecer, ficaram pendentes desde que me vi forçado a anular dois débitos directos da Iberdrola (um deles indevido). Desde essa altura, e ao contrário do que veio a acontecer até ao final do contrato (que eu anulei), a Iberdrola nunca enviou as referências multibanco necessárias ao pagamento.
Aparentemente, nem a Iberdrola nem a Gestifatura parecem conhecer a Lei dos Serviços Públicos (Lei n.º 23/96, de 26 de Julho), que estipula, no n.º 1 do seu art.º 10.º que “o direito ao recebimento do preço do serviço prestado prescreve no prazo de seis meses após a sua prestação”.
Eu, no entanto, conheço e tive de o recordar à Iberdrola que, em carta de 29 de Março, terá finalmente percebido o rol de asneiras que foi cometendo e me comunicou que "a Iberdrola reconhece o direito invocado pelo que o respetivo processo de cobrança será encerrado".
A Iberdrola meteu, portanto, a viola no saco, como se costuma dizer. Perdendo por KO e ganhando eu mais um processo de contestação.





Notas de prova




Quinta do Escudial Branco 2015 DOC Dão
Encruzado, Barcelo, Malvasia Fina e Rabo de Ovelha
Quinta do Escudial, Vodra (Seia)
13% vol.
Muito bom.
Não deve ser bebido demasiado frio.

quinta-feira, 13 de abril de 2017

Esconder o lixo debaixo da carpete



De vez em quando, em Caldas da Rainha, as bermas das estradas (que até têm nome de ruas...) são limpas de vegetação. Limpas... que é como quem diz.
Porque a vegetação cortada fica ao abandono.
É como esconder o lixo debaixo da carpete.



                                      

59 anos... em garrafa



Eurico do Amaral (Quinta da Fata), o meu amigo Bruno Chainho (dos Primal Attack), eu e a Elsa

Uma garrafa foi aberta ao meio-dia. E outra já para o final da tarde. São ambas de 1958. O vinho, com 59 anos de idade, sai para os copos com uma cor castanha intensa. A primeira garrafa sucumbiu à idade e o vinho já revela um sabor avinagrado. Mas a segunda... é uma surpresa absoluta.
Estamos na Quinta da Fata, em Vilar Seco (concelho de Nelas, a cidade que pode ser considerada o "coração do Dão"), onde a produção de vinho, a partir de 2003, reatou a ligação com um passado glorioso. Eurico do Amaral, pai do actual proprietário, também Eurico, era um entusiasta do vinho e foi fundamental o seu papel na criação do emblemático Centro de Estudos Vitivinícolas do Dão, de Nelas.
As vinhas que deram origem a este vinho, em 1958, já não existem e a propriedade ganhou vinhas novas no início do século. Mas a qualidade do seu vinho manteve-se.
Com os seus 59 anos, o vinho tinto que Eurico do Amaral nos deu a provar não esconde, claro, algumas das características do seu envelhecimento. Decantado, com o passar das horas, revela-se no entanto ainda muito bebível e, a pouco e pouco, expõe as características de sabor do típico vinho do Dão e a sua força aromática. Orgulhoso do que faz, e com motivos para isso, Eurico do Amaral tem sempre dúvidas sobre o que poderá sair das garrafas de 1958. Mas depois mostra-se justificadamente orgulhoso.
Não há que enganar: pelo menos, devido à combinação do "terroir" com a localização e sempre pelo saber de quem os faz, os vinhos desta pequena quinta são perfeitos.
Na mesma jornada em que pudemos provar o vinho tinto de 1958 provámos também o já anunciado Conde de Vilar Seco. Feito com Touriga Nacional da colheita de 2010, sairá, espera-se, no final deste ano. E o que está nas 1200 garrafas desta edição especial é sublime. Com sete anos de estágio, o futuro Conde de Vilar Seco é um vinho tinto ímpar, cheio de vida e de sabor e aroma que ganha ainda mais com a sua abertura.
Esta edição, o Touriga Nacional 2014 Grande Reserva (também a sair em breve) e o Encruzado 2015 (talvez o melhor vinho branco que já bebi em toda a minha vida) confirmam a importância da Quinta da Fata no panorama vinícola português. Como, aliás, pode ser facilmente confirmado pela prova dos seus vinhos.


*

Neste regresso ao Dão, o que gosto de fazer anualmente, há mais confirmações do que decepões. No domínio dos petiscos, os restaurantes Valério (em Mangualde), Carneiro (em Penalva do Castelo) e Quinta de Cabriz (em Carregal do Sal) são, com estilos diferentes, referências incontornáveis e onde é sempre agradável regressar. (A desenvolver.)