quarta-feira, 29 de abril de 2020

Ler jornais já não é saber mais (82):como o coronavírus faz "disparar" o jornalismo



























Ler jornais já não é saber mais (81): futurologia para vender




Não sou dos que, tipo falsas virgens ofendidas, vituperam o "Correio da Manhã" pelo seu estilo. 
É um tipo de jornalismo que nunca de ser imitado, embora com muita maquilhagem, pelos outros jornais ditos "de referência". 
Mas a manchete de hoje (hoje, dia 29 de Abril, a dois dias do mês de Maio e a trinta e três do fim do mês de Maio) ultrapassa tudo. 
Compreende-se a necessidade de vender, que a todos toca. Mas a futurologia (ou a adivinhação) é um domínio que, de uma forma tão descaradamente afirmativo, que devia ser deixado de fora do jornalismo.
O "Correio da Manhã" pôs-se hoje ao nível dos "professores" Karamba, Mamadu, Cadri, Aversechove e muitos outros. Não havia necessidade.










domingo, 26 de abril de 2020

Podridão: o 25 de Abril da aristocracia


Dar de comer aos animais, mas à distância...

Estas criaturas que figuram na fotografia estiveram ontem a espanejar-se no Parlamento sem máscaras nem luvas e depois foram atirar comida aos pobres… de máscaras e com luvas.
Eles, a elite, e os outros: os pobres, o povoléu, a populaça suja e sem maneiras, os que não têm casa.
O 25 de Abril está transformado nisto, nesta podre manifestação aristocrática pastoreada por um dos piores presidentes da República que chegaram ao trono de Belém.
Que nojo de gente!

quarta-feira, 22 de abril de 2020

Não.



Em tom compungido, a "Gazeta das Caldas" estende a mão à caridade dos "leitores" e "amigos", pedindo ajuda. A situação já era má, agora piorou. E por isso preciso que haja mais quem compre, assine e insira publicidade paga.
Não gostei da reviravolta que a "Gazeta" levou há algumas semanas e do seu mergulho no jornalismo populista. Com assinatura até Agosto, interrogo-me todas as semanas se se justifica renovar a assinatura. 
A "Gazeta" deixou de me interessar como me interessava. Perdeu qualidades diversas. O destaque que dá aos caldenses, alcobacenses e todos os outros "enses" exclui os que o não são. 
Portanto, a minha resposta ao "Alerta/apelo" é não. E "boa sorte" e que façam pela vida, porque a crise da imprensa escrita não é de agora. 

segunda-feira, 20 de abril de 2020

"Abordagens mais complexas, recomendações técnicas e factores permanentemente tidos em conta"...


Há poucos meses, os Serviços Municipalizados de Caldas da Rainha vieram reparar (?!) uma ruptura subterrânea. Por acaso, a rua em questão ficou alcatroada. Mas a reparação de pouco serviu. 
Como se pode ver na imagem (no lado direito), a água voltou a correr. Não há, neste serviço de uma Câmara Municipal que consegue brilhar pela incompetência, quem verifique o que está a correr mal.
Há menos tempo, os mesmos serviços vieram reparar (?) outra ruptura no mesmo local (no lado esquerdo) e... repavimentar? Não, claro que não. Ficaram terra e pedras e sabe-se lá mais o quê. Como aqui há trânsito, o piso foi ficando revolto e o resultado é, inevitavelmente, mais água desperdiçada.



Em Setembro de 2019, os Serviços Muncipalizados de Caldas da Rainha vieram reparar (?!) uma ruptura nesta rua. Refizeram o pavimento? Claro que não. Atiraram terra e pedras para o buraco e deram a obra por feita.
Entretanto, a passagem de camiões (para uma obra prolongada numa casa próxima) foi pressionando o remendo, que passou a cratera. 
Vieram cá… e atiraram mais terra e pedras para o buraco.
Nos últimos dias, tem havido um trânsito mais intenso de pesados por causa da mesma obra. E o resultado é, novamente, uma cratera.
Nada justifica o desleixo. Mas há quem tente justificá-lo, não se sabendo se o raciocínio acompanha a escrita ou vice-versa. 
A propósito deste mesmo caso, os Serviços Municipalizados apresentaram uma justificação de que já aqui dei conta mas que fica sempre bem recordar. Até porque as patadas dadas na escrita (e na lógica) são exemplares.
Ei-la:

"Refuta-se completamente a forma como descreve a abordagem técnica que é feita à reparação de ruturas na rede de abastecimemento de água. As mesmas são abordadas conforme recomendações técnicas superiormente aprovadas, sendo que uma têm abordagens mais complexas do que outras, atendendo ao local, á dimensão da conduta entre outros fatores permanentemente tidos em conta". 

Alguém percebe?

domingo, 19 de abril de 2020

Vigilância




A mensagem errada

Há uma semana, sexta-feira e domingo de Páscoa, a Lagoa de Óbidos estava praticamente deserta. As vias de acesso, ou que lhe são mais próximas, também. 
Ontem, sábado, o panorama mudou: pessoas, mais carros em circulação. Toda a gente a aproveitar o bom tempo, fora ou dentro dos respectivos carros. Sem máscaras nem luvas.


 Na "Rotunda do Greenhill": com o acesso cortado ao miradouro, os carros ficaram mais em cima. 

Na Lagoa de Óbidos: carros e passeantes
É difícil condenar esta atitude, nas actuais circunstâncias. O concelho onde resido (Caldas da Rainha) tem estado razoavelmente a salvo do coronavírus. As pessoas estão nas suas casas. Até usam máscaras, embora nem as saibam usar, muitas vezes. 
Quando o Governo e a figura do Palácio de Belém insistiram num terceiro período de estado de emergência, erraram numa coisa muito simples: começaram a falar na "reabertura" do País. E até anunciaram uma sessão quase pública no Parlamento e a possibilidade de os sindicatos celebrarem o 1.º de Maio. 
Pode discutir-se se seria viável (e útil) manter o confinamento por mais duas semanas. Mas este confinamento até parece ter evitado um crescimento demasiado grande da pandemia. Por isso, balizada a coisa através da terceira parte de emergência, talvez devesse ter sido mantido o confinamento. 
Mas a mensagem que, ao contrário, passou foi em sentido inverso: as pessoas vão poder sair… E elas saíram. Simplesmente.


sábado, 18 de abril de 2020

Suborno

O Governo decidiu dar à imprensa escrita 15 milhões de euros. O dinheiro não é do Governo, nem do Estado. É nosso. É de quem me lê. É de todos nós. 
A crise que vivemos tornou mais evidente outra crise: a da imprensa. E esta não é de agora. Já vem de trás. 
A imprensa, de quem nela trabalha a quem nela manda, não soube adaptar-se aos novos tempos digitais. Perdeu interesse. Não soube distanciar-se do poder. Perdeu credibilidade. Perdeu compradores em banca e perdeu publicidade.
A situação agravou-se com o "fecho" do País. As empresas do sector não se limitaram a aproveitar a legislação geral, quiseram um tratamento de favor. 
E o Governo, no mesmo dia em que um dos grupos de comunicação social reduz os salários ao seu pessoal, oferece 15 milhões de euros. Da maneira mais hipócrita e mais idiota possível: em publicidade institucional. Ou seja, em comunicações do Governo sobre questões de saúde, por exemplo, ou outras. Os jornais e as revistas vão publicar comunicados oficiais. Para ser lidos por quem? Por quem já não os compra?!
Os 15 milhões vão tapar (alguns) buracos de tesouraria. 
Vão comprar (mais) alguns favores e (mais) algumas obediências. Mas não vão servir para mais do que isto. 
Têm todo o aspecto de um suborno: portem-se bem que talvez vos dê mais. 
São um suborno.
E, perante ele, talvez seja perfeitamente racional que cada contribuinte inteligente tenha este raciocínio: se já lá estão a meter o meu dinheiro, para que é que eu vou comprar jornais?!


segunda-feira, 13 de abril de 2020

Baile de máscaras





Duvido das vantagens do uso generalizado das máscaras nesta situação de crise, sobretudo quando, na habitual lógica de manada, se entende que o seu uso seja generalizado. 
Elas parecem ser úteis em circunstâncias de proximidade ou, em especial, se a pessoa está contaminada ou com suspeitas de estar, ou se pertencer a um "grupo de risco". Mas suponho que toda a gente saberá, apesar de tudo, que não se deve cuspir, espirrar, tossir, etc., para cima dos outros.
O que eu tenho visto do uso de máscaras (que não encontro à venda) é o que encontro no supermercado (grande) a que vou semanalmente. E também os ocasionais pobres de espírito que viajam no próprio carro de máscara e luvas e boné e... sei lá que mais.
No sábado passado, vi um homem de aparência civilizada que trazia uma máscara daquelas que têm um respiradouro. E trazia-a no queixo. Já vi pessoas com a máscara por baixo do nariz, a tirarem e a porem a máscara e, o que é um pouco mais bizarro mas revelador, a usarem máscara e a porem as mãos todas, sem luvas, nos varões dos carrinhos de compras.
A polémica, por cá, não ajuda. É certo que fica a impressão (o que diz muito sobre a confiança que o Estado inspira aos cidadãos) de que as senhoras do Ministério da Saúde recusam as máscaras apenas porque não há. E não me agrada dizer, a seu benefício, que até podem ter razão. 
Mas, como em tudo, "se a verdade se torna lenda, imprima-se a lenda". E não custa a crer que, se vencerem a política e a economia e não as opiniões desgarradas dos cientistas do Estado, tenhamos todos de andar de máscara. 
Será um preço baixo, afinal, para o regresso da liberdade e da democracia.
Por mim, tenho pena é de já não uma magistral máscara de borracha de monstro com cabelo artificial que comprei para os Carnavais de há muitos anos. Havia de ser um êxito do caraças!...


sábado, 11 de abril de 2020

A suspensão da democracia

É inquietante ver este estado de emergência a ser alegremente anunciado e pré-anunciado, a cada quinze dias, numa espécie de exercício de prazer solitário por um velho hipocondríaco que quer mostrar uma determinação que, não sendo genuína, é apenas à conta dos outros.
O que estamos a viver, com o país parado, é uma verdadeira suspensão da democracia, sem fim à vista, gerida a medo por uns e por outros, que parecem querer deixar a política nas mão dos "sábios" que estão todos confortavelmente alimentados economicamente pelo Estado, no todo ou em parte, e, por enquanto, satisfeitos nos seus direitos salariais adquiridos.
Hoje é o vírus, amanhã pode ser outra coisa qualquer. O que custa é começar e já começámos. A fechar "as portas que Abril abriu", como antes se dizia.

quinta-feira, 9 de abril de 2020

A declaração de interesses que eles não fazem


É interessante verificar que os professores, investigadores e outros cientistas que advogam o prolongamento (até vários meses) das medidas de segurança são, em geral, funcionários do Estado por interpostas entidades universitárias, a salvo de situações como despedimentos e “lay-off”.
A economia, as empresas, os trabalhadores do sector privado… que lhes interessa? 





quarta-feira, 8 de abril de 2020

segunda-feira, 6 de abril de 2020

Ler jornais já não é saber mais (80): o pretuguês do "Expresso"


Já foi o "institucionalizados" (numa tradução burra do inglês), agora são "internalizados". Desde que aderiu ao Acordo Ortográfico, o "Expresso" não cessa de inovar na linguagem...



sexta-feira, 3 de abril de 2020

"Oz"









"Os Sopranos" (1999)? "Sete Palmos de Terra" (2001)? "The Wire" (2002)? "Roma" (2004)? Não. 
Onde, verdadeiramente, a televisão contemporânea começou, na HBO, foi em "Oz".
Esta série começou a ser exibida em 1997 e prolongou-se por seis temporadas, terminando em Fevereiro de 2003 com o seu 56.º episódio. 
É uma espécie de "memórias do cárcere" numa prisão de uma localidade chamada Oswald (daí Oz), com uma zona especial, designada por "Cidade Esmeralda" que parece ter sido concebida como uma qualquer experiência de reinserção social. A narrativa, que é pontuada por uma intervenção de um reclusos, como o coro de uma tragédia grega, destinada aos espectadores, é violenta, crua, visualmente bastante explícita, às vezes desconchavada. 
É também uma preciosidade (disponível na HBO). Está muito marcada pela estética cinematográfica dos anos noventa. Tem pontos de contacto com o telefilme "The Glass House" ("Homens sem Amanhã", 1972, exibido em cinema em Portugal e tendo Truman Capote como co-autor do argumento), e também com as séries "Prison Break" (2005) e "Orange is the New Black" (2013) e uma relação curiosa com "The Wire".
Aliás, Tom Fontana e David Simon, os criadores, respectivamente, de "Oz" e de "The Wire" cruzaram-se na série "Homicide: Life on the Streets" (1993 - 1999) como guionistas e há uma grande quantidade de actores de "Oz" que aparecem depois em "The Wire". Na pesquisa que fiz sobre "Oz" encontrei uma observação sugestiva: "Oz" é "The Wire" dentro de uma penitenciária. Parece, realmente.
Tom Fontana não tem, no seu currículo, nada de tão interessante como "Oz" depois desta série. É mais um caso, porque, às vezes, os criadores de grandes séries que podem ser, justamente, consideradas obras-primas, acabam por não conseguir fazer melhor, ou igual.
Apesar dos quase vinte anos que passaram sobre "Oz", a série mantém todo o seu interesse e, no seu imenso painel de actores, destaca-se J. K. Simmons, um "secundário" notável que, literalmente, domina a cena… até encontrar um desfecho inesperado numa representação de "Macbeth".

quinta-feira, 2 de abril de 2020

Duas variações sobre o medo

Um dito muito português, em forma de provérbio:

Quem tem cu tem medo.


E um mantra saído do primeiro volume da monumental série "Dune", de Frank Herbert:

I must not fear. Fear is the mind-killer. 
Fear is the little-death that brings total obliteration. 
I will face my fear.


O primeiro é uma constatação. O segundo é a forma de o enfrentarmos, e com determinação a sério.

Podridão: a suspensão da democracia





Marcelo Rebelo de Sousa é um ancião com medo. Está no seu direito. O pior é quando isso distorce os poderes que tem como Presidente da República.
Foi disso que tivemos um afloramento com o primeiro estado de emergência. Vem agora o segundo, com uma incrível dose de suspensão de direitos constitucionais. Haverá, se calhar, terceiro, para levar a coisa até Maio. 
Chegaremos a um ponto em que até podemos instituí-lo permanentemente, suspendendo a democracia e a Constituição, deixando a vida política entregue a políticos profissionais que têm medo da própria sombra e a vida económica reduzida a um parque de empresas nacionalizadas, e devidamente arruinadas.
O estado de emergência, de que este PR lançou mão para fazer esquecer que se refugiou em casa, e com medo, tem um objectivo unipessoal: fazer de conta que é um homem determinado e cheio de força. 
Só que não é. Porque, se fosse, não precisava de iniciar esta caminhada de suspensão de democracia, perante o qual os partidos institucionais se acobardam e que o seu padrinho Marcelo Caetano, se fosse vivo, não deixaria de aplaudir.

quarta-feira, 1 de abril de 2020

Roadkill


É como na selva, ou num sítio remoto, habitado apenas por animais selvagens (e seres humanos ainda selvagens). Quando menos o espera, depara-se o passeante, alertado pelos cães que passeia (ou que o passeiam) ou pelo olhar capaz de reparar nos pequenos pormenores.
Aqui, no meio da vegetação, numa rua com nome mas feita de terra batida, aparece a caveira e parte da coluna vertebral de um caprino. Pequeno, grande, velho, novo? Os cornos parecem já ter algum uso, lascados por qualquer motivo, mas a caveira, ou o que dela resta, é pequena. São poucos os caminhos e estradas e talvez uns dois quilómetros, se tanto, que separam este achado do discreto drama da cabra que deve ter-se perdido do rebanho. Estarão associados? Só o saberão os animais que por aqui andam de noite.





Não muito longe, a subir a estrada prosaicamente chamada de Estrada do Vale, deparo-me com outro morto. É difícil de ver, mas depois percebe-se. 
É o cadáver de um gato cinzento, pendurado numa árvore. Parece ter ficado molemente pendurado num ramo. Pode ter sido atropelado e alguém o atirou, elevando o braço, para as árvores que estão num plano superior? Não me parece, porque o acesso, a partir da estrada, é muito difícil. Seja como for, aí ficou. Por um estranho acaso, se por acaso foi isso que aconteceu, os olhos sem vida do bicho parecem fitar quem, passando, o vê. 
Teria dono? Será um dos muitos que por aqui andam, quase selvagens, alimentados a restos por almas que não se apercebem do disparate e pelos pequenos animais que conseguem apanhar?





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Actualização em 22.04.2020: O cadáver do gato desapareceu.