terça-feira, 15 de outubro de 2019

Que vão pela sombra...



A editora Companhia das Letras, do grupo editorial Penguin Random House em Portugal, anunciou, com um ar de mistério, um "thriller" de "um dos melhores autores nacionais", mantendo o nome do autor escondido nesta primeira fase. 
Poderá depreender-se que os editores e/ou o autor quiseram alimentar este pequeno "suspense" por motivos publicitários mas também por o ilustre desconhecido ser alheio a um dos melhores géneros literários, que a maioria das editoras portuguesas despreza alegremente na sua versão nacional. E anunciar que a "celebridade" tal vai lançar um "policial"... ui, que mau aspecto…
E a coisa, em si? O título é interessante, mas os excertos disponíveis on line não entusiasmam. 
Há neles uma ligação aos EUA, uma sugestão de que se baseia num caso verídico, um dispositivo de estilo como o que eu já vi há quase quarenta anos num filme ("Chamada Misteriosa", e nem toda a gente consegue mimar o "Couraçado Potemkine" com a mestra de de Palma… e isto é uma analogia!) e uma parte que sugere que o autor é, ou foi, jornalista e no "Diário de Notícias", pelo que o texto também poderá ter uma vertente memorialística ou mesmo autobiográfica (o que Van Dine não recomenda).
Mas, enfim, que tenha sorte é o que desejo. É possível que haja mesmo alguma hipótese de poder vir a existir em Portugal "literatura policial" portuguesa, e nesse caso todas as obras ajudarão, desde que cumpram os "serviços mínimos" do género e sejam de editoras dirigidas por profissionais competentes. Mas já acreditei mais nisso do que acredito.





Em tempo: Antes do anúncio do nome do autor, houve quem, simpaticamente, me perguntasse se era eu. Respondi, agradecendo, que não escreveria o que vi nos excertos e que não optaria por outra editora além daquela com quem trabalhei mais recentemente, a 20|20 (a que me ligam laços contratuais e de consideração, gratidão e respeito).  

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