domingo, 20 de janeiro de 2019

Podridão: factores de estranheza



A notícia na primeira página do "Sol"

Quando morei num andar acima do solo numa zona suburbana de Lisboa, e assim que as circunstâncias o tornaram possível, o que quis foi mudar-me e, pelo menos numa primeira fase, dispor de uma casa bem fora de qualquer cidade, pelo sossego, pela tranquilidade, em suma, pela qualidade de vida, que seria superior.
Mais de dez anos depois de me ter mudado definitivamente (para uma moradia no campo), sinto realmente que a minha qualidade de vida mudou e não considero, sequer como hipótese remota, voltar a morar numa cidade.
Esse é um elemento de estranheza perante uma notícia como esta: o primeiro-ministro em funções, criatura pela qual não nutro qualquer tipo de consideração, trocou uma vivenda num condomínio fechado dos arredores de Sintra por uma cave em Benfica. Uma vendeu-a por 350 mil euros (tão pouco?!), a outra comprou-a por 320 mil euros (tanto?!).
É possível que o chefe do Governo prefira morar numa cave, como tantos são, por exemplo, os indianos que mergulham convictamente no Ganges. Mas… não sei, não acredito nessa estranha preferência.
Por outro lado, a (não) diferença de preços: o que aqui fica, sabendo-se como as coisas são (incluindo a voracidade fascista do Fisco pelos impostos sobre o imobiliário e a forma criativa como muita gente lhes foge) sugere que o preço público da compra foi talhado à medida para salvaguardar a aparência de reinvestimento do produto da venda de modo a evitar o agravamento do IRS. Pode nem ser o caso mas estamos aqui num domínio muito delicado: em política, o que parece é.
Um outro elemento de estranheza tem a ver com a imprensa: a notícia foi dada ontem, sábado, em primeira mão, pelo "Sol". Até este momento, e à excepção do "Correio da Manhã", a restante imprensa ignorou o assunto. Ou foi forçada a ignorar?
Tudo isto cheira mal. E é mais um exemplo da podridão política em que mergulhámos.


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