segunda-feira, 31 de dezembro de 2018

Quinta da Fata: plenitude


A sempre interessante “Revista de Vinhos – A Essência do Vinho” escolheu, no seu último número do ano, quarenta e um vinhos tintos “de topo”, de várias regiões e preços e com classificações (num máximo de 20) de 18,5 e 18. E o primeiro lugar foi para um vinho que tive ocasião de provar ainda antes de chegar ao mercado, o Conde de Vilar Seco, da Quinta da Fata (Vilar Seco, Nelas, região do Dão).
O seu produtor, Eurico do Amaral, já foi homenageado como Produtor do Ano por esta publicação e a referência ao Conde de Vilar Seco justifica-se. É, e perfilhando a respectiva nota de prova, “um grande vinho de Portugal, que revela todo o potencial do Dão”, com “classicismo e autenticidade”. Classificado como “garrafeira”, feito apenas com a casta Touriga Nacional e é proveniente da colheita de 2010. Pode ser bebido com todo o prazer nos próximos anos e a sua longevidade proposta pela “Revista de Vinhos” tem como limite, mais do que os outros, o ano de 2035. Só que… deste já não há.
O Conde de Vilar Seco esgotou-se no produtor. Bem aventurados são os que ainda o têm, bem-haja quem o fez e não tem mal guardá-lo o mais possível porque é verdade que melhora, sempre imperturbável na sua força, com a passagem dos anos. O Dão a sério é assim.









O Conde de Vilar Seco foi um dos cinco lançamentos da Quinta da Fata para este ano e o leque de vinhos postos no mercado revelou a notável maturidade do que aí é feito por Eurico do Amaral, pelo discreto mas sábio enólogo António Narciso e com o acompanhamento do Centro de Estudos Vitivinícolas do Dão, de Nelas. E, neste caso, numa plenitude que é ilustrativa do que são, ou deviam ser, todos os vinhos do Dão. Porque não é possível fazer melhor do que isto, nos cinco segmentos que aqui figuram.
Touriga Nacional Grande Reserva de 2014, Reserva de 2014, “colheita” de 2015 e Encruzado (branco) de 2016 foram os vinhos que fizeram parte da comitiva do Conde. O primeiro confirma a excelência dos Tourigas da Quinta da Fata, o de 2015 mostra, na sua simplicidade, como é e deve ser o vinho das castas tintas tradicionais do Dão e o branco (como já se notou com o de 2015) mostra uma evolução em garrafa, sobretudo se for servido nas condições de temperatura adequadas, que o transformam numa pedra preciosa. A grande surpresa destes cinco lançamentos é, porém, o reserva de 2014. No seu património de grandes vinhos, desde a primeira vindima de 2003, e além dos Tourigas, só há mais dois que se destacam à grande altura deste: os vinhos de 2005 e de 2007. Se eram magníficos, este também se encontra bem posicionado para se instalar comodamente nesse nível e cada garrafa que se vai abrindo só reforça essa impressão. E está para durar. Como todos eles, como genuínos vinhos do Dão que são.

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