quarta-feira, 11 de janeiro de 2017

Tempos de loucura

1. Os juros da dívida portuguesa, a 10 anos, passaram os 4 por cento. O anterior ministro das Finanças do PS (Teixeira dos Santos, um príncipe do Renascimento quando comparado com o seu actual sucessor) disse em 2010 que quando os juros chegarssem aos 7 por cento seria necessário estender a mão à caridade internacional. O terceiro empréstimo internacional chegou em 2011 quando os juros já iam a 10 por cento. O actual chefe do Governo disse que não estava preocupado. O seu antecessor José Sòcrates terá dito mais ou menos o mesmo ainda em 2011.

2. Francisco Louçã, trotzquista emérito, professor doutorado de Economia, fundador do BE e uma mistura de bonzo com bispo do actual regime, disse que a sua jovem deputada Mariana Mortágua havia de ser ministra das Finanças. Não secretária de Estado de uma “causa” qualquer mas ministra das Finanças. Louçã saberá o que diz e o que quer. Bem vistas as coisas, a aventureira Mariana até pode ser uma boa herdeira de Mário Centeno. Já estivemos mais longe.

3. Depois da CGD andar na polémica pública há um ano, numa situação em nada saudável para uma instituição financeira, é a vez de o Novo Banco ter o seu futuro debatido na imprensa. Fragilizado, discutem os vários chefes dos clãs políticos das “esquerdas” se há de ser nacionalizado, vendido, retalhado, extinto, escondido. Admira que ainda haja depositantes no “banco bom” que sobreviveu ao lamentável colapso do grupo GES. Seja como for, a conta vai sobrar para todos.

4. Na capital do País, o presidente da Câmara Municipal não eleito aumentou a oferta do número de casas para os seus munícipes. Consta que um seu antecessor noutro ponto do País, Valentim Loureiro, fez o mesmo com torradeiras e micro-ondas há muitos anos. E ganhou as eleições. Em Lisboa, como o dito presidente é das “esquerdas”, já está tudo bem.

5. O Ministério da Educação do atual governo revolucionário vai contratar “tarefeiros” para as escolas a pouco mais de 3 euros à hora. Ninguém protesta.

6. Mário Soares não foi um anjo, não é um candidato à canonização, não é um deus. Foi uma personalidade importante depois do 25 de Abril. Foi Presidente da República e primeiro-ministro. Foi fundador e chefe máximo do maior partido português. Só isso. Mas a imprensa, sem excepções, endeusou-o. Desde há dois dias que não se fala em mais nada, que não há outras notícias. E, como acontece com todos os “pais dos povos”, só há elogios. As áreas menos claras da sua actividade política e partidária ficam na sombra, na lógica mesquinha portuguesa do “morreu, é uma pessoa excepcional”. Lá longe, na terra dos seus antepassados, o actual chefe do Governo nem se digna interromper a visita de Estado para prestar homenagem ao homem que, de uma forma ou de outra, o ajudou a cumprir uma das suas grandes ambições.

Vivem-se dias de loucura. O País não está são.



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