quarta-feira, 29 de junho de 2016

Oportunismo (de direita)



Jerónimo de Sousa deu em eurocomunista?
A participação indirecta do BE e do PCP no actual governo do PS é, desde o primeiro momento, estranha. 
Não se vêem, ao cabo de seis meses desta experiência política, resultados que possam ir no sentido do que, pelo menos teoricamente, defendem aqueles dois partidos. 
Não se percebe como é que se pode dizer que acabou a austeridade quando as restrições económicas atingem a maioria da população, a começar pelo brutal aumento do imposto sobre os produtos petrolíferos. E nem se pode dizer que a função pública também se viu livre da austeridade porque os seus salários não melhoraram substancialmente.
Ao contrário do que este fim de semana e hoje, segunda-feira, disseram os dirigentes dos dois partidos (numa espécie de competição ciumenta), o apoio do BE e do PCP ao PS serviu para uma única coisa: pôr os dois partidos no “arco da governação”, o que se torna especialmente aliciante para o BE e embaraçoso para o PCP. 
O BE e os seus dirigentes e quadros querem sentar-se “à mesa do orçamento” e usufruir de todas as vantagens. Não se esperaria outra coisa dos jovens radicais pequeno-burguesas de fachada socialista oriundos dos meios urbanos e suburbanos. É o que esperam vir s conseguir.
Mas no PCP ainda haverá dirigentes e quadros que percebem que a participação no Governo não trará benefícios ao partido, salvo se o País fosse suficientemente rico para suportar todos os disparates ou pudesse ter um Estado totalitário para evitar oposições e pensamentos divergentes. O único benefício para o PCP parece ser pessoal e intransmissível: o actual secretário-geral ganhou mais tempo de antena e pode servir de chapéu-de-chuva para alguns potenciais sucessores oriundos do grupo que controla.
Só que o fascínio dos dois partidos por um governo de prática conservadora e discurso rebelde está, e é esse um dos elementos que maior estranheza causa, situado claramente fora dos cânones do marxismo-leninismo. 
O que caracteriza o actual rumo dos trotskistas, maoístas e comunistas arrependidos do BE e dos comunistas órfãos de referências ideológicas do PCP é aquilo que os teóricos e práticos do marxismo-leninismo classificaram como “oportunismo de direita”: uma guinada à direita, um afastamento dos movimentos de agitação e de luta popular (veja-se a manifestação de apoio à política educativa deste governo), um espezinhar da ideologia e uma capitulação clara perante um governo que não é deles. Em nome de reformas ideais. Trocando a revolução pelo reformismo.
É um rumo que não está muito distante do que trilharam, a certa altura, os partidos comunistas francês (de George Marchais) e espanhol (de Santiago Carrillo) com o seu “eurocomunismo”. 
Hoje, como se pode ver, esses partidos praticamente desapareceram, deixaram vagos espaços eleitorais que dão para tudo e para o seu contrário e os picos eleitorais que conseguem os seus herdeiros indirectos (como na Grécia e em Espanha) acabam por não ter consistência ideológica ou política.
Depois do 25 de Abril, para não “meter medo” ao povo, Álvaro Cunhal promoveu a retirada das referências à “ditadura do proletariado” do programa do PCP. Esta cedência ao poder da terminologia política burguesa até pode ter favorecido o partido. 
Mas nem Jerónimo de Sousa, nem João Semedo (apesar dos seus arroubos de juventude) nem a sua discípula Catarina Martins têm as capacidades intelectuais e políticas de Cunhal. Que, se fosse vivo e ainda influente, teria travado este surto de oportunismo de direita do partido que refundou para combater mais vivamente o BE e o PS. Em nome da sua própria sobrevivência.


Provincianismo

Garante o "Jornal das Caldas" de hoje: o presidente da Câmara Municipal de Caldas da Rainha, Tinta Ferreira, "revelou que 'de tal maneira a cidade e o concelho têm o seu movimento que tivemos a informação de que Eric Cantona [antigo futebolista francês] esteve nas Caldas da Rainha a passear".

Campanha eleitoral

"Jornal das Caldas", edição de hoje, 29 de Maio: o presidente da Câmara Municipal de Caldas da Rainha, Tinta Ferreira, candidato do PSD às eleições autárquicas de 2017, aparece em 4 fotografias; o seu vice-presidente, Hugo Oliveira, aparece em 1 fotografia.
Não se conhecem, nesta data, os candidatos dos restantes partidos.

terça-feira, 28 de junho de 2016

Ainda faltam 10 meses...



Peter Dinklage, Nathalie Emmanuel e Emilia Clark (Daenerys Targaryen) © HBO










Sem pontas soltas, sem "arcos" individuais pouco compreensíveis a distraírem as nossas atenções, com a imagem espectacular da frota da Mãe dos Dragões e dos seus dragões à conquista de Westeros, algumas alianças refeitas e dúvidas suficientes em torno de quem vencerá a disputa pelo Trono de Ferro (Daenerys? Sansa? Cersei? Jon Snow? Littlefinger?), terminou a sexta temporada da "Guerra dos Tronos".
A quase certeza de que vai acabar em breve (com duas temporadas finais mais breves) deu um tom mais rigoroso e relativamente mais urgente à narrativa. Há séries que, à aproximação do fim e mesmo no final, perdem força. Esta, para já, não.
Regressa em Abril do próximo ano (ainda faltam 10 meses!) e apenas com mais sete episódios previstos.

*

Apesar disto, claro, que no melhor pano cai a nódoa...



sexta-feira, 24 de junho de 2016

Serviço público


A "Gazeta das Caldas" dedica, na sua edição de hoje, duas páginas às estradas e ruas do concelho de Caldas da Rainha, incluindo não apenas o interior rural como a própria capital do concelho.
Numa época em que o presidente da Câmara Municipal já está em pré-campanha eleitoral e as oposições ainda não pensaram no assunto, esta reportagem da "Gazeta" é quase um acto de serviço público cuja leitura (com significativas fotografias) não posso deixar de recomendar.
É um aspecto, aliás, a que tenho dado o devido relevo neste blogue.



Maravilhas da natureza




Para variar das ervas daninhas, uma flor espontânea.

terça-feira, 21 de junho de 2016

EDP - A Crónica das Trevas (67): o eterno mistério...

Entre as 5h40 e as 5h50 faltou a luz.
Nos últimos tempos, estas falhas no fornecimento de electricidade têm sido menores do que já foram (ver aqui a minha Crónica das Trevas) em quantidade e em duração mas continuam.
A EDP, o eterno monopólio, não assegura a 100 por cento o seu serviço e, depois de um dia me terem garantido que os "black outs" constantes se deviam às "trovoadas das Caldas", nem vale a pena perguntar ou tentar perceber porque é que isto acontece.
Um dia, se tivesse tempo e paciência para tanto, ainda me haviam de responder que há no "sistema" uma manifestação sobrenatural qualquer que gosta de andar a gozar com os que têm o infortúnio de estarem sujeitos ao monopólio - ou seja, todos nós.

segunda-feira, 20 de junho de 2016





Do lixo como atracção turística

Caldas da Rainha, Praça 5 de Outubro, 17 de Junho de 2016,
por volta das 22 horas, by Câmara Municipal de Caldas da Rainha.






Um sintoma



Isto não é um fenómeno isolado. É o que realmente pensa o PS (e que, com o seu actual caudilho, já não tem vergonha de o dizer).
É o que o BE e o PCP, porque lhes está na massa do sangue e porque lhes daria jeito, gostariam também de dizer publicamente e, mais do que isso, de pôr em prática.
Isto é, sobretudo, um sintoma.

sábado, 18 de junho de 2016

Os "marchantes" do Estado do "tempo novo"

Agora já não há manifestações, só há "marchas"







Não se nota que a entidade ou noção "escola pública" esteja em risco.
O Governo, que tem uma agenda ideológica conivente e coincidente com o BE e o PCP, conseguiu impor, com alguma demagogia, que os "colégios" são maus e a "escola pública", agindo em conformidade em termos orçamentais.
Percebe-se mal, por isso, esta manifestação ("Marcha pela Escola Pública") que personalidades do arco governativo PS-BE-PCP, sindicalistas do PCP e agora o próprio PCP organizam hoje.
Só há, para a coisa, duas explicações:
(a) a manifestação dos "colégios" foi maior do que poderá ter parecido e era necessário contrapor-lhe qualquer coisa nas ruas;
(b) não querendo beliscar o governo do "tempo novo", o PCP e os seus companheiros de caminho precisam de todos os pretextos para fazer manifestações ou, como agora lhe chamam, "marchas".
Se em Portugal houvesse uma imprensa forte e livre, saberíamos ainda hoje, e com dados bem objectivos, também duas coisas:
(a) quantas pessoas participaram em cada uma das manifestações;
(b) quem é que pagou os meios de transporte empregues pelos organizadores das duas manifestações (autocarros, por exemplo) para levar manifestantes (ou "marchantes") a Lisboa e qual foi o custo global em cada um dos casos.
Infelizmente, não o saberemos.

*

Hoje, domingo, o "Público" faz a notícia da manifestação, partindo do que, afinal, parece ser o mais importante: quantas pessoas?
Os números são díspares, estranhamente díspares.
A Fenprof garante que foram 80 mil os participantes na coisa e a PSP baixa o número para 15 mil. A dos "colégios", em Lisboa, terá tido 40 mil.
A PSP, por motivos operacionais, costuma fazer estas contas (mas a sua divulgação já suscitou problemas) e não se vê motivo, mais a mais sendo uma manifestação favorável ao governo em funções, para que a sua avaliação pudesse ter sido adulterada.
Os 80 mil da Fenprof são, com toda a certeza, um número inflacionado porque conviria apresentar algarismos de fácil comparação com a outra manifestação. Neste caso, "o dobro" é fácil de alardear mas muito difícil de acreditar.

quarta-feira, 15 de junho de 2016

"Rogue Lawyer", de John Grisham





O escritor norte-americano John Grisham, cronista inveterado do sistema judiciário, procurou sempre retratar juízes, advogados e delegados do Ministério Público com algum realismo nos quase trinta romances que publicou: nem todos são bons, nem todos são maus, há alguns que são bons e maus, as circunstâncias condicionam as pessoas.
Mas isso foi até agora. Em "Rogue Lawyer", a sua obra mais recente, John Grisham vai mais longe do que alguma vez tinha ido: juízes e Ministério Público não são flores que se cheirem (e a sua descrição de uma juíza é sugestiva...), dos advogados há poucos que se aproveitem e o melhor (ou pior, segundo as regras normais da experiência comum) é Sebastian Rudd, o tal "rogue lawyer", capaz de tudo, ou quase, para triunfar nos casos pelos quais advoga... e nos outros domínios da sua animada vida pessoal. E que é o herói indiscutível deste seu livro.
É por esse motivo que "Rogue Lawyer" é um dos seus melhores romances dos últimos anos e dos mais subversivos de um autor coerente e sabedor.

(Este livro está publicado em Portugal com o título "O Advogado Mafioso" pela Bertrand Editora.)




terça-feira, 14 de junho de 2016

Distraídos ou desonestos?

É tão estranho que aqueles (e aquelas) que se esganiçaram contra o "convite à emigração" do primeiro-ministro Pedro Passos Coelho em 2011 não piem agora sobre o "convite à emigração" do primeiro-ministro António Costa...


Primeira página do "i", 14.06.16










...e, já agora, que nada se diga sobre a "alteração demográfica" que o actual chefe do Governo reconhece e que tem, como efeito bem visível, que há professores a mais. Perante o silêncio (distraído ou desonesto?) do "chefe" Nogueira.

sábado, 11 de junho de 2016

Professores


Uma das coisas que maior estranheza me causa, na pouco nítida nuvem de opiniões proferidas nas redes sociais, com a descontracção de quem estar na retrete de sua casa, é o modo ligeiro como professores se referem a personalidades pública de quem não gostam, ou a quem politicamente se opõem.
Cabe aos professores (penso eu, admitindo que possa estar errado...) mostrar aos seus alunos (e sobretudo àqueles que são seus "amigos" no Facebook, por exemplo) noções mínimas de "educação cívica" ou "para a cidadania". Ou, no vocabulário de outros tempos, de boa educação.
Muitos não o fazem, no entanto, e agitam insultos de pequeno, médio e grande calibre que, cara a cara, lhes dariam direito a serem processados por difamação e calúnia.
Ou a serem também insultados pelos alunos porque, ao insultarem publicamente alguém, estão a dizer àqueles sobre os quais têm qualquer tipo de autoridade (nem que seja moral...) que podem, eles também, insultar livremente os professores, por exemplo, e talvez mesmo na sala de aula.
Ver um professor a chamar "verme político" numa rede social a uma personalidade pública é um destes casos.

sexta-feira, 10 de junho de 2016

A “esquerda” fugiu? Ou pintou a cara de preto?



Deve ser o Paraíso do "novo tempo": já não há motivos para protestar...

Há qualquer coisa de bizarro no modo como alguns sectores da opinião publicada e parte grossa da imprensa nacional deixam passar decisões e posturas governamentais que têm o apoio do BE e do PCP que, se fossem oriundas do governo anterior, já teriam dado origem a grandes e médios protestos.
É a discriminação do sector privado no pequeno luxo das 35 horas para os funcionários públicos; são as medidas eleitoralistas e sectoriais voltadas expressamente para empresários (a redução do IVA na restauração, o gasóleo mais barato para as empresa de transportes); é a contratação de 18 ou 19 administradores (todos amigos e “clientes” do PS) para a deficitária Caixa Geral de Depósitos, onde os salários podem subir à vontade e nós vamos todos ter de pagar a respectiva recapitalização; são as demissões à força no aparelho de Estado para serem nomeados elementos do PS; é a cedência à aristocracia operária dos estivadores e dos trabalhadores dos transportes públicos. É toda uma série de decisões políticas, financeiras e económicas que, numa simples lógica de prostituição, visam comprar votos para o PS.
Se estas decisões, ou outras decisões que também têm sido tomadas, saíssem do governo de Pedro Passos Coelho e Paulo Portas, não faltariam as manifestações, os protestos, os insultos e as mais variadas insinuações. E, com sorte, haveria mais uma rapariga a fazer-se aos polícias e outra a pôr-se ao léu, tentando conquistar o lugar de musa da revolução.
Mas não há.
É espantoso como há hoje, pelo menos, uma camada da população que se disse, e ainda se diz, “de esquerda” e que deixa passar, sem um pio, uma série de medidas que beneficiam apenas os “clientes” presentes e futuros do PS e que são más para o País. 
Criticam, por exemplo, os “amarelos” que ousaram protestar na rua em defesa do sector educativo privado como antes se angustiaram com os “custos para os contribuintes” do BES/GES mas deixam passar em silêncio o escândalo da CGD – onde é politicamente mais grave a nomeação governamental de quase 20 administradores do que o buraco financeiro do dito banco.
Andarão arrependidos os da “esquerda” e, por isso, inibidos? Pensam que parece mal censurar o governo dos “camaradas”? Têm medo de perderem os empregos na função pública? Acreditam mesmo que estes dias são um “tempo novo” que nos vais conduzir ao paraíso das vacas voadoras? 
Ou andam tão envergonhados que preferiram pintar a cara de preto, para mais facilmente serem confundidos com a penumbra de efeitos sombrios que mais caracteriza a tríade PS-BE-PCP?


quarta-feira, 8 de junho de 2016

Do cagatório como atracção turística


Os cerca de 17 quilómetros que ligam São Martinho do Porto e Salir do Porto à Lagoa de Óbidos, e que correspondem à frente ocidental do concelho de Caldas da Rainha, são um dos elementos mais interessantes da região.
Percorrem-se, sem pressas, em menos de 20 minutos mas oferecem uma visão panorâmica extraordinária do Oceano Atlântico, deixando ver as Berlengas e até Peniche nos dias mais claros, debaixo de um azul do céu que se funde com o azul do mar.
A Estrada Atlântica, a sua ligação directa, é, só por si, um miradouro natural mas entre ela e o mar há arribas, penhascos, mato, bosques, pinhais e caminhos escondidos (e às vezes escarpados). Há quem vá lá ao fundo apanhar mexilhão e, pelo menos em tempos, houve locais onde se podia praticar caça submarina. O cenário sugestivo do local foi por mim aproveitado para o meu romance "A Guerra de Gil".
Há alguns anos, um esquecível presidente de junta de freguesia teve o único gesto positivo da sua carreira político-empresarial que foi a construção de um miradouro que permite parar o carro e ficar a ver.
Mais tarde, num exemplo do que de muito mau se faz neste concelho, alojou-se no miradouro uma rulote de comes-e-bebes. E aí ficou, imune a considerações fiscais, políticas ambientais, opções turísticas ou, sequer, bom senso e bom gosto.
A rulote desapareceu há meses, por motivos que desconheço.
Mas a herança ficou: uma latrina portátil que foi lá montada por quem geria o negócio da rulote, o horrendo caixote verde de lixo que a Câmara Municipal caldense deve considerar como "ex libris" do concelho, uma rede rebentada e, normalmente, lixo no chão.
Não é nada de novo, claro, e é tão habitual como os anúncios de festarolas comerciais em plástico que ficam pendurados nas árvores e nos candeeiros até o tempo os desfazer, além das muitas outras porcarias que caracterizam a gestão municipal do concelho.
E, verdadeiramente, sendo motivo de indignação, já não surpreende que um ponto de atracção turística seja assim menorizado pela enfadonha classe política do concelho, que só tem olhos (e, mesmo assim, vesgos) para o que se passa dentro da capital do concelho, olhando porventura para o resto do concelho com o seu olho mais escuro...


O caixote de lixo e o cagatório


A rede rebentada

O Oceano Atlântico ao fim da tarde... e outra extensão de rede rebentada

domingo, 5 de junho de 2016

A causa das 35 horas: má imagem, ética profissional duvidosa

Não é boa a imagem do "funcionário público", postado atrás de um balcão perante o qual se acumulam pessoas que esperam o favor de uma atenção, para exporem um problema e tentarem resolvê-lo.
É possível que a transferência de muitos procedimentos da administração pública para a internet tenha aliviado muitos serviços de atendimento público, mas não despega facilmente do imaginário colectivo a impressão deixada de que não têm vontade nenhuma de trabalhar e de que conseguem pôr em prática essa vontade. E há um bem argumento para isso: o grande patrão Estado (que faliu em 2011 e todos pagámos por isso) nunca pede muito aos seus funcionários. Nunca é exigente.
A bandeira das 35 horas de trabalho semanal para a função pública não é apenas uma ofensa ao país que trabalha, mais do que as 35 horas e todas aquelas que forem necessárias. E que paga, com os seus impostos, os salários da função pública.
A reivindicação das 35 horas foi a machadada definitiva dada pelos próprios, pelos sindicato e pela "esquerda" na imagem dos funcionários públicos e em qualquer resquício de ética profissional que talvez devessem procurar afirmar.


Um país dividido entre os que não querem trabalhar mais do que 35 horas por semana
e aqueles que têm de trabalhar

sexta-feira, 3 de junho de 2016

Mais algumas traduções minhas entretanto publicadas




("Work, Sex and Power - The Forces That Shaped Our History")
Temas e Debates - Círculo de Leitores



("Das Mona Lisa Virus")
TopSeller




("The Residence - Inside the Private World of the White House")
Vogais


("Finding Jesus")
Vogais





("How We Got to Now")
Clube do Autor



("Genesis")
TopSeller



("Colossus - The Rise and Fall of the American Empire")
Temas e Debates - Círculo de Leitores




quarta-feira, 1 de junho de 2016

Atrasados

Foi já há trinta anos que nasceu um fenómeno político curioso: a apetência voraz dos concelhos do interior de terem, pelo menos, uma universidade. Não lhes chegava o instituto politécnico que pudesse existir na sede do concelho ou mesmo qualquer "pólo" de uma universidade privada de Lisboa ou do Porto. Queriam, à viva força, uma universidade estatal.
Não perceberam, e houve dirigentes do ensino superior politécnico que também não ajudaram (e o ziguezagueante poder central muito menos), que as suas populações e os seus jovens ganhariam muito mais com um instituto politécnico de grande qualidade do que com uma pequena universidade sem importância, como disse o fundador do Instituto Politécnico da Guarda, João Bento Raimundo que, apesar de ser perseguido por isso, fez do "seu" instituto o melhor do País. Com o qual, mais tarde, só concorreu o de Viseu.
A situação não se alterou, tantos anos depois. Não há população estudantil que o justifique, não há deslocações impossíveis, não há tecido económico que o sustente: as cidades e os concelhos onde existe um instituto politécnico de relevo não precisam de o transformar em universidade.
Leiria, e é o caso, não precisa de ter o respectivo instituto politécnico transformado em universidade; precisa é de ter um excelente instituto politécnico.
Só que, como sempre tem acontecido, são os políticos locais que pensam que a reivindicação de uma universidade dá votos. E, se dá, é apenas pela demagogia de oferecer à população uma universidade ao pé da porta para os seus filhos estudarem. Mesmo que depois os seus diplomas não sejam garantia de preferência em matéria de emprego. Nem que o emprego esteja garantido no concelho.
A ilusão, infelizmente, não se desfez e é significativo que no habitual programa de debate "Jornal das Caldas"/Mais Oeste Rádio que os políticos de Caldas da Rainha voltem à carga: também querem o Instituto Politécnico de Leiria transformado em universidade.
Apesar do muito que terão dito sobre o assunto (e o resumo pode ser lido aqui) não se lhes nota um grão de lógica. Nem de razoabilidade.
O que se nota é que chegaram atrasados ao fenómeno e que devem pensar que isto (à falta de trabalho político de qualidade) lhes dá votos.
Ou que então se limitam, numa lamentável fila de onde ninguém se exclui, a seguir o provérbio, aplicado à tristonha política caldense: "onde mija um português, mijam logo dois ou três".


Manuel Nunes (PS), João Frade (PSD), Joana Agostinho (MVC), Joana Filipe (BE), José Carlos Faria (PCP) e Rui Gonçalves (CDS): sai uma universidade para a mesa do canto


"Peaky Blinders"


Steven Knight é argumentista e é especialmente conhecido por "Promessas Perigosas" , de David Cronenberg com Viggo Mortensen, e "Locke".
Cillian Murphy, actor de presença discreta mas marcante, entrou nos três "Batman" de Christopher Nolan.
São eles, o argumentista e o criador, os cabeças-de-cartaz da série televisiva "Peaky Blinders".
Localizada em Birmingham e depois em Londres, a história desta série britânica tem a habitual base de drama familiar, de ambição e de conquista de posições e de violência entre gangues. Mas não só. Iniciando-se depois da Primeira Guerra Mundial, em que entraram quase todos os protagonistas de destaque, "Peaky Blinders" traz uma impressionante recriação cenográfica da época, uma atmosfera quase mágica (e a ascendência cigana da família Shelby ajuda) e um enquadramento político e histórico (a questão irlandesa e Winston Churchill) sugestivos.
Cillian Murphy entra em cena com o seu ar quase angelical, na pele do chefe do clã Shelby, e transforma-se, gradualmente, num chefe criminoso de um cinismo e de uma brutalidade assinaláveis. É o grande motor desta série, onde não faltam Tom Hardy e Sam Neil, e onde a prevalência do argumentista Steven Knight, como criador e produtor, não é um obstáculo à linearidade da narrativa audiovisual, que tem momentos surpreendentes (como o extraordinário clímax da primeira temporada) e uma banda sonora de primeira linha onde se destaca a canção do genérico inicial, "Red Right Hand", de Nick Cave". 
Produção da BBC, "Peaky Blinders", agora na terceira temporada (onde convergem influências bem aproveitadas de "O Padrinho", "Sons of Anarchy" e "Os Sopranos" e alguns excessos de câmara-lenta), nunca foi exibido nos canais portugueses de televisão. É uma omissão que diz muito sobre a ignorância dos seus responsáveis.





(Vi as temporadas 1, 2 e 3 de "Peaky Blinders" em DVD, numa edição BBC legalmente adquirida.) 

Problemas do "tempo novo"

Não tendo irmãs ou irmãos de sangue, acho que devia ser indemnizado pelo Estado do "tempo novo" por não poder assinalar o "Dia do Irmão" (ou "do Irmão e/ou da Irmã", por causa do problema do género) no Facebook.