quarta-feira, 11 de maio de 2016

Costa & Sócrates, SA, Martins & Sousa, Lda

José Sócrates precisa de António Costa e António Costa precisa de José Sócrates. 
O antigo primeiro-ministro arguido e suspeito de vários crimes precisa da protecção do actual primeiro-ministro. Por ser primeiro-ministro e por ser quem manda no interior do PS. O actual primeiro-ministro precisa de Sócrates pela influência que ele ainda tem dentro do PS, pelo seu carisma de uso interno de “resistente” e, sabe-se lá, se do dinheiro que ele ainda pode ter. Ou o tal Santos Silva por ele.
Costa e Sócrates saem do mesmo ventre do PS mas constituíram famílias distintas. Silva Pereira, o ex de Sócrates que agora assessora Costa para o congresso do partido que também parece ter beneficiado dos favores do primeiro em Paris, é o elemento de ligação.
O convite feito por Costa a Sócrates para a inauguração de um túnel rodoviário é, bem à vista de toda a gente e numa cerimónia pública, a expressão de um pacto e, obviamente, um gesto de desagravo político: que a justiça o trate bem, podia ter exortado António Costa neste preciso momento.
Costa acolheu Sócrates e mostrou-o ao sistema judiciário como se erguesse um sinal de “stop”. Sócrates é arguido por suspeita de crimes económicos relacionados com as funções públicas que exerceu e não por ter sido apanhado a guiar sem carta ou em excesso de velocidade e essa circunstância, independentemente do direito à presunção da inocência, recomendaria ao actual chefe do Governo alguma decência política. Até porque parte do sistema judiciário depende, de uma forma ou de outra, do Governo.
Por outro lado, este reforço pouco decente do PS (de onde, estranhamente, desapareceu a voz de Mário Soares) devia inquietar os seus parceiros políticos. Costa só precisa do BE e do PCP enquanto o PS não for suficientemente forte e não tiver um controlo satisfatório sobre vários sectores. Depois, como é evidente, livrar-se-á deles e sem ponta de escrúpulo.
Não deixa ainda de ser estranho que Catarina Martins (que vai fazendo de vice-primeira-ministra dia sim, dia não) e Jerónimo de Sousa (que às vezes parece arder de ciúmes), se tenham conformado com a situação.
Aceitam tudo e mais alguma coisa, engolem sapos em versão garganta funda e assinam de cruz acções, medidas e intenções que já vão muito para lá da decência democrática. E não pestanejam perante a reabilitação política de Sócrates feita pelo chefe do “seu” governo. 
Mas o certo é que se, por enquanto, têm lugar numa espécie de “mesa dos pequeninos” do banquete governamental, poderão ficar um dia sujeito às migalhas que o PS unido fará o favor de lhes dar. Quando toda a “nomenklatura” socialista estiver saciada. Obviamente.


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