quarta-feira, 3 de fevereiro de 2016

Distâncias


Vivo há mais de dez anos no interior profundo do concelho de Caldas da Rainha, numa zona rural que fica a cerca de 11 quilómetros da capital do concelho, distância que se percorre numa duração que oscila entre os 15 a 20 minutos.
Não é muito. Mas, para quem vive no interior rural e na cidade que é capital do concelho, é uma distância quase comparável àquela que separa a Terra de Plutão.
Há, na cidade de Caldas da Rainha, um sector social, político e económico que constitui uma verdadeira "nomenklatura" à escala local. Os seus membros vivem e circulam na cidade ("as Caldas" é só a capital do concelho e não o concelho), fazem aí as suas políticas e politiquices e parecem ter verdadeiro horror ao resto do concelho.
Um dos membros dessa "nomenklatura" deixou de residir em Caldas da Rainha há, pelo menos, oito meses. Hoje vive também "no interior profundo" mas noutro concelho. Eis o que escreveu numa rede social:
«Vivo há 7 meses no interior profundo de Portugal. Desde então, tenho conhecido melhor a realidade do mundo rural e da interioridade. Devo dizer que, do ponto de vista económico, o que se vê é uma tristeza. Há todo um potencial de riqueza e emprego que foi abandonado há 40 anos e que está longe de se conseguir aproveitar, Exceptuando as plantações de eucaliptos, os campos estão quase abandonados e o desemprego grassa entre a população do interior, sem que se vislumbrem os investimentos necessários.
Os programas de desenvolvimento rural que conheço, têm mais de burocracia e de afastamento e desconhecimento da realidade, do que de viabilidade e contributo eficaz para o referido desenvolvimento. Os técnicos do Min. da Agricultura fazem incursões às sedes dos concelhos, para desaparecerem de seguida com um percebido "até nunca". As câmaras municipais, por seu lado, dão mais atenção à cidade do que às freguesias rurais, faltando aproveitamento dos campos e conservação das bermas das estradas, das valetas, das ribeiras, etc. Antigamente, havia práticos agrícolas, guarda-rios, cantoneiros e outros homens de terreno que apoiavam, orientavam e fiscalizavam as populações. O que há agora?
»
Tudo o que o autor destas linhas citadas escreve podia, pode e poder-se-á aplicar à situação das freguesias rurais de Caldas da Rainha.
Foi pena que tivesse de ir para longe ver com o mundo com outros olhos para chegar à mesma conclusão a que eu cheguei.
 

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