domingo, 3 de janeiro de 2016

"Perdeu-se", "fugiu", "desapareceu": o triângulo das Bermudas da incúria





 
Moro numa casa com terreno à volta que está, todo ele, rodeado por uma cerca por opção própria.
O meu cão (e não é o da fotografia) anda à vontade lá por fora mas não sai da propriedade. Quando se abre o portão, fica contido no exterior ou dentro de casa (para não passar para o lado de fora nem haver nenhum acidente). Teve treino canino durante algum tempo (e nunca será demais elogiar o trabalho de quem se dedica a treinar cães e, no nosso caso, os especialistas da Casa do Niko, em Caldas da Rainha) e é razoavelmente obediente. É de uma raça utilizada na caça (e não, não sou caçador) e o olfacto parece funcionar sozinho, em regime de radar, o que faz com que o cão vá atrás de qualquer cheiro mais intrigante. E nunca, mas nunca, deixa de andar à trela fora de casa.
É por tudo isto que me faz uma grande confusão que haja cães que se "perdem", "fogem" ou "desaparecem", grandes ou pequenos, com raça ou sem raça, moradores talvez mais fora de casa do que dentro, com donos idiotas que acreditam que os "seus" cães andarão sempre atrás deles se os soltarem ou que são postos à porta de casa para as suas voltinhas higiénicas porque dá menos trabalho do que andar com eles pela trela ou que, se forem, hão de voltar.
Só que a questão básica é esta: à solta fora de casa e sem trela, os cães afastam-se.
Vão atrás de um cheiro, de outro cão, de qualquer pormenor que os atraia, podem ser atropelados por um carro, perder simplesmente as referências quanto ao local de onde partiram, ser levados por alguém e, talvez, com a melhor das intenções. E depois são cães abandonados (é outra forma de abandono, afinal), perdidos, desorientados, condenados a fins tristes e miseráveis.
O triângulo "perdeu-se" - "desapareceu" - "fugiu" é o retrato da incúria de quem não sabe, porque não quer, tratar de seres vivos que decidiu, sabe-se lá porquê, acolher (e seres vivos que têm uma sensibilidade que os faz às vezes gostar de quem nem sequer os trata bem). E se não for esse o caso, usem ao menos de alguma honestidade: em que circunstâncias é que isso aconteceu? Conseguem confessá-las?

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