domingo, 24 de janeiro de 2016

O "tempo novo" da filha-da-putice fiscal

O aumento dos preços dos combustíveis tem sempre dois grandes efeitos negativos para os consumidores: um é directo e faz-se sentir logo no bolso de quem se abastece para se deslocar no seu veículo e o outro é indirecto e faz-se sentir no preço de venda ao público dos produtos que chegam aos consumidores por intermédio do transporte rodoviário.
Pode argumentar-se, como faz este governo ao anunciar com algum despudor o aumento do imposto sobre os produtos petrolíferos, que este imposto (cujo aumento provoca de imediato um aumento do preço de venda dos combustíveis) é "indirecto".
Mas argumentar isto, sobretudo quando os consumidores andam muito atentos à bizarra situação de ter o preço geral do petróleo a cair e o preço dos combustíveis a diminuir muito vagarosamente é demagogia e da mais grosseira.
Aguentámos, em Portugal, aumentos sucessivos de impostos em 2010, com o PS, e a partir de 2011, com o PSD e o CDS (no cumprimento do "programa da troika", depois da situação de ruína nacional a que o PS nos conduziu), e sobrevivemos.
Mas esses aumentos foram generalizados. Talvez mesmo exageradamente generalizados. Foi revoltante, claro, mas havia uma lógica que não era de facção.
Agora, este anunciado aumento de um governo "de esquerda" do imposto sobre os produtos petrolíferos é ainda mais revoltante do que todos os outros aumentos.
 
 
O "tempo novo" do PS é isto: pôr todos a pagar os benefícios de algum
 
Primeiro, porque é universal e a ele ninguém escapa, desde o mais pobre dos trabalhadores que tem de meter combustível no carro em 3.ª ou 4.ª mão para poder ir trabalhar em regiões que não dispõem do luxo dos transportes públicos, ao grande empresário que troca de carro de topo de gama através da sua empresa de dois em dois anos.
Segundo, porque se destina a compensar o dinheiro que vai ser dado a sectores específicos, aos "clientes" políticos do actual governo: a prenda de 10 por cento do IVA a um sector comercial que fará perder por ano 350 milhões de euros de receita fiscal; os aumentos (seja pela reposição de cortes seja pelos privilégios das 35 horas e outros) da função pública; ou a devolução das empresas de transportes públicos aos sindicatos do PCP.
Este aumento do imposto dos combustíveis, a "devolução dos rendimentos", a "reversão" e os muitos chavões dos flibusteiros que fizeram o primeiro grande golpe de Estado parlamentar da democracia portuguesa resumem-se a isto: a uma filha-da-putice fiscal que, reveladoramente, tem o apoio do PCP e do BE e já não suscita os protestos de quantos clamavam contra o anterior governo, com razão, sem razão e porque tinham medo de protestar contra o patrão, o marido, a mulher ou a namorada.

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