domingo, 8 de novembro de 2015

30 dias

 
As eleições legislativas realizaram-se há precisamente um mês. O mecanismo, tantas vezes cumprido desde 1976, é este: o partido que vence as eleições forma governo. Mas hoje o que é que temos?
O PSD e o CDS, que venceram as eleições, formaram o seu governo. É um governo débil, de serviços mínimos, condicionado pela ameaça feita há um mês pelos derrotados nas eleições de há 30 dias de que cairia vítima de moções de rejeição. 
Quanto a esses derrotados (PS, BE e PCP), andam há um mês a tentar fazer qualquer coisa que tanto pode ser um acordo de governo de curto prazo, um governo do PS com generosas cedências ao BE e ao PCP para lhes pagar o apoio, um governo PS/BE/PCP ou seja lá o que for que resulte desta deprimente confusão. E, com esse objetivo em mente, já conseguiram impor a paralisação do parlamento, numa situação em tudo semelhante ao cerco dos metalúrgicos de 1975. (E num contexto pouco prestigiante em que o PS que não quis Jaime Gama como candidato à Presidência da República empurrou Ferro Rodrigues para a presidência da Assembleia da República...)
E há o tal acordo, ou algo parecido, entre o PS, o BE e o PCP? 
Dia sim, dia não, o BE afirma que há. Dia sem, dia não, o PCP sugere que não há nem vai haver e que venderá bem caro o seu apoio. E o PS, o mesmo PS que combateu os comunistas e os trotzkistas e maoístas de cuja cama saiu o BE, fica calado, de joelhos e mão estendida. Compreende-se: desse acordo depende a sobrevivência do actual secretário-geral do PS, embora não do PS. 
E nesta mistura o que prolifera é a versão contemporânea do “bacalhau a pataco” (o fim da sobretaxa do IRS, o descongelamento de todas as pensões, o aumento da função pública, a baixa do IVA apenas para um sector comercial). E, como pano de fundo, sempre o silêncio do PS, responsável pela bancarrota de 2011 e pelo terceiro resgate da democracia portuguesa.
O seu secretário-geral (que sofreu uma tripla derrota em 4 de Outubro: política, pessoal e ética) parece ter desaparecido de cena para deixar à frente da sua facção o émulo açoriano de Alberto João Jardim. Talvez queira que nem reparem muito nele quando parece ter começado a alastrar dentro do seu próprio partido a crítica ao que anda a fazer. Ou então algum motivo mais profundo há de existir para este césar ilhéu andar assim tão à solta pela capital.
Trinta dias depois das eleições e do seu resultado claro, o país político institucional está a ficar bloqueado. Talvez seja o primeiro de vários passos que provavelmente nos levarão ao próximo desastre económico e financeiro. Ou a um outro PREC que nunca poderá deixar de ser uma guerra civil de novo tipo.


(Texto publicado no Tomate em 4.11.15)

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