sexta-feira, 24 de julho de 2015

12 páginas

 
 
São só doze as páginas que vale a pena reter de "Cercado - Os Dias Fatais de José Sócrates", de Fernando Esteves (Matéria-Prima Edições).
É nessas doze páginas, entre as páginas 53 e 68, que se registam os vários movimentos de milhares de euros que circulam, dentro e fora de contas bancárias, às vezes (segundo a tese da acusação ao ex-primeiro-ministro) disfarçados de "fotocópias", de "aquilo de que eu gosto" e de outras designações igualmente pitorescas, numa descrição que impressiona. E onde até admira que não apareçam palavras como "robalos" ou "quilómetros".
O conteúdo destas páginas amplia uma série de movimentos pelo menos estranhos que já haviam sido descritos de forma resumida em jornais e revistas e sugere realmente que, logo desde o início, o Ministério Público teve, e tem, fundadas razões para suspeitar de que o ex-primeiro-ministro e um círculo restrito de algumas pessoas (pelo menos as já arguidas na "Operação Marquês") andaram durante bastante tempo a contornar a lei e o que se dirá ser o bom senso em matéria de movimentos bancários.
Fora isto, "Cercado", nas suas restantes 280 páginas, é pouco interessante.
A estrutura, que não se adequa a uma obra desta natureza, é errática, anda para a frente, volta atrás, procura um dinamismo desnecessário e que só distrai. Muito do que conta é conhecido e, às vezes, as descrições parecem apressadas e pouco esclarecedoras (o caso da "licenciatura" e o caso das "casas da Guarda") e pelo caminho a linguagem perde-se (abusa-se do "alegadamente" e não lembra ao Diabo ir buscar a palavra "adultez" em vez de "idade adulta".


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