terça-feira, 22 de dezembro de 2015

De como a "jóia da coroa" da Câmara caldense se transformou (mesmo) num "buraco"... cheio







Durante mais de um ano, a Câmara Municipal de Caldas da Rainha andou a apresentar o futuro parque de estacionamento subterrâneo (cuja construção contribuiu para esventrar a cidade... durante um tempo infindável) como uma verdadeira "jóia da coroa" da gestão municipal. Seria uma maravilha, capaz de trazer à capital do concelho milhares, senão mesmo milhões, de turistas e clientes para o comércio local.
Só que não é.
Como o parque, de dois pisos, nunca ficava cheio, o piso de baixo passou a ser reservado para a Câmara, para o tribunal, para residentes e para quem quisesse pagar uma assinatura mensal. Para o público ficou só o piso de cima.
O resultado está à vista, todos os dias: o piso de cima revelou-se insuficiente nesta época onde há mais gente a deslocar-se de carro e a procurar lojas e supermercados para as compras de Natal. E o glorioso parque do PSD local passou a ficar assim: "completo".
Como se costuma dizer, o que torto nasce nunca na vida se endireita. O parque subterrâneo e as obras que durante dois anos transformaram a cidade de Caldas da Rainha num zona de guerra é um exemplo perfeito deste ditado que tão bem caracteriza a presidência de Tinta Ferreira/Hugo Oliveira.

segunda-feira, 21 de dezembro de 2015

Cenas do E. Leclerc





 
 
Sábado à tarde, dia 19 de Dezembro: o prazo de validade expirou (há um e dois meses) mas os produtos continuavam à venda. No supermercado E. Leclerc de Caldas da Rainha. Não é caso único.




domingo, 20 de dezembro de 2015

Tipo descoberta da pólvora

 
Volta não volta, a imprensa descobre as séries de televisão. Acontece hoje no "Observador", já tem acontecido noutros jornais.
É importante, claro, porque as séries televisivas estão desde o final do século passado a ganhar um papel de primeira grandeza no audiovisual, que até agora tinha sido dominado pelo cinema. E não são, como alguns ainda poderão pensar, um cinema em miniatura. São um novo universo audiovisual para onde se voltam realizadores, argumentistas e actores de renome, aproveitando a possibilidade de estender uma história por várias horas e o fim dos limites moralistas na televisão por cabo.
Só que esta descoberta jornalística recorrente se fica pelo que é superficial, fruto de impressões subjectivas (falhando muitas vezes o conhecimento, e a memória já nem conta), de propostas de comunicação das empresas produtoras e dos canais de televisão, de comunicados de imprensas e talvez mesmo de pacotes promocionais.
O resultado é uma lamentável exposição de debilidades e momentos-eureca do género "Descobri a pólvora!".
Há assuntos sobre os quais muitos jornalistas acham que podem escrever à vontade por motivos que é mais delicado não escrutinar. E as séries televisivas, que ainda por cima se vêem em casa, são naturalmente apetitosas. O resultado, depois, está no extremo oposto da qualidade e da relevância das séries.
 
 
 
"Borgen": em Junho de 2013 já estava comentada e elogiada aqui no blogue
 

sexta-feira, 18 de dezembro de 2015

À noite é que é bom





Depois de vários dias e de muitos litros de água perdidos, de alguns avisos aos serviços e da deslocação de funcionários ao local (que não viram o que estava mesmo à frente do nariz de quem passava), os Serviços Municipalizados de Caldas da Rainha vieram arranjar uma ruptura numa rua próxima da minha.
Mas à noite, por volta das 19 horas, numa jornada de trabalho que se prolongou até perto das 23 horas e com intervalo para jantar.
Já tinha acontecido uma coisa parecida há algum tempo, com uma reparação que também só se fez à noite.
Será que isto acontece porque o trabalho nocturno ou/e extraordinário é melhor remunerado do que o trabalho diurno e "normal"?
Há quem diga que sim, acrescentando uma explicação: é a melhor maneira de a Câmara da "nova dinâmica" manter o pessoal satisfeito, sobretudo quando há eleições daqui a menos de dois anos.

quarta-feira, 16 de dezembro de 2015

À borla

 
 
O pai de um amigo meu esteve há pouco tempo internado num hospital público durante mais de duas semanas e grande parte desse tempo foi passado numa maca num corredor. Morreu no hospital.
Um amigo meu esteve dez dias internado num hospital público e também passou algum tempo numa maca num corredor. A condição clínica era grave. Uma pneumonia contraída no hospital matou-o.
Estes dois hospitais, em zonas de grande densidade populacional dos subúrbios de Lisboa, fazem parte do Sistema Nacional de Saúde e o custo da sua frequência por cada doente dificilmente corresponderá ao valor gasto no tratamento de cada doente em matéria de salários do pessoal envolvido, medicamentos, exames, equipamentos adequados e a funcionar e energia eléctrica. E, já agora, em instalações para acolhimento condigno dos doentes. (E, quanto a salários, também, todos se queixam e, a acreditar nos sindicatos, na imprensa e no Facebook, os enfermeiros já emigraram todos.)
O Serviço Nacional de Saúde (SNS) é defendido, como está, por muito boa gente. O “estar” é, neste caso, a sua situação financeira. Os defensores do SNS argumentam que ele faz parte do “Estado social” e que até deveria ser gratuito. A todos os níveis: dos hospitais aos centros de saúde onde uma consulta de clínica geral custa 5€ independentemente do que ganha quem lá vai: quem tem um salário de 600€ paga os 5€, quem tem um salário de 6000€ para os 5€.
Só que o pessoal, o equipamento, as infraestruturas e tudo o resto não vivem do que dá o céu. Vivem do dinheiro do Estado e do nosso. Por um lado, do IRS (e metade da população activa não paga IRS por não ter rendimentos para tal) e, por outro, das taxas moderadoras. 
Segundo as estatísticas da Pordata de Fevereiro deste ano, que havia nessa altura 10 386 593 pessoas a residirem em Portugal. 
Segundo um extenso trabalho do “Expresso” da mesma data, há 5,8 milhões de utentes do Serviço Nacional de Saúde isentos de taxas moderadores, número que é superior em 1,5 milhões ao de isenções concedidas em 2014. 
Isto significa que só 4 586 593 utentes do SNS (por referência ao número da Pordata) pagam as taxas moderadoras. Ou seja, menos de metade dos utentes do SNS pagam directamente os serviços médicos que eles próprios procuram e que os restantes 5,8 milhões também procuram.
Ou seja, o Serviço Nacional de Saúde está claramente subfinanciado. Pensemos agora na questão de outra maneira e com base no exemplo dado: a assistência prestada pelo SNS devia ser paga em função dos rendimentos e, naturalmente, tomando como base a sua situação fiscal. E isto significaria que quem ganha 600€ poderia continuar a pagar os mesmos 5€ da consulta de clínica geral mas quem ganha 6000€ poderia pagar 50€. Ou menos, ou mais. Mas nunca os 5€.
Uma alteração deste tipo daria seguramente mais verbas directas ao SNS e poderia haver mais  médicos, mais enfermeiros, mais equipamento, mais e melhores instalações.
O problema é político mas também é de mentalidades. 
 
*
 
Quando as propinas do ensino superior custavam 1200 escudos por ano (5,99€), a bandeira da “qualidade de ensino” não ia além das campanhas eleitorais das associações de estudantes. Mas quando o preço único das propinas passou para os 52 mil escudos (259.37€), os estudantes começaram a reivindicar a “qualidade de ensino”. À borla, o ensino podia ser mau. Mas pago é que já não.
Há algum tempo perguntei a uma pessoa convictamente de esquerda, militante do PCP e leitora evangélica do “Avante!”, que sempre se queixa das taxas moderadoras e cujos rendimentos não são muitos baixos, se estaria disposta a pagar taxas moderadoras mais elevadas, para ajudar a melhorar o SNS e servir melhor os que não têm dinheiro para frequentar consultas e outros serviços no sector privado (que essa pessoa pode fazer). Disse-me que não.
O governo anterior não quis, ou faltou-lhe a coragem para tanto, mexer nas taxas moderadoras e alterar a sua fundamentação (o que até se poderia compreender porque seria mais uma acha para a fogueira pré-insurrecional em que o País viveu em 2012 e em 2013). O mais longe que conseguiu ir foi na imposição de taxas moderadoras às mulheres que abortam (que o vão fazer porque assim o decidem) e no alargamento de algumas isenções, correcto  numa perspectiva genérica.
Há uma semana, o PS propôs na Assembleia da República (indo decerto ao encontro do que pensam o governo do mesmo partido e o BE e o PCP que o apoiam) que as famílias dos funcionários ferroviários passassem a viajar nos comboios à borla. Ou seja, em transportes públicos que, no seu conjunto, servem o País, e insuficientemente, e que todos nós pagamos. 
Politicamente, é isto: uma perspectiva utilitária do Estado em função de interesses sectoriais que se movem pelo dinheiro e pela acumulação de “regalias”.
É o que se passa na saúde e no SNS. Aliás, basta ver de onde emanam, politicamente, no caso do SNS, os grandes defensores da perversidade do sistema: a função pública, que (toda ela) dispõe de um serviço de saúde próprio com preços muito vantajosos (a ADSE). E como já se viu são esse eleitorado e mais o que pode ser considerado uma verdadeira aristocracia operária à escala portuguesa que estão nas boas graças do PS, do BE e do PCP e bem representados nas suas direcções e nos seus sindicatos. 
Por isso, que lhes interessam, verdadeiramente, os desaires dos outros quando se pode arvorar a borla como ideologia e pagá-la com o dinheiro alheio?
 

terça-feira, 15 de dezembro de 2015

Lata




O ex-primeiro-ministro arguido só tem razão numa coisa: o Ministério Público habituou-se, desde há muitos anos, a atirar os seus suspeitos para a praça pública enquanto os investiga, com o segredo de justiça a valer zero nas sempre iguais e sempre diferentes combinações com a Imprensa.
Mas nem este ex-primeiro-ministro nem o ex-ministro da Justiça que lhe sucedeu alguma vez se preocuparam, enquanto governantes, em resolver o problema.
O resto, tudo o resto, é descaramento. Aproveitando esse outro pecado do Ministério Público que é a falta de pressa em certas circunstâncias, o ex-primeiro-ministro tentou destruir os fundamentos de uma acusação que tarda mas cujos fundamentos ele obviamente conhece.
O que dirá, no entanto, se aparecer uma acusação neste processo e outras acusações nos outros (que não podem deixar de aparecer) que, levando a uma ou várias condenações, vire do avesso tudo o que agora disse nesta orgia televisiva?

segunda-feira, 14 de dezembro de 2015

Caça à asneira

Foi por um simples acaso que fui ter há poucos anos ao blogue Linguagista. Num dos meus livros usava uma palavra de uma maneira menos feliz e o seu autor fez-lhe uma referência. Não conhecendo substantivo em português para a máquina citada, optara por aquela solução, que podia realmente ter sido diferente. A chamada de atenção tinha sido correcta.
A partir daí comecei a visitar regularmente o Linguagista. Não conhecia, julgo eu, o seu autor, Hélder Guégués. É revisor de profissão mas dele também se poderá dizer, pelos seus comentários e críticas, que é caçador e de pontaria certeira e vagamente irónica. E não só de "gralhas" mas de asneiras, em livros e no fértil terreno da comunicação social portuguesa, que é uma verdadeira "reserva de caça".
Lendo-o, sei que estou a aprender a escrever melhor mas também a compreender o triste estado da língua portuguesa, que "só um mal tem, e é pelo pouco que lhe querem os seus naturais, a trazem mais remendada do que capa de pedinte". Esta frase de Francisco Rodrigues Lobo serve a Hélder Guégués de mote para o livro que agora publicou, "Em Português, Se Faz Favor", e cuja leitura é capaz de ser tão ilustrativa e também tão útil como o seu Linguagista.

quarta-feira, 9 de dezembro de 2015

Porque não gosto dos CTT (94): o feriado cansa

 
Hoje não houve distribuição de correio. E, no entanto, à quarta-feira há sempre distribuição de correio, talvez à pala da entrega de um dor jornais regionais que assino.
Mas ontem foi feriado e é de admitir que isso tenha sido cansativo, até porque já estamos na época das compras de Natal. E hoje, obviamente, foi dia de descanso.
 
*
 
No dia 11 do mês passado, a livraria "on line" The Book Depository (Reino Unido) enviou-me por correio um livro que lhes comprei. Não chegou. Pode dar-se o caso de ter servido para entreter alguém no dia de descanso de hoje. 

terça-feira, 8 de dezembro de 2015

"Sons of Anarchy": Shakespeare sobre rodas



 
 
As referências que tinha lido (eventualmente de passagem no IMDB), talvez numa das revistas de cinema que compro ou qualquer imagem que me tenha passado pela frente num dos canais da televisão por cabo não me suscitaram grande interesse por uma série com o nome pouco intrigante de "Sons of Anarchy" e passada, pareceu-me, em cima de motas, objecto rolante que pouco me dizia.
Não havia nomes conhecidos (Ron Perlman, quando muito) e o seu criador, ou "showrunner" (na linguagem televisiva) Kurt Sutter não me dizia nada.
Mas depois a série já estava inteiramente disponível em DVD e era época de defeso nos canais de cabo. Portanto... porque não?
Foram sete temporadas, 92 episódios e mais de 80 horas de televisão. E o resultado? Oito conclusões:
 
 
 
 
1 - "Sons of Anarchy" é uma das séries que melhor demonstra o que é a nova televisão dos nossos tempos: há uma história completa que liga pouco à montagem de episódios sequenciais, que segue a estrutura de uma narrativa ficcional tradicional, partindo de uma base realista (encontra-se aqui uma análise sugestiva). É, de certa forma, como um livro.
2 - Todos os elementos se conjugam na perfeição: a temática (um clube de motoqueiros que são "outlaws", com uma estrutura muito específica, empresarial e capaz de equilibrar as actividades legais com as mais do que ilegais), um argumento imparável (onde pode sempre acontecer qualquer coisa de surpreendente e... horrível), a linguagem (diálogos e imagens) claramente adulta, sem qualquer tipo de barreiras.
3 - Tem um conjunto de personagens muito fortes e muito bem estruturadas (compensando outras que são simples "verbos de encher"), numa dinâmica colectiva muito bem construída.
4 - Tem uma banda sonora que é um verdadeiro programa, quase autónomo e que muitas vezes serve de comentário (para os interessados, são quatro CDs, com o título genérico de "Songs of Anarchy").
5 - Revela o controlo praticamente absoluto do seu criador, Kurt Sutter, em todos os domínios (e até na interpretação de uma das figuras centrais da história).
6 - Tem um subtexto shakespeareano bem pensado - seguindo quase a linha narrativa de "Hamlet" (e há aqui um bom texto sobre esse aspecto, onde evidentemente avulta o Hamlet construído por Charlie Hunnam, com o seu Jax Teller), passa por "Macbeth" (e que Lady Macbeth é Katey Sagal, a "mãe" Gemma do clube) e por "Rei Lear" (Ron Perlman, o primeiro presidente do clube) e desenvolve e afirma um estilo de tragédia clássica que é concretizado de forma impecável.
7 - Além do mais, consegue abrir espaço a um tom comedidamente paródico, que é sempre fundamental numa narrativa coerente: a intervenção de Stephen King (o especialista em fazer desaparecer cadáveres), a personagem transgénero Venus Van Dam criada por Walton Goggins (de "Justified") ou a sopa feita com uma cabeça.
8 - E, finalmente, as motas: as Harley-Davidson são realmente fotogénicas...
 
 
[Vi "Sons of Anarchy - The Complete Series 1-7" numa edição em DVD da 20th Century Fox Home Entertainment, de 2015, legitimamente adquirida.]
 

domingo, 6 de dezembro de 2015

Um desastre


O hospital termal de Caldas da Rainha, o respectivo balneário e o parque e mata anexos estão, ao que parece, nas mãos da Câmara Municipal de Caldas da Rainha desde o passado dia 2, tendo sido transferidos da tutela da administração central para a tutela camarária, num período que oscila entre os 70 anos (os dois primeiros) e os 50 anos.
Esta decisão, que foi uma bandeira da desastrada gestão municipal, não foi consensual.
Houve quem, fora da esfera de poder do grupo do PSD que está na câmara, que se entusiasmasse com o significado da ideia. Houve quem se lhe opusesse. 
Poucas, no entanto, foram as vozes que indicaram o óbvio: esta gestão municipal não tem competência nem dinheiro para fazer alguma coisa do património termal.
Esta gestão municipal foi a que deixou arrastar as obras pela capital do conselho meses a fio, transformando a cidade num estaleiro, indiferente ao grau de incumprimento de prazos pelas empresas contratadas.
Esta gestão municipal é a que transforma em "jóia da coroa" um parque de estacionamento subterrâneo.
Esta gestão municipal é a que deixou degradar-se o concelho em todas as suas vertentes.
Esta gestão municipal é a que já apregoa que vai abrir o hospital termal e o balneário em 2017 (ano de eleições) com obras de 600 mil euros (e há dinheiro?...) a lançar "em breve".
Esta gestão municipal é a que, no poder há dois anos, não tem "ideias claras e propostas clarividentes" no domínio termal e turístico. E esta citação, note-se, não é de nenhuma das oposições, mas da voluntarista coluna de opinião  "A Semana do Zé Povinho", do jornal "Gazeta das Caldas", que tem sido de uma extraordinária candura para com o presidente da Câmara, com quem talvez já se tenha dado melhor.
Tudo se conjuga para que a entrega do património termal à Câmara Municipal de Caldas da Rainha, na sua fase mais sombria, se transforme num desastre.
E isso só não acontecerá se a necessidade de ganhar as eleições de 2017 (mesmo contra uma oposição objetivamente cúmplice) corresponder a uma sensação de desespero ou de medo por terem consciência de que não conseguem fazer nada de jeito.


Não gostam deles (e com razão) mas ainda vão ajudar a reelegê-los.
Porque será?

 



Idiotas "clássicos"



Júlio Dinis ("As Apreensões de uma Mãe"): "Representava um velho de nobre fisionomia, vestido com a farda da marinha portuguesa, e em cujo peito se divisava, distintivo de lealdade e valor, uma pequena fita em fivela de prata. Era o retrato do pai de Tomás (...)"
Comentário: "Este retrato é um empata relações. Já passei por isto com um cão de uma namorada. Um bóxer; são os piores para fazer olhar de reprovação."
Júlio Dinis ("As Apreensões de uma Mãe"):"Assim se passaram seis anos."
Comentário: "Ena, estávamos aqui na conversa e nem dei por isso. O problema é que não pus moedas no parquímetro."
 
Camilo Castelo Branco ("O Sr. Ministro"): "E, como era de esperar, não lhe mandou a mesada nem mais respondeu às cartas do filho."
Comentário: "O Tibúrcio vai ficar mais falido do que a Grécia."
Camilo Castelo Branco ("O Sr. Ministro"): "Na taverna do Alho, defronte do cruzeiro, ia grande algazarra."
Comentário: "E depois inventaram a televisão."
 
Eça de Queirós ("As Singularidades de uma Rapariga Loura"): "As revoluções da Grécia principiavam a atrair os espíritos romanescos (...)"
Comentário: "Que diferentes estão os tempos..."
Eça de Queirós ("As Singularidades de uma Rapariga Loura"):" - Eu! - disse Luísa, com  voz baixa, toda escarlate."
Comentário: "Finalmente algo que faça corar a pele de transparente porcelana da Luísa."
 
Os excertos acima reproduzidos são dos autores e dos seus textos devidamente identificados. Os "comentários" não foram tirados de testes de alunos do ensino básico mas pertencem, respectivamente (nos três blocos) a pessoas que estão identificadas como João Quadros, Nilton e Maria Rueff, tendo sido extraídos de edições das obras citadas publicadas pela revista "Sábado" ao longo de três semanas com o lema "Rir com os Clássicos".
Não sei quem são os autores dos comentários, à excepção de Maria Rueff, que é actriz, porque também não nos são apresentados.
Quando folheei a primeira publicação, não consegui rir-me. E o mesmo aconteceu com as duas outras.
Os comentários, semeados pelas várias páginas, não têm graça. São deprimentes. Não conseguem suscitar um sorriso, quanto mais um riso. Pode ser que tenham esse efeito mas decerto que em qualquer conversa de madrugada, quando o que se vai consumindo vai fazendo com que tudo tenha graça.
A revista "Sábado" é uma publicação estimável. Mostra algum grau de bom gosto e de sensibilidade. Há nela alguma massa crítica (como às vezes de diz) que é inteligente e culta. E por isso é que isto é tudo tão deprimente. Duplamente: não tem graça e traz a afirmação implícita de que é necessário enxertar comentários que pretendem fazer "rir" para "vender" textos considerados "clássicos".
Os textos dos três escritores são, parece-me, peças menores das respectivas obras. Mas mereciam algum respeito. E, já agora, o público da "Sábado" também. Quanto aos promotores da ideia e aos "comentadores"... Bem, o retrato do que conseguem fazer e do que se julgam está feito. E também é deprimente. 




quinta-feira, 3 de dezembro de 2015

Anda um espectro à solta... pelas escolas

Anda um espectro pela Europa — o espectro do Comunismo. Todos os poderes da velha Europa se aliaram para uma santa caçada a este espectro… 
Não, não era isto. Não era Marx e Engels que eu queria citar. É mais isto: anda um espectro à solta pelas escolas portuguesas. 
E será um pedófilo impenitente? Um predador sexual incansável? Uma vaga nunca antes vista de “bullying”? Um “serial killer” de crianças? Professores seguidores do Dr. Nogueira em êxtase pró-governativo?
Não, leitor. O espectro são os exames.
Os do 4.º ano de escolaridade, que aterrorizavam as criancinhas de 9 e 10 anos, já foram à vida. A seguir devem ir os outros. E, já agora, os TPC. E talvez também os exames na faculdade. E como já tivemos um primeiro-ministro que obteve o seu curso universitário num domingo, e por fax, também podemos ter as crianças a receberem o seu diploma universitário à nascença. Com a primeira fralda, já agora.
Catarina Martins (que o “Expresso” diz ser tratada, nesta sua animada fase política, por “Czarina Katarina” e “Catarina, a Média) não perdeu tempo a explicar porque é que o BE foi o paladino desta cruzada anti-exames no blogue do BE e no Twitter: “Sobrevivemos ao longo da nossa vida a muitas coisas más. Não as desejamos aos nossos filhos e filhas, ainda que saibamos que não os podemos proteger de tudo. Impor algo que traz sofrimento e não serve para nada é uma estúpida crueldade”, “Impor a pressão dos exames a crianças não é ensinar, promover regras ou método. É incutir medo da escola e o medo está no oposto da cidadania”, “O discurso da suposta exigência dos exames só serve para esconder o falhanço das políticas: tiram-se meios às escolas e depois chumbam-se as crianças que não se conseguirem safar” e… “não veremos as crianças de 9 anos a entrar assustadas para exames de que não precisam”. Extraordinário, não é? 
A eliminação dos exames, como garantia dos “amanhãs que cantam” em versão infantil, foi aprovada no Parlamento pelo BE, pelo PCP e… pelo PS. À mesma hora em que os ministros do PS aprovavam o seu programa de governo. Um dia depois de o novo ministro da Educação ter sido empossado. E sem se saber qual a opinião do novo ministro sobre a matéria. Aliás, sobre tudo o que se refere à política educativa para o ensino não superior visto que o ensino superior foi entregue a uma espécie de sucedâneo de um antigo ministro, que é mais mito do que outra coisa.
Entre 1995 e 2015, o PS esteve durante 14 anos no Governo. Teve 6 ministros da Educação: Eduardo Marçal Grilo, Guilherme d’Oliveira Martins, Augusto Santos Silva, Júlio Pedrosa de Jesus, Maria de Lurdes Rodrigues e Isabel Alçada. O primeiro esteve em funções durante 4 anos e os outros 5 preencheram, com admirável inconstância, os 10 anos seguintes. 
Todos mudaram alguma coisa, uns numa perspectiva mais abrangente, outros mais de curto prazo. Muitos quiseram, como acontece noutras áreas de governo, marcar o terreno com alguns pingos legislativos e nem todos com fundamento e razoabilidade. Mas todos eles, os 6, mostraram ter opinião própria, mais coerente e mais sábia nuns casos e mais tonta noutros. E todos conheciam o sector.
Do novo ministro, Tiago Brandão Rodrigues, nada se sabe neste domínio. Mas já se pôde perceber que no seu ministério é Catarina Martins quem manda no ensino básico. Por este andar, a seguir, iremos ver Mário Nogueira a mandar no ensino secundário. 
Os espectros são realmente estes.
 
 

De humilhação em humilhação



O secretário-geral do PCP gostará das piadas do chefe do Governo e do PS?

"É como se estivéssemos a deitar abaixo o resto do muro de Berlim", disse António Costa em Outubro, quando andava em negociações com o PCP.
O Muro de Berlim, convém não esquecer, separou a Alemanha de Leste (então República Democrática Alemã) e os restantes países dirigidos por partidos comunistas, da Alemanha Ocidental (República Federal Alemã). Caiu em 1989 e, com ele, o "socialismo real". Foi um trauma óbvio para os comunistas.
A piada de Costa não pareceu incomodar o PCP, que só alterou o que defendia antes da queda do Muro para incluir agora os regimes ditos "desviacionistas" da China e da Coreia do Norte.
 
"É verdade que fui eu que negociei com o PCP, mas pelos vistos foram os senhores que ficaram com a cassete", disse ontem António Costa, no Parlamento, dirigindo-se ao PSD.
A cassete era o que se dizia que o PCP punha correr quando o seu discurso nunca variava, desvalorizando assim as suas intervenções. Esta nova piada de Costa também não incomodou o PCP.
 
Qual será a próxima humilhação que o PCP vai ter de engolir?

quarta-feira, 2 de dezembro de 2015

A brincar com o fogo... e com o dinheiro

 
"Fazer investimentos de vulto só alavancados por fundos comunitários e assim mantemos um equilíbrio orçamental", acrescentou [o presidente da Câmara Municipal de Caldas da Rainha]. Destacou que, tendo em mãos a gestão do hospital termal e património do parque e mata, "será difícil dispersar investimentos para outras áreas".
 
"À exceção da Casa Museu Leopoldo de Almeida, que se promete estar concluída em 2016 (será mesmo?), na área da cultura há todo um grandioso conjunto de obras e eventos a concretizar a partir de 2017 que atingem o montante de quase 5 milhões de euros."
 
 
Estas duas passagens são retiradas da notícia "Assembleia Municipal na freguesia de Carvalhal Benfeito", publicada no "Jornal das Caldas" de hoje. As afirmações entre aspas do primeiro excerto são do presidente da Câmara Municipal de Caldas da Rainha. A afirmação entre aspas do segundo excerto é de Edgar Ximenes, membro da Assembleia Municipal.
Estas duas passagens mostram o seguinte:
 
- a Câmara Municipal de Caldas da Rainha sabe que o quadro financeiro em que vai fazer (ou tentar fazer...) a gestão do hospital termal e do património anexo é tudo menos sólido;
- o ano de 2017 vai ser de "festa" para garantir a vitória do grupo do PSD local que venceu as eleições autárquicas de 2013 nessas eleições.
 
A oposição a esse grupo do PSD (que já nem insiste na designação de "nova dinâmica") anda, em versão bipolar, a brincar com o fogo... e a ajudar a "nova dinâmica" a brincar com o dinheiro alheio. Mais vale que nem se apresentem às eleições, por este andar.

O provincianismo parolo do PS caldense

Aflige-se o PS de Caldas da Rainha com a ausência, no Parlamento, de dois políticos caldenses do PSD e do CDS que o resultado das eleições (que deram a vitória à coligação nacional PSD/CDS) não chegou para eleger.
São lágrimas de crocodilo parolas de um partido provinciano que, tendo perdido as eleições, conseguiu ambiciosamente alcandorar-se ao governo do País graças a uma aliança com a extrema-esquerda e que nem parece querer perceber que pode fazer algo parecido, de outra maneira e com plena legitimidade acrescida, no seu próprio concelho. 
 

sábado, 28 de novembro de 2015

Feira de vaidades



 
À noite, a coisa pode ter bom aspecto e garantir, depois do anoitecer, algumas horas de vigoroso prazer solitário aos políticos caldenses (com os da Câmara Municipal a poderem vê-la mesmo à frente dos seus vaidosos narizes) e algumas ilusões de grandeza aos habitantes dos prédios vizinhos mas de dia, que é quando há mais gente nas ruas da capital do concelho de Caldas da Rainha, não passa de uma estrutura metálica sisuda e desinteressante.
Porém, num raio de quinze quilómetros, nas freguesias rurais cada vez mais votadas ao abandono, o que existe são candeeiros públicos que iluminam mal, buracos nas estradas, lixo pendurado nas árvores e idosos isolados.
A Câmara Municipal de Caldas da Rainha, a "nova dinâmica" que dela se apossou (e os seus aliados que às vezes se enfeitam como oposição) bem podiam trocar esta feira de vaidades por um gesto realmente natalício dirigido aos desprezados munícipes do interior.

sexta-feira, 27 de novembro de 2015

O País não lhes interessa

Uma das coisas que torna mais incompreensível este governo do PS (assente na tríade que o partido de Soares, Sócrates e Costa constituiu com o BE e o PCP) é o seu carácter circunscrito: não há uma orientação nacional para combater a "direita".
Se o PS primasse por um mínimo de coerência estaria já a estabelecer contactos e a preparar as eleições autárquicas de 2017 com os representantes locais do BE, do PCP e todos os adversários locais do PSD, pelo menos em todos os concelhos onde o PSD (e por vezes sem o CDS) mantém maiorias  absolutas que os seus opositores nunca conseguirão vencer se continuarem fragmentados.
Mas não é o que acontece. E o que se vê é que à "esquerda" basta sustentar um político e um grupo sectário ambiciosos, interesseiros e oportunistas em Lisboa porque o resto do País já não interessa rigorosamente para nada.
 

Os aliados do terrorismo

Em Janeiro foi o ataque cirúrgico ao "Charlie Hebdo". As autoridades francesas (ah, a Liberdade, a Igualdade e a Fraternidade...) devem ter pensado que lamentarem-se era suficiente. Os atentados deste mês em Paris mostraram que não era.
O terrorismo é difícil de combater porque não tem um alvo. Tem centenas, milhares ou mesmo milhões de alvos: todos nós, todos os países, todos os locais. E os terroristas podem estar em qualquer sítio, ser qualquer pessoa. E, se não há melhor solução, uma das armas de combate ao terrorismo é essa mesma: o terror.
Há quem não goste, claro. Como é o caso do "Público" que hoje, numa afirmação quase programática, se queixa da "deriva securitária" em França, que é esta: "A polícia francesa arromba portas de norte a sul do país à procura de radicais islâmicos" (primeira página).
Politicamente, e como ensinaram os velhos mestres, este posicionamento do "Público" faz deste jornal um aliado (objectivo) do terrorismo.

terça-feira, 24 de novembro de 2015

25 de Novembro: do contragolpe de 1975 ao golpe de 2015


O PS chegou a pegar em armas (e a distribuí-las, ao que consta) no dia 25 de Novembro de 1975 para, numa lógica de contragolpe, combater o que foi visto como uma tentativa de golpe militar estimulado e participado, entre outros, pelo PCP (que cedo tirou o cavalinho da chuva, se é que verdadeiramente o tentou lá pôr) e pela UDP e pela LCI.
Quarenta anos depois, e apesar de derrotado nas eleições, o PS salta da cama em que se foi meter com o PCP, a UDP e a LCI e os seus herdeiros e herdeiras para o Governo da Nação. O PCP e a extrema-esquerda não mudaram. O PS mudou e a lógica de golpe que quis combater é aquela que põe em prática.

sexta-feira, 20 de novembro de 2015

Asilo político para rolas com alimentação incluída


Desde há algum tempo que resolvi alimentar com regularidade as aves que me passam pelo jardim, nomeadamente rolas, passarinhos diversos e melros (e, de passagem, ratos oportunistas de que não tem sido fácil livrar-me).
Este ano comecei por um prato de barro com comida apropriada para as rolas (e as outras aves não se fazem rogadas) em cima de um pote. A proximidade do chão (e a ameaça dos ratos) e a aproximação do mau tempo levou-me a procurar um abrigo apropriado.
Numa pequena empresa de Lisboa (a Natur Eco) encontrei abrigos mas os modelos disponíveis eram pequenos para as rolas. Mas não houve problema: fizeram-me prontamente um abrigo de maior dimensão.
A pequena casa começou por estar em cima do pote. As rolas aceitaram-na. Depois passou para o alto de um poste. Com alguma relutância, as rolas também começaram a ir lá e agora, embora estejam aqui mais desconfiadas do que na posição anterior, já aceitaram o abrigo. E ei-las, captadas ainda à distância para não se assustarem.
É uma visão que mais especialmente me agrada sobretudo quando, às quintas-feiras e domingos, ouço o tiroteio assassino dos caçadores que andam por aqui.












E se baixassem o IVA dos médicos veterinários em vez do IVA da restauração?

 
Cuidar de um animal de companhia doente (cão ou gato ou mesmo outros) pode ser caro. Os medicamentos e todos os procedimentos médicos são mais caros do que os seus equivalentes na medicina humana.
Os veterinários (e a minha experiência de vários diz-me que a maioria é de uma dedicação e de uma atenção que podem ser superiores aos outros médicos que nos tratam da saúde) estão sujeitos a um IVA de 23 por cento. Como acontece no regime deste imposto, cobram e têm de entregar o seu valor ao Estado.
Não há, na saúde animal, nada que alivie a despesa. Um seguro pode cobrir situações muito graves mas, como faz parte da lógica destas coisas, é mais o que as seguradoras cobram do que pagam. É, infelizmente, natural que muitos animais domésticos fiquem privados dos cuidados médicos que deviam ter.
O PS, o BE e o PCP fizeram finca-pé na diminuição do IVA da restauração, actualmente em 23 por cento, sem que dessa medida puramente demagógica se possa esperar (como os próprios já avisaram) qualquer baixa no preço das refeições. O sector da restauração é como os outros: existe numa lógica de comércio. Como acontece no regime do IVA, cobram e têm de entregar o seu valor ao Estado.
Não faz sentido baixar o IVA na restauração quando, por exemplo, há actividades de muito maior relevância social que não beneficia dessa intenção. E cujos volumes de negócios (e de IVA arrecadado, portanto) deve ser bastante menor.
É o caso dos médicos veterinários. Baixar o IVA dos médicos veterinários (e note-se que os seus colegas que tratam dos seres humanos estão isentos do IVA) seria muito mais correcto e muito mais justo e, nesse sector, estou certo de que muitos baixariam os preços das consultas e, se fosse o caso, dos seus serviços exclusivamente clínicos. E a saúde dos animais ficaria melhor defendida.
 
 
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Na Assembleia da República há um partido (o PAN) que se arvorou em defensor da "causa animal". Os três projectos legislativos com que se estreou foram, para citar um título de jornal, "benefícios fiscais para associações ambientais e zoófilas, Procriação Medicamente Assistida e adoção gay". Não se vê onde é que, nisto, a "causa animal" seja defendida.


Contar com o ovo no cu da galinha

Não são necessárias reuniões com banqueiros, elucubrações teóricas em pose de estadista, proclamações académicas ou telefonemas internacionais do técnico que já parece babar-se de expectativa perante a possibilidade de ser ministro das Finanças. 
O segredo da política económica e financeira que a componente PS da tríade PS/BE/PCP quer levar para o Governo é este: 
“Não só não reduzimos o IRC, a coligação reduz o IRC e vamos ter um aumento do conjunto de prestações e rendimentos, que permitirão aumentar o consumo – por essa via um impacto na procura e também no crescimento económico. Temos aqui este duplo efeito: um ajustamento mais moderado nos primeiros anos, e por outro lado um conjunto de medidas que tem um impacto na nossa economia diferente. Permite que a economia cresça, como permite ao Estado arrecadar mais receitas, seja por via do IRS, seja do IVA. No modelo com o qual trabalhamos, conseguimos cumprir o défice orçamental, mesmo com o aumento das despesas.”
Quem disse isto, talvez com a inocência das crianças a que São Mateus se refere, foi o fogoso deputado, e um dos “alter egos” de António Costa, Pedro Nuno Santos, em entrevista ao “Observador”. Talvez por vir no fim da entrevista, ou por ter sido no meio da confusão noticiosa decorrente dos atentados terroristas em Paris, ninguém parece ter reparado.
O raciocínio, teoricamente, é bondoso. Mas apenas em teoria. Porque a prática pode ser outra coisa.
Recordemo-nos de que em 2009 o governo de Sócrates e Teixeira dos Santos aumentou os salários da função pública e baixou o IVA. E que em 2010 anunciou as primeiras medidas de austeridade (sim, foi o PS que a inaugurou, também desta vez), travando o consumo. E que em 2011 pediu a intervenção externa porque já não havia dinheiro. E o consumo caiu mesmo.
O que acontecerá, perante a recordação dos últimos anos de austeridade e perante a incerteza em que já vivemos e voltámos a viver? Os que vão voltar a receber mais (por via dos aumentos na função pública e da TSU e dos escalões do IRS) vão começar logo a gastar? Ou vão esperar para ver? E se o consumo baixar, entre o Natal deste ano e o período de férias de 2016, onde é que estão as receitas fiscais que permitirão a um governo despesista como o do PS/BE/PCP fazer flores? 
Àquilo que o PS está a querer fazer nesta sua aventura chama o nosso povo (para citar Jerónimo de Sousa) “contar com o ovo no cu da galinha”. 
 

quarta-feira, 18 de novembro de 2015

"Winter is coming"





O medo que o Syriza não teve

Não há jogos de palavras que iludam o facto fundamental: o eleitorado, em 4 de Outubro, escolheu para governar a coligação PSD/CDS e não a mistura PS/BE/PCP. Podia tê-lo feito, se a mistura tivesse sido coligação. Podia, até, ter dado a maioria absoluta ao MRPP. 
Daqui decorre um outro facto que também não pode ser iludido: a legitimidade do PS, do BE e do PCP para governarem (dentro, fora ou encostados ao poder) é constitucionalmente límpida. Politicamente não o é. O golpe de Estado, a reviravolta imposta, neste caso, não é constitucional mas político. Embora possa ter efeitos na esfera constitucional.
A ilegitimidade de uma opção política, de regime, que não corresponde à vontade do eleitorado, só se resolve de uma maneira: novas eleições legislativas, para o eleitorado poder confirmar a opção pela coligação PSD/CDS ou por uma eventual coligação PS/BE/PCP.
A realização de novo acto eleitoral exige uma alteração da Constituição e foi isso que Pedro Passos Coelho propôs, para permitir esse tira-teimas. Mostrando que o PSD e o CDS não têm medo de enfrentar novas eleições.
O PS, o BE e o PCP recusaram a proposta. Mostraram, desse modo, que não querem sequer legitimar politicamente a sua união. Ou seja: tiveram, e têm medo, de que o eleitorado rejeitasse a sua aventura.
Na Grécia, depois de ter engolido o orgulho e uma nova fase de austeridade, o Syriza (o bem amado Syriza do PS e do BE) não teve medo de fazer novas eleições que, apesar dessa capitulação, lhe deram nova maioria.
É significativo que António Costa e o PS não tenham a coragem que Alex Tsipras e o Syriza mostraram ter. A isto chama-se cobardia.

terça-feira, 17 de novembro de 2015

O PS não gosta das opiniões alheias

 
O meu comentário, posto no blogue dos Vereadores do Partido Socialista de Caldas da Rainha 2013/2017 a propósito disto, não foi publicado.
Também parecem fazer o que criticam ao PSD local. 

domingo, 15 de novembro de 2015

La même chose

 
Em 7 de Janeiro deste ano, quando foi lançado o ataque terrorista ao jornal francês "Charlie Hebdo", o presidente da República francesa era François Hollande.
Agora, dez meses depois, quando foram lançados novos ataques terrorista e numa escala nunca antes vista em Paris, o presidente da República francesa continua a ser François Hollande.
O terrorismo só pode ser combatido eficazmente quando as lideranças políticas (e militares) forem fortes, determinadas e corajosas. O resto é conversa. Com mortos e feridos.

Lixo




O espectáculo, que há de ter sido decerto muito interessante, foi há dois meses e meio mas os respectivos cartazes de plástico continuam pendurados, uns inteiros e outros rasgados, nas árvores e nos postes à beira da estrada.
Quem os pôs não os tira. As autoridades municipais (e de uma junta de freguesia que se mudou para a capital do concelho, que é o que está a dar...) fazem vista grossa.
Mas os seus representantes devem ter passado por aqui quando, há duas ou três semanas, vieram de autocarro à noite fazer uma reunião da Assembleia Municipal em formato de "show", mas ou não repararam ou já estão habituadas à porcaria. Que, note-se, não é só a dos nojentos contentores verdes que a Câmara Municipal de Caldas da Rainha adora espalhar pelo concelho.
 
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É assim que se promove o vinho num restaurante

 
Uma carta de vinhos com todas as regiões vinícolas do continente representadas (de Trás-os-Montes ao Algarve) com notas gerais sobre cada uma delas e as castas e anos de colheita de cada vinho, com um vasto leque de digestivos (incluindo uma boa representação de aguardentes bagaceiras), espumantes e champanhes); um armário com praticamente todas as garrafas bem à vista e um outro armário com os digestivos e copos adequados. E a carta está disponível na internet, no site do restaurante, aqui.
É assim que se promove o vinho num restaurante, a fazer lembrar (numa versão adaptada aos novos tempos) a mítica carta de vinhos do lisboeta Isaura. 
E o restaurante é o Naco na Pedra, em Salir do Porto (Caldas da Rainha), um dos meus restaurantes preferidos deste concelho, que tenho elogiado pelas suas muitas qualidades, pela simpatia e profissionalismo do serviço e pela capacidade de resistência que os seus responsáveis têm demonstrado.
O esforço feito na composição da carta é de assinalar.
Fugindo ao facilitismo (muito Alentejo, algum Douro, vinhos industriais do Dão), preenche todas as regiões, sobretudo nos tintos mas também nos brancos: Trás-os-Montes (com 9 tintos), Douro (22), Dão (17), Bairrada (8), Beira (3), Tejo (9), Colares (6), lisboa (9), Alentejo (20), Setúbal (11) e Algarve (4). A região dos vinhos verdes talvez seja, comparativamente, a menos representada e, para os apreciadores, até tem uma lista de rosés. E o "vinho da casa", de Figueira de Castelo Rodrigo, pode ser vendido tanto à garrafa como em jarro de meio litro.
No caso do Dão (que conheço muito bem), se há vinhos para descobrir, há também uma presença que é de festejar: os tintos e o branco da Quinta da Fata (Vilar Seco, Nelas, para mim talvez o melhor produtor de vinhos do Dão) estão na lista e quem quiser pode ir confirmar a minha opinião. Só tem a ganhar com isso, se gosta de vinho.



sexta-feira, 13 de novembro de 2015

As portas do Paraíso

Não sei o que é mais chocante nisto tudo: se a expressão de alegria de “chico-esperto” do secretário-geral do PS (vai ser primeiro-ministro, que bom) ou a crença do “povo de esquerda” de que se abriram as portas do Paraíso e o tom vingativo e raivoso com que vitupera a “direita”.
E, em parte, compreende-se. Os apoiantes, eleitores, simpatizantes e até clientes do PS, do BE e do PCP viveram durante quatro anos na ilusão de que o Governo PSD/CDS cairia. Com manifestações, greves gerais, cantigas, insultos e até mesmo com moções na Assembleia da República e de certeza que nas eleições legislativas deste ano. E depois... o Governo não cau. Pior do que isso, o PSD e o CDS não só ganharam as eleições como ficaram à beira da maioria absoluta. Que azar.
Durante estes quatro anos, o PS (como se não lhe coubesse a responsabilidade da bancarrota de 2011), o BE e o PCP estimularam a contestação e foram garantindo sempre que haveria dinheiro para tudo, ou pelo menos para os sectores onde esperam pescar mais votos. Reformar o Estado? Não. Manter o Estado de quem sempre esperaram (e receberam) tudo é que sim. Porque, como sempre, este Estado é o que dá mais empregos ao PS e mais dinheiro à aristocracia operária do BE, do PCP e da CGTP.
Este encontro da fome com a vontade de comer, tendo como pano de fundo a promessa dos “amanhãs que cantam”, deu nisto: uma estranha mistura de acordos assinados à escondida e só com fotografia oficial entre o PS, o BE e o PCP (esqueça-se o PEV, que é ridículo demais mencionar o apêndice), o derrube do governo da coligação que ganhou as eleições numa atmosfera de vingança e... milhões de euros a voarem para os bolsos dos vingadores.
O Paraíso que o PS, o BE e o PCP prometem ao “povo de esquerda” é só isto: mais dinheiro. O curioso é que o prometem com o “já” do costume: 2016. Só.
Mas os tais acordos têm mais buracos do que um queijo Emmental. Não dizem nada quanto aos quatro anos que deveria durar esta legislatura. Ou seja: o Paraíso fica-se apenas pelas portas.
O Estado, no entanto, não tem dinheiro para manter este clima de festa durante muito tempo. A economia não cresce a esse ponto. O desemprego também não diminui por magia. A instabilidade pode fazer aumentar os juros do dinheiro que o País terá de continuar a pedir emprestado. A alternativa é o regresso dos aumentos de impostos. Ou, para as mentes mais assanhadas, eventuais operações de confisco domiciliário dos bens dos “ricos”.
Até pode ser que a perspectiva radiosa e estatizante do PS, do BE e do PCP seja uma solução de futuro e que Portugal consiga enriquecer a ponto de poder sustentar o seu Estado. Mas alguém acredita que isso é mesmo possível? Ou não esconderão as portas entreabertas do Paraíso um novo inferno a breve prazo?
Há quem diga que seria bom que este governo do PS (do “PS sozinho”, como um jornal do PCP dizia em tempos de outra aventura do PS) caísse rapidamente. Não me parece. Até porque em 2016 ainda haverá dinheiro. E muitas ilusões.
 
 

Esperteza saloia


A "Gazeta das Caldas" embandeirou em arco esta semana com a aliança poliamorosa PS/BE/PCP e decidiu, na sua coluna de amores e ódios, arrancar um grande elogio à tríade Costa/Martins/Sousa e derramar a sua felicidade por o governo da aliança vencedora das eleições de 4 de Outubro ter sido derrubado na Assembleia da República.
E se um dia lhe estalasse a castanha na boca e o PS de Caldas da Rainha mostrasse que os tem no sítio e fizesse o mesmo com a restante oposição para derrubar o PSD caldense que domina a Câmara Municipal e o seu presidente, de quem a "Gazeta" tanto gosta?


E se acontecesse o mesmo ao presidente da câmara amigo, o que diriam?


PREC II: vingança e dinheiro

O IVA da restauração vai descer, de 23 por cento para 13 por cento. É uma das bandeiras da “santa aliança” PS/BE/PCP e, em todo o seu esplendoroso e monstruoso erro, o que melhor caracteriza este segundo PREC: o País interessa pouco, o que conta é o poder e, com ele, a vingança manhosa sobre os que não conseguiram vencer, nem em quatro anos de legislatura nem nas eleições legislativas de há um mês.
O IVA é um imposto que, para o consumidor está metido no produto ou serviço que adquire. Mas para o fornecedor desse produto ou serviço, o IVA que “ganha” no que vende tem de ser entregue ao Estado. Na sua cabeça e na sua contabilidade, o IVA tem de estar separado do custo do que vende. Do IVA que o cliente lhe dá, o fornecedor pode, ou não, deduzir outro IVA que ele próprio pagou. Mas o destino do IVA é o Estado.
A restauração (restaurantes, cafés, etc.) não é uma excepção a esta regra contabilística e fiscal. Quando o IVA subiu, há dois anos, os empresários do sector, por sinal pouco controlados no domínio fiscal, protestaram. Aumentaram preços, anunciaram encerramentos de empresas e despedimentos aos milhares. Não se deu por nada. Mas a “esquerda” pegou nessa bandeira porque era mais um factor de descontentamento. E agora oferece aos empresários do sector (não aos clientes) uma “borla” de 10 por cento.
Se o eixo PS/BE/PCP olhasse realmente para os interesses do País faria outra coisa: acabaria com o Pagamento Especial por Conta (PEC) para as micro e pequenas empresas. O PEC (que obviamente abrange restauração) é uma entrega mínima de 1000€ que todas as empresas têm de fazer ao Estado e que poderão, se tiverem êxito nos negócios, recuperar em sede de IRC no ano seguinte. Para uma micro-empresa, os 1000€ que tem de adiantar como imposto por conta pode criar sérias dificuldades de tesouraria. O IVA não, porque o IVA que tem de ser entregue ao Estado, repete-se, é o IVA que os clientes pagam.
A lógica da aliança PS/BE/PCP foi esta: satisfazer sectores, além do puro gesto de vingança que consiste em afastar do poder quem ganhou as eleições porque, durante quatro anos, não o conseguiram fazer nem na rua nem na Assembleia da República. 
E a satisfação dos sectores consegue-se com dinheiro. As dezenas de medidas desta tríade baseiam-se na distribuição de dinheiro, da função pública aos grevistas das empresas de transportes públicos de Lisboa e Porto. Leiam-se as 51 medidas, ou 70, segundo também se disse, e o que delas escorre é despesa. Despesa, despesa, despesa. E sobretudo do Estado. 
E onde é que estão as receitas para suportar as despesas? Não se sabe. Mais impostos? É o costume. Mas cobrados a quem? Aos que se terão apressado a pôr o seu dinheiro no estrangeiro? Ou aos outros, a nós todos? No entanto, como dizem que não querem lançar mais impostos, vão fazer o quê? Vão às casas das pessoas confiscar o dinheiro ou os bens que elas tenham?
Não deixa de ser uma estranha ironia que este novo PREC de Novembro de 2015 comece quarenta anos depois do golpe político-militar conservador que, de 24 para 25 de Novembro de 1975, afastou a esquerda e a extrema-esquerda do poder, entregando-o ao PS.
E não será uma ironia menor se, quando o dinheiro acabar, o PREC II não venha a ter como epílogo um novo pedido de assistência económica ao estrangeiro (que, convém recordar, tem sido uma imagem de marca da governação do PS).
Até lá, talvez seja melhor ir pondo em bom recato o dinheiro que aí vem...