domingo, 24 de agosto de 2014

A “dinâmica” da estagnação: como o PSD está a dar cabo de Caldas da Rainha (6)

O PSD ganhou as eleições autárquicas de Setembro do ano passado em Caldas da Rainha apregoando uma “nova dinâmica”. A dinâmica da dupla Tinta Ferreira/Hugo Oliveira está cada vez mais à vista por todo o lado: uma incompetência realmente dinâmica, porque nunca cessa, e o mergulho também imparável numa estagnação que ameaça tornar este concelho uma verdadeira irrelevância.
 
 
Pode haver eleições verdadeiramente livres quando um dos contendores domina grande parte do eleitorado pela via económica e pela influência que exerce na sua opinião? As eleições podem ser livres na medida em que o acesso às urnas de voto não é limitado. Mas o voto expresso pode não ser livre. Ou decidido em consciência. 
Por outro lado, se ninguém controla o preenchimento do boletim de voto, uma coisa é certa: na mente de muitos eleitores estará o receio de que um voto num partido, ou movimento, que não é o que domina a Câmara Municipal, se possa repercutir na sua própria situação económica. Porque a Câmara é o seu patrão ou sustenta o seu patrão.


O controlo quase absoluto
garante uma satisfação razoavelmente absoluta

 
Os resultados das eleições do ano passado em Caldas da Rainha ainda podem decorrer de uma imagem mais favorável, em termos de resolução de problemas, do anterior presidente da Câmara, Fernando Costa. Mas já será estranho que a preponderância do PSD se mantenha (apesar dos dois mil votos perdidos) nas eleições de 2017. Embora haja factores que o favoreçam.
Caldas da Rainha não é um concelho de grandes empresas, de centenas de postos de trabalho. O tecido empresarial local não é muito diferente do tecido empresarial nacional, onde as micro, pequenas e médias empresas constituem a maioria.
E essas empresas dependem, em muito, das estruturas municipais, da câmara e das juntas de freguesia. As contratações de serviços e a compra de bens e produtos sustentam essas empresas.
Mas a influência económica do poder camarário não se faz sentir só deste modo. A Câmara Municipal de Caldas da Rainha, contando os seus próprios funcionários e os postos de trabalho externos que sustenta, deve ser a maior entidade empregadora do concelho.
Os dados que constam do portal Base (relativos aos contratos por concurso público e por ajuste directo e que podem ser consultados aqui ao pormenor) dão uma ideia da actividade municipal neste domínio. É inevitável, sobretudo quando se repetem os adjudicatários, que a tendência dominante seja: "eu quero que estes ganhem porque voltarão a contratar-me".
Mas a influência da câmara não se faz apenas pela via económica. Ela faz-se também por via de uma comunicação social que lhe é abertamente favorável (o semanário "Gazeta das Caldas") ou cautelosa (o semanário "Jornal das Caldas") e até pelas relações de poder pessoais que se tornam fundamentais num meio pequeno.
A "Gazeta das Caldas" é o exemplo extremado do que a imprensa nunca deveria fazer. E é uma versão tardia de como era a imprensa (o "Diário de Notícias", por exemplo, antes do 25 de Abril.
Os erros desastrosos (em matéria de obras), as más opções políticas e a inépcia e a incompetência da actual gestão camarária não merecem a censura deste jornal, que tanto gosta de criticar. Nem tão pouco existem.
E, sem qualquer subtileza, o seu director aceitou o encargo de fazer o tal estudo sobre as termas de Caldas da Rainha em 2035. Não sendo jornalista, e talvez não compreendendo os princípios básicos da deontologia do sector, o economista que dirige a "Gazeta das Caldas" leva periodicamente aos seus leitores uma imagem de glorificação coreana do presidente da câmara, influenciando assim a opinião pública e o eleitorado.
 

O presidente da Câmara Municipal e o director da "Gazeta das Caldas", que nunca critica o presidente

Finalmente, um terceiro canal de influência do PSD de Caldas da Rainha na teia de influências que condiciona o eleitorado é o dos relacionamentos pessoais: o mesmo "prato de Petri" formativo (a experiência da Universidade Autónoma de Lisboa com os seus cursos à distância), a convivência nos meios mais selectos e discretos (religiosos e não confessionais), os conhecimentos mútuos num concelho pequeno, as trocas de favores que tudo isto permite, as amizades de cariz diverso que travam as críticas e que geram censuras aos que vêm de fora e ousam criticar.
Em certa medida, e a este nível, a permanência do PSD no poder é bem recebida pela elite caldense, que já sabe com o que conta e a que portas bater. E, por isso, ajuda à sua perpetuação.
Fechada na capital do concelho, presa do seu próprio provincianismo, a elite caldense (que se julga o umbigo do mundo conhecido) deixa-se enlear nessa teia de cumplicidades. Sem perceber que, com a degradação manifesta do concelho, está a cavar a sua própria sepultura.
 
 
Amanhã: O abandono do interior

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