sexta-feira, 11 de julho de 2014

A deriva dos independentes e o Estado de Direito

Um dinamizador/porta-voz/representante do movimento de independentes, que no concelho onde resido até obteve um bom resultado nas eleições autárquicas de há dez meses, defendeu que os dirigentes do Grupo Espírito Santo deviam ser presos. E porquê? "Porque sim", mais ou menos, sem serem constituídos arguidos, sem suspeitas conferidas por um órgão de investigação criminal e validadas por um magistrado, sem acusação (ou acusações), sem julgamento, sem invocação de crimes e respectivas molduras penais.
Esta reivindicação foi feita no Facebook (que, estando muitas vezes ao nível da retrete doméstica, é um meio de comunicação) e logo granjeou alegremente apoios.
Há uma corrente, parece-me, que defende como panaceia universal para os males da sociedade a prisão. Em regime de "porque sim" e de "sei lá porquê", ignorando a lei que, por acaso, convém que conheçam. E o mal é que a defesa do "porque sim" é transversal, abrangendo quem tem formação universitária e todos os outros.
Mas se uma coisa é a defesa de meios judiciários assim expeditos por quem não tem responsabilidades políticas à excepção da de ser eleitor, mais grave é quando quem as tem defenda esses meios que (convém recordar) são mais característicos da URSS de Estaline, da Alemanha de Hitler, da China de Mao Tsé-Tung e dos seus seguidores, da Roménia de Ceausescu e do Estado Novo português.
E se é alguém que faz parte de um movimento de independentes, que o representa e que intervém publicamente enquanto tal, tem essas posições... bem, o caso torna-se preocupante.
Porque os partidos tradicionais já nós os conhecemos mas esses movimentos políticos inorgânicos, que às vezes se distraem dos contratos que firmaram com os eleitores para irem atrás de messias políticos, não os conhecemos, nem sabemos o que querem para lá das eleições a que concorrerem.
Os independentes (salvo se estão a ser sinceros nestes delírios que não respeitam o Estado de Direito) deviam ter um pouco mais de cautela naquilo que dizem. E, já agora, fazerem o favor de se dedicarem àquilo para que receberam o mandato dos eleitores. 

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