quinta-feira, 13 de março de 2014

A imprensa como fábrica de factos

Dois consultores (função diferente da de assessor) do Presidente da República assinaram um documento com grande visibilidade que diverge do ponto de vista, também de grande visibilidade, defendido pela personalidade pública que tinham o dever de aconselhar.
É provável que os dois consultores se tenham apercebido da incompatibilidade e/ou que o Presidente da República lhes tivesse feito ver que havia essa incompatibilidade, natural independentemente do sentido do documento e da posição pública do Presidente.
Os dois consultores foram exonerados (o verbo da administração pública para as demissões diplomáticas), com a indicação de que o foram "a seu pedido", o que (repete-se) terá provavelmente acontecido, tendo tido os dois experiência governativa.
Na generalidade da imprensa e nas "redes sociais", a coisa transforma-se numa punição: como tiveram uma opinião diferente de Cavaco Silva (que, nestas circunstâncias, passa sempre de Presidente da República a "o Cavaco"), ele correu com os heróis que ousaram discordar.
E, finalmente, o "Diário de Notícias" resume o ponto de vista da imprensa da oposição no seu inquérito aos leitores: "O Presidente Cavaco Silva fez bem em afastar os consultores que assinaram o manifesto pela reestruturação da dívida?"
Mais claro do que isto seria difícil.

1 comentário:

José Rafael Nascimento disse...

Conheci um dia um presidente de câmara francês que me confidenciou que, quando um colaborador começava a concordar demasiado consigo, tratava logo de o afastar, pois "um deles estaria a mais...".