domingo, 4 de agosto de 2013

Em louvor dos blogues literários


Em tempos que já lá vão (antes do 25 de Abril, por sinal), a crítica literária em Portugal era uma coisa pujante.
Praticavam-na jornalistas, estudiosos e teóricos e práticos da literatura (de Álvaro Salema a João Gaspar Simões) e muitos outros cronistas e numa perspectiva muito saudável: quase todos transmitiam as suas opiniões e faziam-no sobre a matéria de facto - sobre os livros, que realmente liam. E até será interessante recordar que houve um momento em que todos os jornais de expansão nacional (os matutinos "Diário de Notícias" e "O Seculo" e os vespertinos "A Capital", "Diário de Lisboa", "Diário Popular" e "República" tinham todos suplementos dedicados à literatura e ao cinema.
A crítica literária (tal como a crítica de cinema, já agora) desapareceu. Pelo menos se a considerarmos numa perspectiva abrangente, sem preconceitos nem amiguismos e ódios de estimação, indo além das sinopses e da cópia dos "press releases" e da espuma das modas.
O panorama, sobretudo para quem conheceu e conhece outras realidades, é deprimente. Só que se nota pouco porque, na prática, não está "on line".
Este deserto torna mais relevante o papel dos blogues literários, que acabam por substituir a crítica literária.
Animados por pessoas que gostam de ler e que na realidade lêem os livros (na sua maior parte, seguindo os próprios gostos, o que é mais do que legítimo), estes blogues têm florescido nos últimos anos de múltiplas formas e, além de serem um exercício legítimo de opinião, acabam por cumprir duas funções inestimáveis: não só divulgam livros e conquistam novos leitores como guardam a memória do que vai sendo publicado.
Aparentemente, esboçou-se há pouco tempo uma polémica sobre o que os autores e autoras destes blogues "deviam" fazer: pensar só nos autores portugueses e insistir nos "e-books". É uma perspectiva tonta.
É um erro pensar em impor limitações aos blogues.
Que floresçam, vivam à vontade, publiquem as opiniões que quiserem, seleccionem o que muito bem lhes aprouver. A democracia é assim, a cultura sai valorizada e a nossa civilização reforçada.

6 comentários:

Liliana Novais disse...

Concordo perfeitamente com que diz.

Morrighan disse...

Olá Pedro,

Gostei muito do seu post e concordo com tudo o que disse. Lamento apenas que a mentalidade aqui expressa não seja tão comum, como seria de se esperar, nos dias de hoje. Penso que, muitas vezes, nem as próprias editoras encaram os blogues sob essa perspectiva. Por vezes nem é tanto a crítica literária que interessa, mas mais a divulgação em massa dos livros.
Ainda assim, acredito na importância dos blogues literários, seja qual for o género ou abordagem utilizada pelos mesmos.

Só posso agradecer em meu nome, enquanto blogger, e com certeza todos os bloggers que lerem este artigo sentirão a mesma gratidão.

Um abraço e tudo de bom.

macy disse...

Totalmente de acordo!!!
Teresa Carvalho

Paulo Pires disse...

Obrigado Pedro,

em tão poucas palavras disse tanto... O meu muito obrigado.

Paulo Pires (blogger)

Revista 21 disse...

Excelente artigo. Concordo com tudo o que escreveu!

linda david disse...

Concordo em absoluto,boa a escolha da citação de Sam Peckinpah.