domingo, 19 de maio de 2013

Donos pequenos, cães grandes

Conheço um casal da chamada "terceira idade" que tem um cão grande. Ou, melhor, conheço um cão grande que "tem" um casal da "terceira idade". O casal já teve vários exemplares da mesma raça (rafeiro alentejano) mas era mais novo.
Agora, o cão obedece quando quer e parece ter condições físicas para levar o dono a voar atrás dele se puxar pela trela.
Em termos práticos são pessoas de tamanho M que têm um cão ainda jovem de tamanho XL que, ao crescer, se transformará num cão XXL. Serão compatíveis? Se se deixarem dominar pelo cão, talvez possam viver todos em paz.
Um amigo meu, alto e forte, quis ter um serra-da-Estrela. Dominava-o, levava-o à noite para casa, mostrava-se satisfeito com o cão e com as suas dimensões. "Era mesmo um cão", dizia. Quando adoeceu gravemente, deixou de poder tratar do cão. O resultado foi trágico.
Tenho espaço em casa e fora dela para ter um cão XL ou mesmo XXL.
E sei que, grandes ou pequenos, o treino de obediência e a aplicação de alguns princípios básicos fazem maravilhas no relacionamento com os cães. Mas não tenho um sofá onde possam instalar-se uma ou duas pessoas e um cão grande. Não tenho carro para transportar adequadamente um cão grande. E também não preciso de um cão grande para me sentir seguro. 
Além disso, quero poder ter a certeza de que serei capaz, numa negociação mais difícil com o meu cão que implique a sua deslocação de um ponto para outro, de pegar nele e deslocá-lo eu. (Esta é mais uma das vantagens dos maravilhosos "cockers".)
Por isso, tendo sido considerada a certa altura a inclusão de um cão XL na família, não foi essa a decisão tomada.
Julgo que o problema da dimensão é um dos muitos que envenenam o relacionamento dos cães com os seres humanos que querem ter um cão, e que depois não sabem o que lhe hão-de fazer.
Em pequenos são todos uma maravilha, parecem bonecos, talvez evoluam para bonecos de peluche quentes e relativamente autónomos. Mas depois os cães perdem a piada e as pessoas perdem toda e qualquer noção de responsabilidade que ainda pudessem ter e os resultados são muitas vezes trágicos... para os cães.
A proliferação de raças já descaracterizadas, devido aos cruzamentos descontrolados e à consanguinidade (como, segundo me dizem, já começa a ser o caso dos "labradores"), a adopção de cães muito jovens de genes misturados que não se conhecem para viverem em casas citadinas exíguas e a proliferação de cães bebés transformados em objectos de consumo nas "pet shops" dos centros comerciais são outros elementos que contribuem para este problema.
E no centro de tudo estão, claro, as pessoas que, por muito bondosas que até possam ser, não fazem a mais pequena ideia das responsabilidades de serem - mais do que donas - tutoras e às vezes "pais" ou "mães" de cães com vontade própria.
O descontrolo dos donos M perante os cães XL que um dia se lembraram de arranjar, os cães "fugidos" ou "desaparecidos" de pessoas que afinal pouca atenção dão aos seus animais de estimação que na realidade pouco estimam e os abandonos premeditados, criminosos e cruéis são tudo peças de um mesmo "puzzle" que muito boa gente se revela incapaz de completar.

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