domingo, 27 de maio de 2012

A "esquerda" do porco preto não fala com a boca cheia, é isso?

A Assembleia da República tem um "refeitório" que funciona como restaurante de gama alta a preços que devem ficar abaixo do custo para uso quase exclusivo dos deputados que, como se sabe, ganham mal.
O recente concurso para o dito "refeitório", cujos pormenores se podem ler aqui (no blogue Má Despesa Pública) revela as exigências dos ilustres clientes parlamentares: porco preto de bolota, perdiz e camarões de 24 unidades por quilo.
Estes pormenores, num país em crise e onde a despesa do Estado não desce como devia, não horrorizam a "esquerda" parlamentar. Não há berrarias, não há greves gerais, não há "pacto de agressão" (que talvez esteja a suportar a ementa parlamentar), não há Arménios Carlos aos gritos nem outros protestos. Talvez por estarem de boca cheia.
A "esquerda" do porco preto que aceita estes pequenos luxos da "democracia burguesa" já nada tem a ver com a realidade do país.

sábado, 26 de maio de 2012

Blogue Má Despesa Pública: o desperdício quotidiano visto à lupa

O desperdício e o esbanjamento estão por todo o lado, na velha lógica do aproveitamento de um Estado ineficaz em que se deita a mão a tudo e enquanto se pode, em despesas no mínimo absurdas que vão das dezenas de milhares de euros às mais largas centenas de milhares de euros, inaceitáveis em qualquer situação e agora ainda mais intoleráveis mas praticadas por todos, sem distinção de credo partidário.
O registo está a ser feito no bloque Má Despesa Pública (aqui) em apontamentos bem esclarecedores e de um ponto de vista muito bem fundamentado, como fica patente na resposta do(s) autor(es) a uma interpelação das Estradas de Portugal.
É uma leitura imprescindível mas chocante e que, por exemplo, retira razão, se é que alguma vez a tiveram, aos dirigentes dos órgãos autárquicos que na prática os transformaram em coisa sua, deles tirando assinaláveis benefícios pessoais ou de grupo.

sexta-feira, 25 de maio de 2012

"Treme": o triunfo de David Simon

Nova Orleães depois do furacão "Katrina" e a sua música como tema de uma série de televisão? Digamos que é coisa que sugere um documentário, ou uma série documental, de âmbito cultural e etnográfico. Talvez à distância, "Treme" não pareça ser mais do que isso. Mas é. É muito mais e é uma das mais extraordinárias séries televisivas que vi (de uma colecção delas onde se incluem "Boarwalk Empire", "The Killing/Forbrydelsen" e "Game of Thrones").
"Treme" (leia-se "tremê") já teve duas temporadas, de dez e onze episódios (a segunda temporada está a sair agora em DVD) e já há uma terceira a sair.
É produzida pela HBO, que é sem a menor dúvida a mais importante produtora de séries televisivas dos últimos dez anos. É da autoria de David Simon, o principal criador de "The Wire", com a colaboração de Eric Overmyer. E, como já aconteceu com "The Wire", não teve direito a prémios de renome. Mais uma vez, é mau para a reputação de quem decide esses prémios.
Passada em Nova Orleães meses depois do "Katrina", "Treme" é uma espantosa história de resistência e de sobrevivência, de pessoas e de tradições, de música e de cultura. Tem um conjunto de personagens inesquecíveis a que dão corpo John Goodman (admirável, "Fuck you, you fucking fucks!"), Steve Zahn, Clarke Peters, Wendell Pierce mas também Kim Dickens e Khandi Alexander. É filmada num tom surpreendentemente contido, o que dá mais força às várias histórias pessoais dos que lutam por sobreviver... ou que simplesmente desistem. E tem uma banda sonora que se integra harmoniosamente na narrativa, interpretada e cantada por um numeroso grupo de artistas da própria Nova Orleães.

John Goodman
Wendell Pierce, David Simon
e Clarke Peters

A primeira temporada de "Treme", e acredito que a série na sua totalidade, confirma também David Simon como um dos criadores de televisão mais importantes dos nossos dias. "The Wire" já o revelara mas os puristas que torcem o nariz ao "policial" podiam pensar, talvez com alguma esperança, que ele não conseguiria ir mais longe. Mas foi.
"Treme" é um triunfo pessoal de David Simon.

quarta-feira, 23 de maio de 2012

"House": um fim sem glória

Já se sabe como termina "House", cujo último episódio ("Everybody Dies") foi emitido na passada segunda-feira nos EUA e que deverá passar na Fox, em Portugal, na próxima segunda-feira.
É um fim frouxo, que recorre a um dos artifícios mais banais da ficção e que, embora agitado como homenagem a Sherlock Holmes pelo produtor David Shore, disfarça mal a incapaciade de encontrar um clímax adequado.
Gregory House merecia bem melhor.
Quando não se sabe como acabar, o melhor é fazer como os criadores de "ER - Serviço de Urgência", que transformaram o último episódio desta série num momento de reencontro e de apaziguamento, num tom inesperadamente suave.
Hugh Laurie também parece estar admirado
 por não terem arranjado melhor (foto Fox)

A esquerda já não mora aqui

É estranho que a "esquerda" ande a berrar pelo perdão do pagamento das taxas moderadoras às mulheres que muito objectivamente utilizam o aborto como meio contraceptivo quando há tantas pessoas de fracos recursos afectadas da pior maneira pelo aumento do preço das taxas moderadoras e das restrições financeiras desse mito que é o Serviço Nacional de Saúde.

terça-feira, 22 de maio de 2012

Sem saudades nenhumas de Lisboa

Saí de Lisboa definitivamente há quatro anos e cada vez que lá vou (em geral, de carro) arrepio-me com os crónicos bloqueios do trânsito, com a impossibilidade de circular à beira-rio entre Alcântara e a Praça do Comércio, com o estacionamento em segunda fila, com o lixo, com os passeios hostis feitos da negregada "calçada à portuguesa" e com tantas outras confusões e porcarias que fazem da deprimente capital do país uma cidade infernal.
A decisão de estrangular a Avenida da Liberdade (onde já trabalhei entre 1986 e 1995) e de criar novas dificuldades ao trânsito nessa zona, em nome da ecologia e sem oferecer qualquer alternativa para a travessia da cidade, serve para uma minoria que se alimenta das várias modas do momento, para os turistas (que ficariam melhor servidos se fossem conhecer o resto do país em vez da sua capital terceiro-mundista) e para os políticos gastarem dinheiro em obras de fachada mas não para quem lá mora, trabalha ou precisa, por motivos bem objectivos, de lá ir.
Ainda hei-de ver o actual presidente da Câmara de Lisboa transformado no presidente da Câmara de Lisboa que "inventei" para o meu romance "A Cidade do Medo". Designação cada vez mais adequada a Lisboa, por sinal...


domingo, 20 de maio de 2012

Homicídios e poemas em Cascais

A literatura "policial" não é incompatível com a poesia, como ficou demonstrado anteontem, sexta-feira, na Biblioteca Municipal de Cascais, em São Domingos de Rana, na 75.ª sessão das "Noites com Poemas" que o poeta Jorge Castro organiza neste espaço.

Jorge Castro, Palmira Gaspar (em representação da Comunidade de Leitores das Caldas da Rainha, que apoiou esta sessão) e o autor, da esquerda para a direita

Falou-se do "thriller" (a propósito de "A Cidade do Medo" e de "Vermelho da Cor do Sangue", números 1 e 2 da minha série Não Matarás) e debateu-se esta género literário e depois os participantes habituais desta iniciativa disseram e leram poemas da sua autoria e de outros autores. Os pormenores estão no blogue Sete Mares, de Jorge Castro, de onde são retiradas, com a devida vénia, as fotografias de Lourdes Calmeiro. 

O autor e as suas duas obras mais recentes

sexta-feira, 18 de maio de 2012

EDP - A Crónica das Trevas (22)

Mais um apagão às 6h56. Para usar a lógica dos idiotas da EDP, talvez a electricidade se tenha distraído com o sol claro e o céu azul e se tenha perdido no caminho para os cabos que abastecem esta zona...

quinta-feira, 17 de maio de 2012

Porque não gosto dos CTT (20)

Depois de três dias sem distribuição de correio (segunda, terça e quarta-feira) chegam-me hoje, dia 17, e além de outra correspondência sem data:

- correspondência da Via Verde com data de 30 de Abril;
- correspondência da empresa com a qual tenho contrato de fornecimento de electricidade com data de 7 de Maio;
- correspondência de uma editora com data de 9 de Maio;
- correspondência dos Serviços Municipalizados locais com data de 10 de Maio;
- correspondência bancária com data de 10 de Maio.

Isto só demonstra o óbvio: os CTT sequestram correspondência que vão juntando para depois entregarem toda junta.
Porquê?!

EDP - A Crónica das Trevas (21)

Novo apagão.
Aceitando as "explicações" imbecis da EDP para o seu riquíssimo currículo de apagões nesta região, deverei pensar que a nebulosidade existente deve ter impedido a electricidade de encontrar os postes pelos quais chega a estas casas...

quarta-feira, 16 de maio de 2012

Porque não gosto dos CTT (19)

Eu e os restantes residentes no local onde vivo estamos desde segunda-feira sem receber correio. Há três dias, portanto. O calor deve andar a cansá-los muito...

terça-feira, 15 de maio de 2012

Sessão sobre o "thriller" em Portugal na Biblioteca Municipal de Cascais

Na próxima sexta-feira, dia 18, a partir das 21h30, falarei sobre o "thriller" em Portugal na Biblioteca Municipal de Cascais (São Domingos de Rana) a propósito de "Vermelho da Cor do Sangue" e da série Não Matarás, cujo terceiro título deverá sair no Verão.
A sessão é organizada pelo poeta Jorge Castro, com o apoio da Comunidade de Leitores de Caldas da Rainha.

segunda-feira, 14 de maio de 2012

Para começar, uma questão de notoriedade...

Que tipo de notoriedade merece uma editora que é capaz de atribuir um prémio literário avultadíssimo e que, ao mesmo tempo, não satisfaz os compromissos que assumiu com outros autores e com tradutores a quem a própria editora propôs trabalhos, obrigando-os agora a contrair dívidas para aguentarem o dia-a-dia e, até, para cumprirem as suas obrigações fiscais?

domingo, 13 de maio de 2012

A vida pode ser vivida sem GPS

Fiquei a certa altura sem emprego (não podia ficar desempregado por ser "recibo verde") e fiz pela vida. A minha filha ficou desempregada há uma semana e já tem um projecto pessoal e partilhado.
Se há situações dramáticas e trágicas de desemprego também há as situações em que os afectados procuram sair delas. E saem. Vencendo as dificuldades e aproveitando, ou mesmo criando, as oportunidades.
É nesta perspectiva que encaro o que disse o primeiro-ministro sobre a possibilidade de o desemprego ser uma oportunidade.
E impressiona-me o coro histérico dos chefes partidários da "esquerda" (que de há muito souberam agarrar a oportunidade dourada de ter emprego no parlamento burguês e de onde nunca sairão desempregados) e dos polícias do pensamento, que se lhes juntaram e que nunca se devem ter feito à estrada sem levarem um GPS.

"Crime Sob Investigação", de Alex Frith

... Não, não é a execrável série televisiva "CSI". É um livro bem melhor e muito mais útil e verdadeiro: "Crime Sob Investigação", de Alex Frith, em edição portuguesa da Texto Editora (com tradução feita por mim).



Concebido como obra para jovens e com uma excelente arrumação de texto, imagens e elementos adicionais, este livro serve no entanto para todos os públicos e ajuda a compreender, com simplicidade e rigor, como funciona a investigação policial e forênsica, com um adequado enquadramento científico, histórico e jurídico.
São 96 páginas exaustivas que os adultos também podem ler com proveito.

quinta-feira, 10 de maio de 2012

"A Casa dos Primatas", de Sara Gruen

Não tinha grande predilecção pelos chimpanzés, que sempre me pareceram demasiado irritantes e agressivos, mas mudei de opinião depois de traduzir "A Casa dos Primatas" ("Ape House"), de Sara Gruen, que apresenta ao leitor os primos muito próximos dos chimpanzés que são os bonobos e que têm semelhanças surpreendentes com os seres humanos.


E os bonobos neste caso formam um grupo acarinhado por uma primatologista que é roubado, com violência, para um projecto megalómano de um magnata da comunicação social: um "reality show" com os bonobos que fazem muito do que fazem os seres humanos (compras através do computador) e até bastante mais do que os seres humanos (relações sexuais razoavelmente descontraídas).


Sara Gruen, conhecida também por "Água para Elefantes", junta a estes elementos um jornalista cheio de iniciativa mas vergado às consequências da crise económica com uma mulher que tenta ser escritora e guionista, um divertido grupo de "dançarinas exóticas" russas e mais um leque interessante de personagens, num "thriller" suave e bem-humorado, revelando o extraordinário mundo dos bononos e desferindo, de passagem, uma vergastada bem forte nas várias indústrias que exploram e, na prática, torturam os animais. Em especial os chimpanzés, numa passagem tão pungente que comoverá qualquer pessoa menos sensível.
Divertido, "A Casa dos Primatas" é também um verdadeiro "eye-opener" e vale igualmente por isso (edição Asa).

Em tempo: uma notícia interessante sobre os bonobos e o seu genoma, com fotografia, aqui.

quarta-feira, 9 de maio de 2012

EDP - A Crónica das Trevas (20)

E de repente, às 20h45, a meio do jantar, desaparece a electricidade. Porquê? Não se sabe. É mais um dos mistérios da natureza para essa entidade abominável que faz o favor de nos iluminar e, às vezes, aquecer.

terça-feira, 8 de maio de 2012

Porque não gosto dos CTT (18): correio em regime de menor esforço

Não há respostas da treta e conversas de chacha da própria empresa CTT que me convençam do contrário mas pode ser que a Autoridade Nacional de Comunicações (ANACOM), onde entreguei a respectiva queixa, tenha mais sorte do que eu a confirmar esta minha suspeita: pelo menos no local onde resido, os CTT deixam acumular, durante vários dias e ao nível da estação ou dos carteiros, a correspondência de avença das empresas que não tem data externa de expedição para depois entregarem tudo junto.
Há-de haver uma boa razão para que isso aconteça, defraudando a expectativa dos clientes que somos todos nós e empurrando-os para o "correio azul" ou para o registado, mas não consigo perceber qual seja e, para já, muito racionalmente só me ocorre uma velha maleita nacional: a lei do menor esforço.

sábado, 5 de maio de 2012

Interacção oral

Beijo, conversa, beijo-"linguado", discussão, debate, cunilingus, troca de insultos, cunete, chuchar no dedo ou numa chucha, diálogo, saborear qualquer coisa com alguém, mamar?
Não. "Interacção oral" é uma conversa entre alunos numa aula de língua estrangeira.
A coisa parece ter nascido no Ministério da Educação em algum momento do ano passado e os professores falam nela sem se rirem.
Estamos sempre a aprender.